por Raquel Rezende
Nem sempre na vida de um aspirante a empreendedor os negócios começam de forma planejada. Muitos empresários de sucesso hoje nem pensavam em alcançar essa posição em um passado não tão distante. Se eles pudessem avançar no tempo e percebessem o que conseguiram alcançar, muitos não acreditariam.
Uma situação assim inesperada aconteceu com o empreendedor Tom Ricetti. Em um dia qualquer de um fim de ano, na cidade de São Carlos (SP), ele teve de ir à padaria comprar pão e se deparou com filas gigantes. Quando teve a ideia de ir a um supermercado comprar o item, o problema já começou para estacionar. Depois de conseguir a vaga, entrou no supermercado e se deu conta de que não poderia mesmo fugir de quilométricas filas para, simplesmente, comprar pão. E nessa crise doméstica existencial, Ricetti se questionou sobre o porquê de não existir um drive-thru para vender pão. E, assim, surgiu a ideia de criar a PãoToGo, franquia de venda de produtos de padaria pelo sistema drive-thru. Em pouco mais de sete meses, a marca desenvolvida por Ricetti comercializou 58 lojas em 41 cidades. “Depois de esperar mais de uma hora para comprar pão, quando voltei meu cachorro, que estava esperando no carro, tinha feito xixi por tudo. Foi aí que meu questionamento aumentou e fui pesquisar sobre como colocar um drive-thru de pão e produtos de padaria”, lembra Ricetti.
Ricetti conta que, em suas pesquisas, chegou à conclusão de que não existia drive-thru de padaria porque até bem pouco tempo atrás era inviável pelo fato de não existir fornecimento de frios fatiados e embalados, pães congelados e outras facilidades. “Mas hoje em dia, é perfeitamente possível. E me atrevo a dizer que necessário”, enfatiza. A empresa, que completa agora nove meses de existência, contou com recursos próprios e com parcerias de grandes fornecedores, esquecidos pelas padarias tradicionais, para ser concretizada. “Realizamos parcerias com grandes empresas do setor, e conseguimos isso, porque as padarias tradicionais estavam dando pouca atenção para esses fornecedores. Hoje, o negócio dessas padarias é vender produtos com maior valor agregado, como sanduíches, doces, almoços, revistas, adega e deixaram os produtos realmente de padaria em segundo plano”, observa Ricetti.
Outro aspecto apontado pelo empreendedor como decisivo para o sucesso da PãoToGo foi justamente o que ele identificou como o problema a ser resolvido pela sua marca: o fato dos clientes não perderem tempo comprando pão. Ricetti argumenta que o tempo hoje é um dos bens mais preciosos que temos e, por isso, precisamos usá-lo da melhor forma. “E certamente a melhor forma não é ficar em filas”, afirma. Hoje, a PãoToGo oferece aproximadamente 30 produtos de padaria e pretende agregar mais, atingindo 80 opções. “Desde que não aumente nosso tempo de atendimento, que é nosso grande diferencial”, destaca Ricetti. A marca atende, em média, dois carros por minuto nos horários de pico. Para isso, prepara fornadas para sair a cada 7,5 minutos, com a intenção de vender sempre pães quentes. “O consumidor tem se identificado muito com a operação, tanto é que já estamos com 58 lojas comercializadas em 41 cidades”, comemora. Entre as lojas, algumas já estão instaladas em cidades norte-americanas, como Miami e Los Angeles. E, em processo de negociação com interessados na Argentina e no Chile.
Para Ricetti, a procura para adquirir a franquia da PãoToGo é alta, devido, primeiramente, ao valor, que é considerado reduzido para esse tipo de franquia: R$ 150 mil a loja pronta. O espaço exigido é reduzido também: a partir de 200 metros quadrados. Além disso, dispensa mão de obra especializada e comercializa produtos de reconhecimento nacional, consumidos por 90% da população diariamente. A PãoToGo também disponibiliza para os franqueados a comercialização de publicidade nos sacos de pão. “Isso é também um excelente negócio, tanto que já existem por volta de 10 franquias desse ramo no Brasil e custam por volta de R$ 50 mil. E nosso franqueado recebe isso como um bônus”, acrescenta Ricetti.
Apesar de Ricetti considerar que o seu instinto para empreender veio de berço, quando teve que assumir os negócios da família aos 17 anos, ele diz que não escolheu esse ramo, nem o negócio em si, ele acredita que apenas identificou a oportunidade e correu atrás dela. “O empreendedor é um criativo, teimoso que não apenas tem uma ideia, vê uma inovação ou pensa em novos negócios, mas é aquele que também rala para pôr isso tudo em prática”, diz. O lado ruim de empreender, segundo ele, é a burocracia e os impostos pagos no Brasil. “Demoramos mais para obter licenças de construção e de funcionamento do que a obra da loja”, afirma. Já o lado bom de empreender é poder facilitar a vida das pessoas e fazer coisas por um bem maior. “Empreenda por prazer, empreenda por algo maior que o dinheiro. Se for apenas pelo lucro, certamente você vai desistir, pois o caminho é árduo. Mas é também apenas o meio, e o fim sempre justifica os meios, mesmo que nesse meio falem que você é louco e que nunca vai dar certo. Acredite contra tudo e contra todos e siga em frente”, incentiva Ricetti.
Outro empreendedor que realmente seguiu em frente após ter sofrido um assalto que o levou a mudar de vida completamente foi o fundador do Cebrac (Centro Brasileiro de Cursos), Wilson Giustino. Ele vem de uma família de joalheiros e trabalhou no ramo dos 18 aos 22 anos, mas por conta de um assalto planejado por uma quadrilha, à mão armada, na fábrica da família, Giustino decidiu mudar de rumo. Na época, década de 1980, o roubo causou à família dele um prejuízo de cerca de R$ 1 milhão em peças de ouro. As joias provavelmente foram derretidas, dificultando o rastreamento dos produtos. Com a fábrica fechada e endividado, Giustino aceitou uma oportunidade de trabalho como vendedor de cursos de informática. E foi por causa desse emprego que o Cebrac surgiu. Hoje, a rede de franquias tem 121 lojas abertas no País e fatura R$ 115 milhões.
Giustino relata que foi muito difícil passar de empresário a vendedor de cursos. “No início, foi muito cansativo, pois trabalhava na rua visitando escolas públicas e empresas para divulgar os cursos. Confesso que quase desisti, mas precisava trabalhar”, relembra. Mas, depois de uns dias trabalhando nesta nova função, Giustino percebeu que o ramo era muito promissor e que poderia ter grandes oportunidades e crescer neste novo mercado. Depois de um ano, a ideia de criar uma escola de informática surgiu devido à grande demanda de alunos interessados em fazer cursos. “Neste momento, pensei: por que não ter a minha própria escola? Foi quando juntei minhas economias e montei a minha primeira escola”, conta.
No período entre 1995 a 2003, Giustino trabalhou com sistema de licenciamento do Cebrac e chegou a 42 unidades neste modelo. Em 2004, ele decidiu profissionalizar a empresa e, para isso, entrou no modelo de franchising. Em 2006, associou-se à Associação Brasileira de Franchising (ABF) e, desde então, o Cebrac já recebeu seis prêmios consecutivos de excelência pela ABF. Atualmente, a marca tem 143 unidades e atende 50 mil alunos espalhados por todo Brasil. Porém, antes de atingir esse êxito, Giustino comenta que a empresa passou por momentos bem delicados, especialmente os anos de Plano Collor e Bresser. “Nestas épocas, além da população ter sua poupança confiscada, sofremos com a correção das mensalidades. Por conta do plano econômico do governo, as mensalidades começavam com um valor, que ia decaindo com o passar do tempo. Neste cenário, oito escolas nossas ficaram sem capital de giro e eu tive de me desfazer de bens, como carro e imóvel pela metade do preço, para sustentar a marca e reerguê-la”, relata. Outro momento difícil foi o início da operação de franquia, pois precisava profissionalizar o negócio como um todo e já tinha 42 unidades em funcionamento.
Após vencer as adversidades e firmar a marca no mercado, Giustino começou a observar que o Cebrac, chamado Centro Brasileiro de Computação, com foco nos cursos de informática, não teria tantos alunos no futuro e que esse segmento ficaria saturado. Diante disso, direcionou o foco de trabalho da empresa, oferecendo os primeiros cursos de contabilidade e de secretariado informatizados do País. “Fui o pioneiro dos hoje tão populares cursos de capacitação”, destaca. Para o futuro, Giustino planeja expandir o Cebrac para 500 unidades nos próximos cinco anos. “Quero me manter como referência neste segmento que ajudei a criar”, finaliza.
No ramo de estética e beleza, outra franquia que também pretende inaugurar 500 unidades nos próximos cinco anos e que nasceu de um trabalho de conclusão de curso da faculdade é a Pró-Corpo Estética. Durante o curso de administração, a fundadora da marca, Marisa Peraro, já pensava em abrir seu próprio negócio. E foi no momento de elaborar o trabalho de conclusão de curso (TCC) que percebeu que havia uma grande oportunidade de tirar a ideia do papel e torná-la realidade. Em função disso, empenhou-se para buscar informações de mercado, avaliar as oportunidades, os desafios, a concorrência e o possível crescimento do setor no Brasil. Em 2006, conseguiu abrir a Pró-Corpo Estética com R$ 17 mil de investimento inicial e apenas três funcionários. “No início, eu tinha uma estrutura bem diferente da que alcancei nos dias de hoje, pois foi um investimento para começar a funcionar. Mas, no primeiro mês, a empresa já faturou R$ 42 mil, provando que eu estava no caminho certo”, afirma Marisa. Hoje, a Pró-Corpo Estética tem 300 colaboradores, entre eles dermatologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, esteticistas, entre outros profissionais dedicados aos tratamentos de beleza. Atualmente, o faturamento da empresa passou a ser de R$ 2 milhões por mês considerando todas as lojas da rede.
Para a marca atingir esse patamar, Marisa relata que foi com muito trabalho. “Unir todas as informações não é uma tarefa simples, entretanto, a fase de planejamento e estruturação foi muito empolgante para mim”, lembra. Ela acrescenta que se empolgava com a possibilidade de abrir o negócio toda vez que pensava que sairia da faculdade com a chance de ter a sua própria empresa. “É uma satisfação profissional sem tamanho, mas também pessoal, pois lidar com o setor de beleza era um desejo antigo”, revela.
A decisão de Marisa por expandir utilizando o modelo de franchising surgiu de uma avaliação do mercado em que o setor de beleza tinha muito espaço para crescer. “Percebi que essa era a maneira de avançar de forma rápida e sustentável”, destaca. Pois, segundo ela, a empresa já tinha uma estrutura funcionando bem, com serviços e profissionais de qualidade e somente precisava formatar o negócio para o modelo de franquias. Desde que aderiu ao franchising, a marca teve resultados significativos. “Contamos com algumas estratégias para alcançar os resultados positivos, e uma delas é o fato de termos uma rede de contatos bem organizada e dividida por região, permitindo compartilhar clientes com os franqueados, que contará com a unidade sempre cheia”, explica. Por causa disso, de acordo com Marisa, a empresa investe em treinamento para que o cliente possa se sentir bem em qualquer unidade da rede. E, pelo jeito, a Pró-Corpo Estética sabe como fazer isso, pois são cerca de 4 mil novos clientes, considerando toda a rede própria de lojas. O público feminino, independente da classe social, representa a maioria da clientela da marca, mas Marisa observa que os homens também estão cada vez mais adeptos aos tratamentos estéticos.
Na avaliação de Marisa, desde que a Pró-Corpo Estética começou a funcionar, o mercado de estética e beleza esteve em pleno crescimento e isso colaborou para que a empresa nunca tenha enfrentado uma crise. “Anualmente, o setor cresce na ordem de 20%, inclusive foi com base neste bom momento que investimos no modelo de franquias para expandir”, diz. Apesar da boa perspectiva do segmento, ela sabe que para se manter em constante crescimento precisa se dedicar a três principais aspectos da empresa que, segundo ela acredita, são: inovação, qualidade e atendimento. “Já pensando nisso, queremos lançar uma linha própria de cosméticos.”