Desde muito cedo tive a oportunidade de sentir o brilho dos holofotes e, na verdade, eu buscava isso.
Fiz faculdade de Sistemas de Informação porque era um “mix” de Ciência da Computação (que é super nerds) e Administração. Fiz porque achava que seria como se fosse o Bill Gates brasileiro.
Ainda durante a faculdade, trabalhei numa multinacional numa função pouco conhecida na época aqui no Brasil, a figura de Software Quality Assurance. Tive grande desenvolvimento nessa empresa, fui reconhecido pela Diretora dos EUA, a competente Carmen Lux, por excelência no meu trabalho desenvolvido gerenciando equipes na Índia.
Assim que saí dessa multinacional, inspirado por um grande amigo meu, o Bruno Ghisi, comecei a escrever um blog sobre qualidade e testes de software e, em poucos meses, já figurava entre os blogs mais lidos e conceituados sobre este tema no Brasil. Este status me rendeu algumas palestras, workshops e consultoria com grandes empresas Brasil afora.
Essa posição foi o que eu precisava para abrir minha própria empresa aos 24 anos, uma fábrica de software cujo principal serviço era desenvolver sistemas sob demanda para empresas maiores. Nessa mesma época, o mercado estava aquecido e diversas outras “fabriquetas de software” (assim como a nossa na época) tinham aberto suas portas buscando uma fatia desse mercado.
A questão é que, por um motivo ou outro, somente a nossa deslanchou dentre todas as concorrentes. Nessa época, fiz coisas que, embora não fossem ilegais, poderia considerar imorais – e não me arrependo disso (você já vai entender o motivo).
Lembro até hoje quando fechei meu primeiro contrato grandioso, aos 25 anos lidando com múltiplos seis dígitos que era “too much” para mim. Lembro até hoje da comemoração que fiz com meus sócios onde a gente vibrava “já somos MEIO milionários!”.
Muita coisa que aconteceu comigo nessa época era “too much” para mim. Perdi muito dinheiro por não saber lidar com tal volume. Da mesma forma que entrou toda essa quantia no caixa da minha empresa, sumiu mais de R$ 200 mil por má gestão poucos meses depois.
Nessa época, meus colegas estavam saindo da faculdade (e alguns entrando) e eu estava viajando o Brasil todo para fazer negócios com gestores de grandes empresas. Tive que deixar a barba crescer para que a “cara de menino” não atrapalhasse minhas negociações milionárias.
Lembro até hoje da minha avó dizendo: “e eu que achei que ias ser a ovelha negra da família, até que tais bem, né?”
Embora tivesse todos esses holofotes em cima de mim, o que acontecia no dia a dia pouco se assemelhava com o sucesso. Afinal, eu era a cara da empresa. Trabalhava horas, horas e mais horas para conseguir pagar uma folha salarial que eu nem sabia como tinha chegado a tal marca.
Tudo parecia tão normal para mim. Tinha que lidar com os altos e baixos da entrada de projetos de uma empresa de serviços e isso sugava a minha alma e as reservas financeiras da empresa a cada vez que ficava duas ou três semanas estagnado entre um projeto e outro.
Até que um dia a minha única opção era vender projetos para o Estado, único cliente que me daria um pouco mais de tranquilidade devido ao fato dos projetos serem mais a longo prazo.
Só que eu não imaginava o que estava me esperando. Tive a infelicidade de experimentar o lado mais podre do ser humano: poder, sucesso e dinheiro. Com toda essa exposição e sendo “a cara do sucesso”, comecei a chamar muita atenção.
Negociando com órgãos do Estado, parecia normal ouvir coisas do tipo: “vou aprovar seu projeto de 1 milhão mas não esquece de colocar os 80 mil na minha conta” ou “conheço um deputado gente boa no interior do PR que pode te colocar num projeto grande” ou até “você pode tomar a decisão que quiser aqui dentro, mas não esquece que sou eu quem dá a palavra final em todos os projetos, hein?”
Podre, podre, podre, só que tentador. Esse tipo de negociação me daria paz no coração por um lado e, por outro lado, a hora que eu me tocasse disso, não dormiria mais. A questão é que, na época, parecia o caminho comum a seguir. O que empresas levaram anos e anos para conquistar nós construímos em apenas dois ou três anos.
Eu e meus sócios conversávamos coisas do tipo: “pô, pensa na trabalheira que é ficar colocando um novo projetão a cada cinco ou seis meses? Fechando esses negócios a empresa paga suas contas durante, pelo menos, dois anos”.
Sim, era tentador. Ainda mais que eu que deixava de dormir enlouquecido atrás de projetos porque tinha aos 26 anos que pagar uma folha salarial superior a 70 mil reais por mês. Para alguns pode parecer pouco dinheiro, mas para mim na época (e com pouca experiência em negócios) era demais.
Nesse mesmo período, uma pessoa da minha confiança e muito próxima conseguiu a proeza de dar um calote milionário em vários bancos, ao mesmo tempo. Estimo que algo em torno de dois a três milhões, ou seja, toda essa tentação estava acontecendo a minha volta. Era muita cifra. E tinha tudo para dar errado.
Você pode imaginar o que um jovem de 25-26 anos fazia com esse dinheiro e status? Tinha um estilo de vida extravagante. Parecia ter muito mais do que realmente tinha. Lembro que inclusive um amigo do meu pai, que me viu crescer, me ofereceu um negócio totalmente ilegal e eu quase caí nisso.
Quase caí não por questões de caráter ou coisa parecida, mas porque parecia um caminho natural. Quando você está metido no meio disso tudo, essas coisas que hoje parecem absurdas para mim, na época eram comuns. E pior, não parecia ter outra opção diferente disso.
Por um milagre divino, tive uma desavença com um dos meus sócios e, nessa época, vendi minha parte da empresa. Hoje eu agradeço ter saído daquele furacão exatamente naquela fase. Mas o que aconteceu foi muito doloroso para mim.
Embora pareça glamuroso “ter vendido minha parte na empresa”, esse processo me deixou sem chão e nessa época busquei uma oportunidade no Marketing Multinível. Embora, mais uma vez, não tenha ganho dinheiro, tive a oportunidade de ter um aprendizado e um desenvolvimento pessoal fora do comum.
Conheci modelos de negócios disruptivos e inovadores, completamente diferente de tudo que já tinha experimentado até então. Foi uma oportunidade única na minha vida e que agradeço muito, só que não aproveitei da mesma forma. Além do “baque” de sair da minha primeira empresa, meu pai faleceu na mesma época. Daí não tive estrutura psicológica para triunfar no MMN.
Por este motivo, logo em seguida montei uma startup chamada Saída VIP. Era um aplicativo de pagamento de comanda pelo celular, totalmente disruptivo e até um pouco avançado para a época. Já em 2012, comecei a trabalhar duro por essa startup e mergulhei nesse universo.
Poucos meses depois já tinha ganho diversos prêmios como Pequenas Empresas e Grandes Negócios, Microsoft, Sinapse da Inovação e tudo mais. Era chamado para dar palestra em diversos lugares e estava, mais uma vez, sob a luz dos holofotes. Ouvia coisas do tipo: “nossa, você vai ficar milionário com essa ideia!” era uma mistura de esperança com inveja, um sentimento muito louco.
Provavelmente ainda não tinha estrutura emocional suficiente para brilhar, e mais uma vez fechei essa empresa depois de investir alguns milhares de reais e mais de dois anos da minha vida. Mais um fracasso para a lista.
Embora eu levantasse a cabeça e fosse para o próximo projeto, dava uma dor no coração olhar para trás e ver seus colegas fazendo viagens internacionais, comprando carros importados, investindo em imóveis e tudo mais…
Eu queria muito ser empresário, mas tudo parecia jogar contra. Até minha mãe vinha para mim com frequência (e com a melhor das intenções): “meu filho, por que você não faz um concurso público? És tão inteligente…”
Ela sabia que eu estava despedaçado por dentro, mãe sempre sabe. Ela queria me proteger, acho que de mim mesmo. Todo brilhantismo aparente que eu apresentava naquela época era só a necessidade de ser reconhecido por algo que eu acreditava ser o melhor para mim. Só que o brilho desses holofotes ofuscavam minha visão. Estava mais preocupado em ter reconhecimento do que sucesso.
Sucesso para uns é uma coisa, para outros, é outra. Sucesso hoje para mim é ter tranquilidade e liberdade. Sucesso para mim é ter as contas pagas e seu padrão de vida sustentado, sem extravagâncias, sem brilho, sem plumas e paetês. Sucesso é crescer e ver tudo a sua volta crescer junto, pessoalmente, profissionalmente e financeiramente. Sucesso é inspirar os outros.
Já experimentei muitas faces do sucesso. Sucesso dos outros. Hoje eu vivo o meu sucesso.
Tenho uma empresa que só cresce, gera valor para a sociedade, para meus brilhantes funcionários, meus clientes, para os sócios e para nossa audiência nas mídias sociais. Tenho uma família linda que me enche de amor. Tenho amigos verdadeiros. Moro num apartamento incrível, com uma vista maravilhosa e com o cantar dos pássaros ao amanhecer. Tenho uma esposa que me ama e cresce a cada dia junto comigo. Tenho uma filha saudável que diariamente encho de amor. Isso sim para mim é sucesso.
Eu sou um sucesso. Obrigado.