Assim como você, eu lidero pessoas. Assim como você, desejo uma equipe motivada e comprometida. Assim como você, quero uma equipe que entrega resultados.
Enquanto desejamos as mesmas coisas, um inimigo comum assola os ambientes de trabalho: a acídia. Não é uma palavra usual, mas as suas manifestações são bem conhecidas. Confirme por si, ao observar algumas atitudes do colaborador:
– Olha para o relógio a cada minuto, aguardando, angustiado, o momento de ir embora.
– Sente dificuldade de estar presente no que está fazendo. Incapaz de se concentrar, sua mente vagueia pelos quatro pontos cardeais.
– É incapaz de ficar sem fazer nada, mas ao invés de oferecer ajuda, prefere navegar a esmo pela Internet.
– Não se envolve. Perca a esperança de que erga a mão requisitando a responsabilidade para si.
A acídia, então, se expressa de várias formas, mas por trás delas estão o enfado, a preguiça, a monotonia, o desânimo, a letargia, a apatia e, num estágio mais avançado, a depressão.
Temos, portanto, um grande desafio pela frente. Fugir da acídia e abrir espaço para a motivação. Romper com a acídia e, em seu lugar, elevar a alma da equipe. Descobri cinco segredos a respeito e agora os compartilho com você. Cabem na palma da mão de tão poucos, mas são cruciais. Então vamos lá.
Ninguém motiva ninguém
Nem eu e nem você temos o poder de colocar a energia psíquica e emocional dentro das pessoas. E se acha o primeiro segredo frustrante, olhe o lado positivo, ou seja, esse trabalho você não vai precisar fazer. As pessoas já vêm com essa qualidade de fábrica, ou seja, elas têm em seu interior a força motivacional que você tem a pretensão de desenvolver. É só olhar para uma criança e constatar os traços de sua presença. Então, o que fazer? Deixe de promover a acídia.
Saiba, antes de mais nada, que seu trabalho é não desmotivar. Parece uma afirmação desnecessária, mas o que mais vejo por aí são líderes empenhados em diminuir a autoestima e a motivação das pessoas, ou seja, instalando a acídia.
Então, deixe de subtrair a energia motivacional que as pessoas trazem para o trabalho. Preste atenção em suas próprias atitudes e pare, agora mesmo, de promover a acídia!
As fartas antes das faltas
Vamos para o segundo dedo da mão. Um jeito comum dos líderes promoverem a acídia é fazer com que as faltas prevaleçam sobre as fartas. Eis um caso real para ilustrar bem a que me refiro.
Em determinada gráfica, para alertar os empregados quanto a um lote de revistas impresso com defeito, o chefe de produção colocou todo o material rejeitado no centro da fábrica, com o intuito de mostrar a todos a burrada que cometeram.
Perplexo diante de tal atitude, seu superior, o líder da gráfica, não deixou por menos. Chamou-o reservadamente e lhe perguntou: e onde você vai expor os materiais editados corretamente? Nem todo o espaço disponível seria suficiente para conter os lotes sem defeitos.
Pretendo lhe mostrar com isso que todas as vezes que você alardear mais as faltas, erros e anomalias, você está promovendo a acídia e diminuindo o estoque de energia das pessoas.
O segundo segredo é que você pode e deve realçar as fartas, aquilo que elas têm e fazem de bom e corretamente.
Sujeito, não objeto
A acídia é certa quando você trata as pessoas como objeto, não como sujeito. Ah! Isso não acontece em sua empresa? Que bom! Pois na maioria das que conheço as pessoas são chamadas de mão de obra, portanto objetos, consideradas como folha de pagamentos, ou seja, um item de custo a ser contido ao máximo.
Em tempos de vacas magras, a primeira providência é dispensá-las, pois não são vistas como potencial de resultados, mas como ameaça aos lucros. Então, o terceiro segredo é tratar as pessoas como sujeitos, não objetos. Mantenha tal princípio, mesmo que tiver de fazer correções e, em última instância, demissões.
Sem corruptelas
Pare de oferecer recompensas por resultados. Eu sei que a meritocracia goza de boa fama, mas se você diz “faça isso que você vai ganhar aquilo”, as pessoas estarão mais preocupadas com o “aquilo”, a recompensa, do que com o “isso”, o propósito do trabalho.
Essa prática bem comum faz com que só motive as pessoas de imediato, mas a médio e a longo prazos você estará num beco sem saída. Não terá bala suficiente para recompensar as pessoas, pois, acostumadas, vão querer cada vez mais. Quando são tratadas como focas à espera de peixinhos, a acídia é certa.
Deixe de promover a acídia distribuindo peixinhos tóxicos. Essa atitude já é uma gratificante recompensa. Esse é o quarto segredo.
Significado é palavra mágica
Finalmente, o quinto trata da palavra para manter a chama da motivação naturalmente acesa em cada colaborador, sem risco de promover a acídia. Uma passagem do livro A Recordação da Casa dos Mortos, do grande escritor russo Dostoievski, ajuda a compreender melhor a questão.
A cena se passa em um presídio. Os diretores decidem enlouquecer os presidiários, com a estratégia diabólica de construir duas piscinas. O trabalho dos presos era esvaziar a primeira piscina, com o uso de baldes, transferindo a água para a segunda piscina.
Depois de encher a segunda, eles tinham de agir da mesma forma para carregar a água de volta à primeira. E assim sucessivamente. Dias após dias. Semanas após semanas. Meses após meses. Anos após anos. E sabe porque eles enlouqueciam? Porque jamais saberiam qual o significado daquele trabalho.
Você não tem como colocar a energia motivacional dentro das pessoas, mas pode lhes oferecer um trabalho com significado e que, por isso, aumente o tamanho da chama existente no interior de cada um. Eis o quinto segredo.
Guarde bem todos eles. Funcionam, de fato. Falo por experiência própria. A acídia? Fuja dela!
Desejo-lhe boa sorte em sua nobre e gratificante missão.
Roberto Adami Tranjan
Escritor e educador da Metanoia Educação nos negócios
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