Assustada, pula da cama. São quase sete horas e ela precisa enfrentar o trânsito para chegar pontualmente à reunião das oito. Dormiu inquieta, cheia de sobressaltos nessa noite que parecia sem fim! Um sono leve pela manhã quase faz com que perca a hora do compromisso! Longe de ser reparador, acelera a ansiedade tão logo abre os olhos. Como zumbi, prepara-se para o desjejum. O café é suficiente apenas para mantê-la desperta. Dá uma rápida conferida no jornal, constatando que – como sempre – são alarmantes: desemprego em alta, aumento dos juros, redução do crédito, aumento da inadimplência. A única coisa que parece ter um crescimento sustentado é a criminalidade.
Felizmente, embora tenha enfrentado mais de um congestionamento, faz o trajeto a tempo. Durante a reunião, porém, ela está ausente. Não consegue se empolgar com nenhuma das novas metas a atingir. Afinal, o que muda? Tudo igual, salvo as cifras ampliadas e, como de costume, exorbitantes para a realidade. Nenhuma novidade, porque a tendência do quesito é sempre essa. O gerente, implacável, só faz cobrar resultados. E a tradução exata da empresa se resume à dupla imutável: metas e resultados.
Cortar custos, gerar caixa, pagar contas, suspender investimentos, apertar os cintos… Todas as atenções estão voltadas à sobrevivência. É isso que ela e os seus colegas almejam e conseguem há vários anos.
Nos dias melhores, a vontade é de arregaçar as mangas, lutar contra os concorrentes e desafiar os clientes irredutíveis. Hoje, porém, seu sentimento é outro. A vontade é de fugir, esconder a cabeça embaixo da terra como uma avestruz ou se embrenhar na própria casca como um tatu ou uma tartaruga.
Afinal, são muitas as ameaças e os inimigos: os superiores, os clientes, os concorrentes, os colegas de trabalho. O que fazer? Todo o santo dia é uma bordoada, uma nova decepção ou uma velha frustração. Como é difícil ser compreendida! Ela se sente prejudicada, refém do poder e das decisões alheias.
Presa nesses dilemas e constante vitimes, ela não consegue evoluir no trabalho. Está sempre assoberbada com uma interminável lista de coisas para fazer. Sente-se de mãos atadas. Não consegue sair do círculo vicioso em que se meteu. As disfunções da vida profissional já invadiram também a vida pessoal.
Sente-se metida em um buraco e parece que só consegue juntar forças para, nos movimentos sempre iguais que faz, torná-lo ainda mais fundo.
Os dias não passam de uma triste rotina de esforços em vão, lutas inglórias e resultados pífios.
O que fazer?
Outra perspectiva
Ele salta da cama animado. Depois de um gostoso espreguiçar, faz a sua oração, a higiene matinal e está pronto para a sua mais importante refeição do dia. Senta-se à mesa sem pressa, antecipando os sabores que o aguardam. Enquanto degusta o desjejum, pensa no que o espera logo mais. Não vê a hora de chegar à empresa. Afinal, hoje é o grande dia. Todos estarão reunidos para, juntos, construir o futuro.
Ele está preparado. Estudou as principais tendências de mercado. Sabe, por exemplo, que a expectativa de vida aumentou em 30 anos no século passado, o que representa uma parcela adicional de tempo para cada cidadão em boas condições de saúde. A informação abre novas janelas de oportunidade para negócios e empreendimentos ligados não apenas à saúde, mas também para outros segmentos, como a estética, a educação, o turismo, o lazer e o que mais a mente for capaz de imaginar.
Se a indústria do antienvelhecimento continuar a crescer, é bem possível que, no outro extremo, as crianças queiram aprender mais ainda do que hoje existe à sua disposição e, quem sabe, até mais cedo do que o habitual. Entre as alternativas, na certa se encontram as aulas de idiomas asiáticos, de tecnologia da informação, de canto, de tênis, de vôlei, de meditação, de musculação etc. Nunca houve tantas áreas a desbravar na história dos negócios!
Ele aprendeu também que as pessoas continuam se organizando em tribos, mas agora não se limitam aos campos tradicionais, como a religião, o grau de parentesco, a cultura regional. Agrupam-se ao redor de conceitos, marcas ou valores, a exemplo dos fãs da Harley-Davidson, da turma do surfware, dos veganos ou dos ativistas da ecologia. O leque de oportunidades se abre mais e mais!
O mundo, para ele, é um lugar recreativo e cheio de caminhos a desvendar! Do jeito que ele encara tudo, parece que vive em uma realidade sem defeitos. Longe disso! Ele não ignora problemas ou dificuldades. Sabe que existem e de todos os tamanhos. Alguns até são bem graves. É sabido que a distância entre ricos e pobres se acentuou nas últimas décadas. E isso não é bom. As guerras continuam. São travadas, naquele momento em que ele se dirige ao trabalho, nada menos de 12 simultâneas, em diferentes e distantes lugares. Mais próxima e sempre ameaçadora, persiste as epidemias como risco real, entre outros males.
A questão, no caso dele, é: como podemos ajudar?
Para cada estímulo, uma reação.
Há quem viva como ela, a criatura, vítima de si. Para continuar inocente, evita a responsabilidade. Tudo tem um preço e o preço da inocência é a impotência, que se impõe quando alguém não é dono de seus próprios objetivos, sonhos e agenda. Só existe para atender a anseios e expectativas alheias. Então, a vida das criaturas está à deriva.
Para ele, o criador, não existe o estímulo e a reação. O que ele tem diante de si é a informação e a resposta que for capaz de lhe oferecer. Entre a informação e a resposta, há um espaço. É nesse espaço que repousa a liberdade e o poder de escolha do criador, autor de sua própria vida. E quando ele formula a resposta é nela que reside o seu crescimento e a sua felicidade, bem como sua indelegável responsabilidade.
Enquanto a criatura reage aos seus medos e instintos, o criador age orientado por sua consciência e seu poder de escolha.
Ele e ela habitam em cada um de nós. Quem irá nos governar? Precisamos escolher: somos vela ou somos barco. Temos, sim, a capacidade de decidir – construindo o desejado em nosso interior – o mundo em que queremos viver.