Confederação cria projeto para formar os que pensam além da criação do negócio

O empreendedorismo é um conceito que cada vez mais vem se centrando na figura do empreendedor. Se antes o empreendedor poderia ser até invisível e deixar a empresa ser comandada por um gerente de confiança, hoje se exige outra maneira de atuar e não estamos falando de presença física, pois com os avanços tecnológicos isso se tornou dispensável.

A questão agora é mais relativa ao modo de liderar, ao como inspirar os colaboradores, clientes e fornecedores. É nesse contexto que se faz necessário desenvolver habilidades mais internas, como a coragem de sonhar, a ousadia de agir e a capacidade constante e consistente de realizar. Isso porque, atualmente nesse mundo tão competitivo e rápido, os grandes líderes do mercado são aqueles que inspiram, que impactam, que transformam a vida das pessoas, através de seus produtos e serviços. E a empresa que não seguir esse caminho vai ficar para trás. Pensando nisso, uma das maiores organizações que reúne empresas juniores do Brasil trabalha para desenvolver essas competências nos jovens.

A Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores) é a instância que representa as empresas juniores brasileiras com a missão de representar e potencializar o Movimento Empresa Júnior (MEJ) como agente de formação de empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil. Klynsmann Bagatini, diretor de impacto no Ecossistema da Brasil Júnior, responsável pelo Índice de Universidades Empreendedoras, afirma que o empreendedorismo corre nas veias da Brasil Júnior (BJ) e das empresas juniores (EJs) em geral desde o seu surgimento, com a ideia de complementar o ensino teórico da sala de aula com aplicações práticas relacionadas ao curso de graduação por meio da realização de projetos de consultoria pelos alunos.

Trabalho com federações estaduais busca produtividade

A partir desse propósito, a Brasil Júnior começou a atuar em três frentes principais. A primeira delas, denominada Desenvolvimento da Rede, trabalha em conjunto com as federações estaduais para alavancar as empresas juniores, buscando torná-las mais produtivas na realização de projetos e consequentemente melhores formadoras de empreendedores. Essa ação acontece por meio de consultorias, eventos e no relacionamento com possíveis clientes, principalmente MPEs. A outra frente é a Formação Empreendedora que está em contato direto com os membros das EJs para auxiliá-los a se tornarem melhores líderes. E, por fim, a frente de Impacto no Ecossistema que lida com o ecossistema empreendedor brasileiro e como se dá o relacionamento do MEJ com as universidades, empresas de mercado e pós-juniores, ou seja, as pessoas que já foram de uma EJ e hoje estão atuando no mercado de trabalho.

E o conceito que sustenta o funcionamento de toda essa sistemática, segundo Bagatini, é acreditar que o empreendedor não é apenas aquele que cria uma empresa, e sim aquele que pode estar em todas as posições atuando com uma postura empreendedora. “A coragem de sonhar e a ousadia de agir, ser inconformado, ter visão para oportunidades, ter um pensamento inovador, mas principalmente uma grande capacidade de realização e entrega”, é assim que a instituição trabalha o conceito empreendedorismo, explica Bagatini.

E para medir se esse conceito realmente está sendo aplicado na prática, a Brasil Júnior, juntamente com outras organizações (Rede Ciências Sem Fronteiras, AIESEC, Enactus e BRASA) e apoio de parceiros (McKinsey, Triple Helix Association, professores e pesquisadores da USP), criou um índice que mensura quão empreendedoras são as universidades, gerando um ranking para avaliar essa situação. “Nesse projeto, construímos com milhares de universitários o conceito de Universidade Empreendedora: a comunidade acadêmica, inserida em um ecossistema favorável, que desenvolve a sociedade por meio de práticas inovadoras”, comenta Bagatini.

Os resultados práticos dessas ações são perceptíveis ao longo dos anos. Por exemplo, hoje, a Brasil Júnior é uma rede de 15 mil empresários juniores que compõe 444 empresas juniores, representadas por 22 Federações (de 21 estados mais o Distrito Federal). Essas EJs fizeram em 2016 mais de 4.800 projetos e faturaram mais de R$ 11 milhões, que são reinvestidos para desenvolver a própria empresa júnior, seus membros e a universidade em que eles estão inseridos.

Bagatini afirma que as empresas juniores do movimento constroem histórias de impacto em suas realidades. Ele cita alguns exemplos, como a Ciclo Júnior, empresa de engenharia química e ambiental da Universidade Federal do Ceará, que foi selecionada pela AmBev para resolver o problema de escassez de água no semiárido brasileiro. Outro caso de sucesso é encontrado na Poli Júnior, empresa júnior de engenharia da Escola Politécnica da USP, que desenvolveu um aplicativo para auxiliar profissionais da área de saúde para avaliar pacientes potencialmente infectados pelo vírus HIV (PEPTec), atualmente com mais de mil downloads. A ideia recebeu um prêmio de relevância estadual pela inovação trazida.

Um marco histórico para a Brasil Júnior aconteceu no dia 6 de abril do ano passado, quando conseguiram articular a aprovação de uma lei para regulamentar o conceito de empresa júnior no Brasil, sendo um acontecimento pioneiro no mundo e representando a força que o movimento possui. No mês de julho do mesmo ano, a instituição realizou o JEWC (Junior Enterprise World Conference), reunindo mais de 3.200 congressistas de diversos países do mundo na cidade de Florianópolis. E justamente nessa ocasião, foi lançado o índice e ranking de Universidades Empreendedoras, também pioneiro no mundo, contando com 42 instituições de ensino em todas as regiões do Brasil. “Isso é um marco para a educação empreendedora, abrindo canais de discussão e auxiliando a catalisar o desenvolvimento das nossas universidades com relação a como elas trabalham o empreendedorismo”, avalia Bagatini.

Bagatini também acredita que o empreendedorismo é fundamental para a formação do universitário enquanto transformador da sociedade. “Temos como principal horizonte um Brasil mais empreendedor, que seja mais competitivo, ético, educador e colaborativo”. E, para construí-lo, ele afirma que é preciso ter líderes empreendedores, que são formados dentro das empresas juniores por meio da realização de projetos, que são justamente a aplicação prática que em geral é insuficiente nas universidades.

A visão da Brasil Júnior é que desenvolvendo o ecossistema empreendedor local, cria-se um ambiente mais favorável para que esses negócios floresçam, entreguem valor e gerem impacto na sociedade. Isso pode acontecer de várias formas, sendo que o papel da instituição vislumbra a inserção de mais empreendedores no mercado (mais preparados e mais comprometidos em gerar impacto), o suporte aos empreendedores que já tem ou desejam criar um negócio e às micro pequenas empresas por meio dos projetos de consultoria realizados pelas empresas juniores e, por fim, o estímulo à educação empreendedora na universidade, trazendo à tona o tema e conectando de forma mais fluida os três pilares fundamentais para desenvolver a sociedade: governo, empresas e universidade.

Enquanto isso está em fase de desenvolvimento, a geração que passou pela escola sem aulas de empreendedorismo se lança ao mercado mesmo sem nenhuma orientação e para isso é preciso ter muita determinação e, ao contrário do ditado popular, é preciso crer primeiro para depois ver acontecer.

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