Faturamento das PMEs avança 9,4% no terceiro trimestre

Crescimento da massa de renda das famílias e avanço da confiança do consumidor sustentam o desempenho do mercado de PMEs neste ano

O Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs) indica que a movimentação financeira real média das pequenas e médias empresas (PMEs) brasileiras apresentou crescimento de 9,4% no terceiro trimestre de 2023 na comparação anual, após +6% no segundo trimestre. No acumulado do ano até setembro, o índice registra crescimento de 5,1% frente ao mesmo período do ano anterior.

O IODE-PMEs funciona como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$50 milhões anuais, consistindo no monitoramento de 678 atividades econômicas que compõem quatro grandes setores: Comércio, Indústria, Infraestrutura e Serviços.

Após perda de fôlego entre o final de 2022 e o início de 2023, o mercado de PMEs mostrou recuperação a partir do final do primeiro trimestre e se intensificou nos últimos meses. “Se, por um lado, o ambiente de negócios seguiu afetado pela manutenção das taxas de juros em níveis historicamente elevados – que dificultam o acesso ao crédito –, por outro, a resiliência no mercado de trabalho doméstico (com desemprego abaixo do patamar de 8%) e diversas medidas de política econômica (como a ampliação do Bolsa Família e a valorização real do salário mínimo) culminaram na ampliação da massa de renda das famílias brasileiras, beneficiando a evolução do consumo e, consequentemente, dinamizando a demanda doméstica”, afirma Felipe Beraldi, economista e gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie. O especialista explica que tal movimento também tem o maior controle da inflação doméstica como pano de fundo, considerando os efeitos sobre o poder de compra das famílias brasileiras.

Neste sentido, os dados do IODE-PMEs dos últimos meses corroboram com a melhora das perspectivas para o PIB brasileiro no curto prazo. Segundo o Boletim Focus do BCB, a mediana das perspectivas de mercado para o PIB de 2023 se aproxima do patamar de +3% nas últimas semanas, tendo iniciado o ano em cerca de +1%.

Com base neste contexto positivo, a confiança dos consumidores mantém tendência de alta nos últimos meses, sendo um condicionante para o desempenho do mercado de PMEs no curto prazo. “O índice de confiança do consumidor da FGV (ICC-FGV) atingiu em setembro patamar alinhado ao visto no início de 2014 – antes da recessão econômica iniciada naquele ano -, refletindo especialmente a melhora da percepção das condições atuais das finanças familiares”, diz Beraldi.

O crescimento do setor no terceiro trimestre de 2023 foi condicionado pelo avanço da movimentação financeira real na Indústria (+18,7%) e em Serviços (+9,1%), ante o terceiro trimestre de 2022.

As PMEs da Indústria engataram uma trajetória mais robusta de recuperação a partir do segundo trimestre, após os anos desafiadores de 2021 e 2022, reflexo da recuperação da demanda doméstica e da redução da pressão de custos. Neste sentido, parte da recuperação do faturamento da Indústria reflete a perda do ímpeto da inflação ao produtor (IPA-FGV), que registra queda de 8,8% nos últimos 12 meses.

No setor industrial, as atividades que se destacaram no terceiro trimestre foram ‘Fabricação de autopeças e implementos rodoviários’, ‘Fabricação de Produtos Alimentícios’, ‘Confecção de artigos do vestuário e acessórios’ e ‘Fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos’.

O índice indica que as PMEs de Serviços também apresentaram resultados positivos , após avançar também no segundo trimestre (+5,5 % YoY). Segundo Beraldi, a recuperação do setor, inclusive, vem contribuindo para os resultados no mercado de trabalho, uma vez que a maior parte das novas vagas no mercado formal tem sido preenchida por posições no segmento nos últimos meses. O avanço foi atribuído para ‘Serviços financeiros’, ‘Educação’ e ‘Atividades administrativas e serviços complementares’. No ano como um todo, houve destaque para ‘Atividades profissionais, científicas e técnicas’ (que englobam, por exemplo, ‘Atividades jurídicas, de contabilidade e de auditoria’) e ‘Alojamento e Alimentação’.

Já no Comércio, o IODE-PMEs mostra retração de 7% ante o terceiro trimestre de 2022. No setor, a queda foi disseminada nas atividades atacadistas (-4,9% YoY) e no varejo (-5,6%).

No atacado, apesar da queda em bases anuais, o desempenho do segmento já apresenta alguma recuperação na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No varejo, por sua vez, o fraco resultado dos últimos meses foi puxado pela retração das PMEs de segmentos como ‘Equipamentos para escritório’, ‘Tintas e materiais para pintura’ e ‘Calçados’. Por outro lado, a evolução positiva em segmentos altamente dependentes da evolução da renda das famílias – tais como produtos alimentícios e bebidas – vem restringindo uma queda mais abrupta das PMEs do comércio varejista nos últimos meses.

O segmento de Infraestrutura também demonstrou queda no terceiro trimestre (-2,4%). A retração foi condicionada pelo fraco desempenho das atividades de ‘Obras de Infraestrutura’ e ‘Água e esgoto’. Por outro lado, houve avanço em ‘Construção’, mais especificamente nas PMEs de ‘Serviços especializados para construção’, que englobam desde obras de fundação até serviços de acabamento em obras imobiliárias.

Na divisão por região, o IODE-PMEs mostrou que o crescimento do setor foi disseminado por todo o Brasil: Sudeste (+9,8%), Sul (+5,7%), Nordeste (+9,8%), Centro-Oeste (+17,0%) e Norte (+21,3%) – este último sobre uma base de comparação significativamente fraca do ano anterior.

Mercado de PMEs deve manter crescimento acima do PIB em 2024

O IODE-PMEs mostra que a recuperação do mercado de pequenas e médias empresas no país é um dos fatores por trás do crescimento da economia doméstica.Em linhas gerais, a evolução da renda das famílias, combinado com o maior controle inflacionário (especialmente sobre bens essenciais – como alimentos), são os principais fatores por trás do maior dinamismo visto no mercado de PMEs. “Neste sentido, mesmo no Comércio, em que observamos retrações nos últimos meses, alguns segmentos altamente dependentes da renda contrastam com a média geral (como o varejo de alimentos e bebidas) mostrando desempenho positivo”, afirma Beraldi.

Considerando os resultados acima do esperado nos últimos meses e as perspectivas para condicionantes econômicos principais, com base nos dados do índice, o economista projeta avanço de 5,7% para este ano ante 2022. No acumulado do ano até setembro, o indicador já apresenta crescimento de 5,1%.

Para 2024, a perspectiva de crescimento é de 3,3% ante 2023, novamente acima do desempenho médio esperado pelos agentes do mercado para o PIB brasileiro – atualmente entre +1,5% e +2%. Beraldi avalia que esse desempenho positivo deve ser sustentado pela continuidade do crescimento das atividades de Serviços e, em menor medida, da Indústria. Além disso, o contexto econômico de curto prazo deve abrir espaço para a retomada do crescimento do faturamento real das PMEs do Comércio.

“Ainda que a renda doméstica não deva crescer no mesmo ritmo que o visto neste ano, o maior controle da inflação e a perspectiva de aumento real do salário mínimo devem afetar positivamente a trajetória do rendimento médio real das famílias brasileiras”, afirma. “Além disso, o efeito da redução das taxas de juros – movimento iniciado pelo Banco Central em agosto deste ano – tende a aparecer de modo mais expressivo no médio prazo para as PMEs (a partir do próximo ano), favorecendo a elevação do consumo e dos investimentos no país.”

A perda de ímpeto da inflação no país é uma boa notícia para os empreendedores, tanto na ponta dos custos de produção de bens ou fornecimento de serviços, quanto na ponta da demanda – já que a inflação elevada corrói o poder de compra dos consumidores. Para o próximo ano, o mercado espera uma inflação (IPCA-IBGE) de cerca de 3,9%, após expectativa de 4,8% neste ano. “Tal contexto é importante para que o Banco Central mantenha a tendência de queda das metas da SELIC (taxa básica de juros da economia) no decorrer do próximo ano. Em linhas gerais, o mercado espera que a SELIC volte ao patamar de um dígito (9% a.a.) já no final do próximo ano”, diz o economista da Omie.

PMEs devem avaliar mercado nacional e internacional

Em médio prazo, o cenário da economia brasileira é suscetível a eventuais choques, de modo que os empreendedores devem acompanhar de perto alguns temas para antever movimentos adversos no ambiente de negócios. No mercado internacional, além do comportamento da inflação e da política monetária nos EUA (metas de taxas de juros estipuladas pelo FED) – que tem reflexos consideráveis sobre a evolução da economia brasileira –, é de suma importância monitorar a evolução das tensões geopolíticas pelo mundo – destaque para o conflito recente no Oriente Médio envolvendo Israel – e seus potenciais efeitos sobre a evolução dos preços internacionais de commodities e o dólar.

Já no cenário interno, os empreendedores devem acompanhar a evolução das discussões em torno da Reforma Tributária no Senado, das metas estabelecidas pelo governo para a evolução das finanças públicas (equilíbrio entre receitas e gastos) e os próximos anúncios do Banco Central a respeito da evolução das metas das taxas básicas de juros da economia.

Por fim, Beraldi ressalta que “ainda que o desempenho da economia brasileira tenha surpreendido os mais céticos nos últimos anos, algumas questões ainda preocupam, como o nível de endividamento das famílias e o grau de inadimplência, especialmente para as PMEs com atividades mais dependentes da evolução do crédito do que da renda. Estes também são indicadores significativos a serem acompanhados nos próximos meses, conforme os efeitos da queda de juros se materializem na economia”.

Sobre o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs)

Compreendendo a relevância das PMEs no desempenho econômico do nosso país, a Omie desenvolveu o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs), que acompanha as atividades econômicas das pequenas e médias empresas brasileiras. A pesquisa da scale-up Omie é um tipo de apuração inédita entre as empresas do segmento, atuando como um termômetro econômico das empresas com faturamento de até R$ 50 milhões anuais, além de oferecer uma análise segmentada setorialmente do mercado de PMEs no Brasil.

Para elaborar os índices, a Omie analisa dados agregados e anonimizados de movimentações financeiras de contas a receber de mais de 130 mil clientes, cobrindo 678 CNAEs (de 1.332 subclasses existentes) – considerando filtros de representatividade estatística. Os dados são deflacionados com base nas aberturas do IGP-M (FGV), tendo como base o índice vigente no último mês de análise, com o objetivo de expurgar o efeito meramente inflacionário na série temporal, permitindo que se observe a evolução das movimentações financeiras em termos reais.

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