O tempo passou, mas a juventude ainda mora em mim. Ela se expressa como um estado de espírito, no qual prevalecem a curiosidade, a vontade de inovar e a vocação empreendedora. Por isso, gosto de me comunicar com outros jovens, especialmente aqueles que ainda não colecionam muitos aniversários. Em palestras, conferências e reuniões de trabalho, costumo lançar a seguinte indagação aos mais talentosos:
– Vocês têm habilidades, conhecimentos e vivem num país que hoje apresenta muitas oportunidades. E, então, querem empreender?
Surpreendentemente, a maioria se assusta com a pergunta e, de pronto, rejeita essa possibilidade. Recentemente descobri o porquê. Muitos desses estudantes ou profissionais em início de carreira não têm clara ciência do significado da palavra “empreender”. Nessas ocasiões, costumo expor o conceito: “Empreender é transformar matérias-primas e ideias, gerando assim desejo de consumo, tanto de produtos como de pessoas”.
Todas as pessoas de sucesso empreendem. Pode ser na empresa “Eu e eu mesmo”, na “Eu Ltda” ou na “Eu S/A”. De alguma forma, somos todos “companhias”, somos todos empreendedores de nossas vidas. Se ganhamos a vida com o trabalho, vendemos sempre um produto ou um serviço.
Uma empresa consolidada nada mais faz do que comprar nossas qualidades individuais, combiná-las com a de outros profissionais e vender o produto resultante de nosso esforço. Por isso, hoje é tão difundido o conceito de “empreendedor corporativo”, aquele que planeja, cria, inova e valoriza dentro de uma companhia que não é necessariamente a sua.
Empreender, hoje, é algo que vai além da constituição de uma organização com fins lucrativos. Empreende quem imagina, estrutura ou lidera uma ação social, e também aquele que reúne esforços e recursos para defender o meio ambiente.
Nessas conversas com os jovens, sigo minha explanação tratando de questões associadas à definição do produto, como qualidade de fabricação, embalagem, posicionamento no mercado, comunicação, distribuição, exposição, preço e promoção. Em seguida, mostro que essas questões são invariavelmente aplicadas à construção do sucesso profissional. Precisamos dessa “qualidade de fabricação”, expressa no caráter, na educação e nas habilidades específicas.
Precisamos nos “embalar” nas peças de vestuário apropriadas a cada situação e atividade. O indivíduo precisa também valorizar sua marca, posicionar-se no mercado, comunicar-se, oferecer seus préstimos para o cliente-empregador apropriado, cobrar o que for adequado e promover seus diferenciais. Credibilidade, entrega real, pontualidade, excelência: tudo isso vale para empresas e também para pessoas.
Nesses momentos, percebo que as plateias começam a se agitar. Noto o impacto da revelação. Ao fim das palestras, muitos manifestam uma mudança de opinião.
Mas por que o conceito de empreendedorismo ainda é tão pouco conhecido? Ora, porque até recentemente muitos pais treinavam seus filhos para serem empregados dos outros, para receberem ordens, para não se exporem ao risco representado pelo novo. Essa cultura tem muito a ver com o Brasil antigo, muito influenciado pela ideia de segurança, especialmente aquela representada pelo serviço público.
Portanto, se você é pai ou se você é mãe, preste atenção às mudanças no cenário laboral. Ensine seu filho a cooperar e colaborar, mas também a buscar o novo, a produzir o que ninguém ainda produz.
Para começar, foque na exigência de ser e não na exigência de ter. Das pessoas, compramos principalmente o que elas são, e não o que elas têm. Esse é o caminho para que seu filho conquiste a verdadeira independência e possa enfrentar os duros desafios da vida.
É possível que ele se machuque pelo caminho, que rale os joelhos e arranhe os cotovelos. Mas não é assim que aprendemos a andar sozinhos? Dê-lhe valores, afetos e confiança para que seja capaz de fazer mais do que você mesmo fez. Ensine-o a ser, pois ser é ter, e não o contrário. Só quem sabe ser pode mudar o mundo, pode empreender.