Empresário com espírito investidor

A gente pode não se dar conta, mas a visão de mundo que temos impacta muito mais em nossas vidas do que podemos imaginar. Se, porventura, acreditarmos que ficando ricos ganharemos o céu, teremos um tipo de comportamento que levará a determinado resultado. Se acharmos que ficando ricos iremos para o inferno, teremos outro comportamento completamente diferente, que levará a outro resultado. O impacto da visão de mundo vale para indivíduos, para nações e para o mundo da pequena empresa.

Vamos mostrar agora o impacto de diferentes visões de mundo no universo das pequenas e micro empresas. Antes, precisamos perceber, com muita clareza, três personagens que convivem ao mesmo tempo, o tempo todo, na pessoa que tem uma pequena empresa: o investidor, o empreendedor e o empresário.

O investidor é aquele que faz um investimento; é a pessoa física que, na abertura da empresa, tirou o dinheiro do bolso para o empreendimento começar a operar; sua expectativa é o retorno do dinheiro aplicado, multiplicado, o mais rapidamente possível.

O empreendedor é aquele que toca o empreendimento; sua satisfação é a própria materialização da idéia.

O empresário é aquele que administra, que cuida da gestão do negócio; sua responsabilidade é garantir excelentes resultados empresariais: lucro, rentabilidade…

Quando alguém abre uma empresa, estes três personagens devem estar bem vivos e atuantes em sua mente. Entretanto, o que percebo no dia a dia é que se agiganta a figura do empreendedor e ficam sufocados, e completamente esquecidos, os outros dois personagens: o investidor e o empresário.

Comparativamente, na grande empresa, a figura do investidor e seus interesses são representados por meio de um conselho denominado Conselho de Administração (e os investidores são tecnicamente chamados de acionistas); a figura do empresário é equivalente ao Presidente da empresa e a figura do empreendedor é representada pelos empregados (tecnicamente denominados de intraempreendedores).

O Presidente de uma grande empresa é um personagem central. Nele estão depositadas a confiança dos acionistas e também a dos empregados. Dele se espera um norte da empresa, decisões acertadas e liderança das pessoas da organização. Um Presidente bem sucedido garante o retorno do investimento aos investidores, excelentes salários aos empregados e um ótimo lugar para se trabalhar. Quando um Presidente não tem bom desempenho, o Conselho de Administração providencia a sua substituição.

Evidentemente que uma pequena empresa não tem os mesmos recursos que uma grande. Por isso, aquele que ainda não se tornou grande é um “três em um”. É o investidor, o empreendedor e o empresário.

Empresário com “espírito investidor” é aquele que faz o resgate destes dois grandes esquecimentos: a figura de investidor e a de empresário. Porém, o que o caracteriza é que, ao longo do tempo, passa a se identificar cada vez mais com o Presidente e cada vez menos com o empreendedor. Ele, na verdade, aprende a criar um time de craques. Busca identificar e contratar outras pessoas talentosas para fazer sua empresa crescer. Sua mente presta atenção em coisas que o personagem empreendedor não prestaria. Ele, como um Presidente de uma grande organização, está sempre atento às oportunidades de investimento e em tudo aquilo que afeta os resultados de seu time de craques em campo.

Por esta razão, sempre que me refiro a “empresário com espírito investidor”, estou associando à figura mágica do Presidente. E não pense, caro leitor, que estou me referindo somente a grandes investimentos. Mesmo que o indivíduo tenha tirado apenas doze reais do bolso para comprar balas e revendê-las no semáforo, os doze reais representam um capital investido, envolvendo os mesmos riscos, sob o ponto de vista dos conceitos, para alguém que tenha colocado doze mil, cem mil ou um milhão de reais para iniciar um empreendimento.

O “detalhe” de uma ausência de visão de mundo capitalista, ao longo de toda a trajetória da pequena empresa, é que o fundamental papel de investidor fica escondido do próprio empresário e de sua família. Assim sendo, à medida que entra dinheiro no caixa, cada um dos familiares e o próprio empresário lança mão do recurso disponível e vai imediatamente suprir suas necessidades, sejam ela básicas ou supérfluas, como se o dinheiro fosse deles e não da empresa.

Aquele que tem como visão de mundo que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha, que um rico entrar no reino do céu” vai enxergar sua empresa como um instrumento do trabalho e o resultado provável é que vai empreender até morrer e se aposentar pobre. É o que acontece com boa parte daqueles que têm o ‘espírito empreendedor’.

Aquele que tem como visão de mundo que “empresário rico também vai para o céu”, vai enxergar sua empresa como um instrumento do capital, onde foi feito um investimento que tem que retornar, multiplicado, o mais rapidamente possível. O resultado provável é o contínuo crescimento, com lucro, de sua empresa emergente. É o que acontece com os poucos ‘empresários com espírito investidor’.

A escolha, claro, é de cada empreendedor. Não existe visão de mundo boa ou ruim. O que existe, sempre, são conseqüências. Boa sorte.

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