“Fortalecer empreendedorismo negro não é caridade: é ato econômico e político”, afirma Djamila Ribeiro, em evento da FutureBrand SP

“Potências que Movem” debateu sobre o afroconsumo e também contou com líderes executivas da Feira Preta, C&A, Coca-Cola e do Banco do Brasil

Fortalecer o empreendedorismo negro “não é caridade, mas uma questão de economia e política”. A reflexão foi proposta pela filósofa e ativista Djamila Ribeiro, durante a roda de conversa “Potências que Movem,” promovida pela FutureBrand São Paulo, ecossistema de gestão de marcas, cultura e negócios. O encontro, mediado por Karen Fontana, CCSO da FutureBrand São Paulo, também contou com a participação de Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta, Cecília Preto Alexandre, CMO da C&A, Luciana Batista, presidente Brasil da Coca-Cola, e Paula Sayão CMO do Banco do Brasil.

Djamila também ressaltou que a lógica da escravidão ainda impacta a percepção coletiva sobre o consumo da população negra. “Não podemos mais naturalizar o imaginário de que as pessoas negras estão sempre em posições de menor destaque. De onde vem, por exemplo, a percepção de que um homem negro dirigindo um carro de luxo é por que ele é motorista? Ou a hipersexualização da mulher negra? Das teorias racistas do século XIX. Embora, atualmente, saibamos que isso não é correto e tenhamos avançado em muitas questões, ainda há muito o que construir para a transformação da percepção”, analisou.

Karen Fontana, destacou que para as mudanças acontecerem, de fato, “é preciso colocar as questões do afroconsumo no centro das decisões de negócios. Do contrário, temos ações frágeis e pouco estratégicas”, afirmou a especialista. 

Para Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta, o consumo negro já não pode mais ser visto apenas pela lógica mercadológica, mas como expressão de identidade e posicionamento político. “Quando olhamos para o presente, vemos que se inicia a sofisticação do consumo, que agora traz nuances da questão da identidade. É como se as pessoas negras dissessem: ‘se eu não me vejo, eu não compro”, destacou. 

Durante sua fala, Adriana trouxe dados de uma pesquisa  de 2023, que ajudam a entender o cenário: 81% das pessoas já abandonaram as marcas por discriminação e 64,9% preferem marcas que apoiem causas negras, o que revela o início desta mudança. 

Como complemento, Djamila finalizou o evento explicando  como o racismo estrutural ainda influencia as escolhas de mercado e a representação publicitária. “As marcas ainda têm resistência, por exemplo, em estrelar pessoas negras no mercado de luxo. Se, historicamente, campanhas de produtos  que não necessariamente eram consumidos só por pessoas brancas, como creme dental e margarina, eram protagonizadas apenas por elas,  por que não podemos ocupar outros espaços diferentes do imaginário já estabelecido?”, questionou a filósofa.

Iniciativas das marcas

Cecília Preto Alexandre falou das iniciativas da C&A, ressaltando que a companhia chegou a 30% de líderes negros, meta inicialmente traçada para 2030. “Ainda há um caminho a ser percorrido. Não fazemos por modismo, mas porque acreditamos na relevância, Nossos programas de estágio, por exemplo, são afirmativos para pessoas pretas. Não basta o discurso, mas as boas práticas dentro de casa, só assim vamos evoluir”, acredita. 

Para Luciana Batista,  presidente Brasil da Coca-Cola, o processo de escuta ativa em todas as etapas é fundamental. “Não adianta termos representatividade de pessoas negras nas peças publicitárias se não há escuta ativa delas nas etapas anteriores, de criação. Temos processos internos para garantir isso”, afirma.

Paula Sayão ressaltou a importância do fomento ao empreendedorismo negro e destacou a importância de hoje o Banco do Brasil ter sua primeira presidente mulher, negra e LGBTQIA. “Isso representa um marco, especialmente, em um segmento como o setor financeiro, ainda majoritariamente dominado por homens”, destaca. Segundo a CMO, recentemente a instituição lançou um edital de R$ 22 milhões para fomento aos microeempreendedores, levando em conta questões como raça e gênero.”É preciso financiar o afroconsumo na prática”, completou.

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