Por meio do projeto Pais, empreendedora consegue vender R$ 9 mil em hortaliças em seis meses
Há mais de 40 anos em Brasília, a empreendedora Ivone Ribeiro Machado sempre gostou da liberdade. Nascida em Correntes, no Piauí, cresceu no campo, em meio às plantações da fazenda da avó, da qual guarda boas recordações. Ao chegar a Brasília, com 15 anos, estudou, trabalhou e, pouco tempo depois, se casou e teve três filhos. Escolheu morar em Taguatinga com a família, mas faltava alguma coisa: o campo. Então, Ivone e o marido compraram uma chácara e ela decidiu cultivar hortaliças e vender na cidade.
Enquanto levava suas mercadorias para vender nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa), Ivone observava os caminhões que chegavam por lá e se interessava pelo estilo de vida dos caminhoneiros. Era um sonho antigo, adormecido, pois ela nunca havia tido a oportunidade de aprender a dirigir o veículo. Porém, um dia, quando a empreendedora estava na chácara, a esposa do caseiro estava prestes a ter um bebê e não havia ninguém para dirigir o caminhão até o hospital. Para acudir a grávida, ela mesma levou a mulher ao pronto-socorro. Essa experiência era tudo o que Ivone precisava e, a partir desse momento, resolveu que trabalharia com entrega de produtos e fretes em geral.
Passado algum tempo, Ivone se separou do marido e precisou vender a chácara. Ela decidiu abrir um supermercado nessa nova fase de sua vida, mas o negócio durou pouco. Fechou as portas da empresa e voltou a trabalhar com o caminhão, sua verdadeira paixão. “Não consigo ficar presa, nem trabalhar em lugares fechados. Gosto de aventura, sempre fui assim”, explica a empreendedora.
Atualmente, Ivone vive no assentamento Chapadinha, localizado no Lago Oeste, em Sobradinho, há cerca de oito anos, e, como o local foi regularizado há pouco tempo, ainda está no processo de legalização das terras. Há três anos, ela mora em uma chácara com dez hectares. Outras 42 famílias também vivem no assentamento.
Inicialmente, Ivone trabalhava de domingo a terça-feira, realizando entregas de frutas e verduras nas escolas. Nos outros dias, plantava hortaliças em seu terreno para consumo próprio e vendia a produção excedente. Foi assim até 2011, quando decidiu parar de realizar entregas e se dedicar exclusivamente ao projeto Produção Agroecológica Integrada Sustentável (Pais), uma iniciativa promovida pelo Sebrae no DF em parceria com a Fundação Banco do Brasil e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF).
O Pais é uma tecnologia social executada em torno de um sistema de anéis destinados a diferentes tipos de culturas como verduras e legumes. Ao utilizar essa metodologia, o produtor aproveita o centro para a criação de pequenos animais e o esterco é utilizado para adubar a produção. Cada produtor recebe um kit, com caixas-d’água, madeira, telas, sistema de irrigação por gotejamento, entre outros itens, para iniciar a produção. É um procedimento que favorece a agricultura sustentável, sem uso de agrotóxicos, e preserva o meio ambiente.
Ivone conta que, no início, alguns moradores ficaram com receio de participar, pois se tratava de uma iniciativa nova e eles não sabiam se daria certo. Ela preferiu arriscar a ficar com medo. Os sete produtores iniciais, a maioria mulheres, realizaram um mutirão para instalar o Pais nas propriedades e, quando terminaram o primeiro, fizeram um almoço e brincaram que um dia iriam organizar um almoço de comemoração. A brincadeira se tornou realidade e, no fim de 2012, elas ofereceram uma farta refeição aos representantes das entidades de apoio ao projeto, como a Fundação Banco do Brasil e a Emater-DF, comemorando 82 unidades implantadas em todo o Distrito Federal.
A empreendedora começou com cinco anéis para produzir as hortaliças, dois a mais que o indicado inicialmente para o projeto. Até o fim de 2012, já eram 11 e o sonho é crescer ainda mais. “Para mim, não existe terapia melhor que mexer com a terra. Sempre gostei de fazer entrega, conversar com as pessoas e cuidar das plantas e animais”, diz Ivone. Se antes ela recebia aproximadamente R$ 5 mil com as entregas de domingo a terça-feira, no primeiro semestre de 2012, Ivone conseguiu vender R$ 9 mil em hortaliças, cerca de R$ 1,5 mil por mês. A meta, agora, é alcançar R$ 60 mil por ano. A empreendedora participa de diversas feiras e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que possibilita aos agricultores a venda de produtos para o governo federal.
Outra boa novidade para Ivone foi a certificação orgânica de sua produção, obtida este ano, e, agora, a expectativa é alcançar novos nichos de mercado. Em suas terras, ela também planeja plantar uma agrofloresta, com lavoura de cem mudas de frutas e árvores do cerrado, além de 70 plantas de caju.
Quem compartilha a paixão de Ivone pelo campo é o neto Jones, de apenas dez anos. Juntos, eles conheceram o projeto enquanto visitavam a Agrobrasília. Na ocasião, o menino ficou empolgado com as propostas do Pais e pediu à avó que se inscrevesse. A produtora rural conta que, quando recebeu a notícia que foi contemplada, ficou muito feliz, pois a participação no programa significava uma realização dela e do neto. Ivone afirma que não quer voltar para a cidade e pretende morar no campo enquanto estiver viva. “Aqui, tenho paz, sossego e liberdade. Toda vida fui assim, livre! E é assim que pretendo continuar”, finaliza a empreendedora.