G20: 6 desafios ainda enfrentados por empreendedoras no Brasil

Empreendedorismo feminino será um dos assuntos discutidos pela reunião que tem objetivo de debater o desenvolvimento econômico dos países emergentes

A reunião do G20, sediada no Rio de Janeiro em novembro, tem o objetivo de falar sobre o desenvolvimento econômico, social e ambiental, e provoca a discussão sobre a necessidade do fomento ao empreendedorismo feminino – essencial não só para a inclusão, como também para a evolução e expansão do mercado. A pauta é especialmente importante já que, segundo pesquisa da FIA Business School, em 2023, 38% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres. O número representa pouco mais de um terço dos líderes do país. E, apesar do avanço, ainda há um longo caminho pela frente, afinal, as mulheres representam mais da metade da população brasileira e, nesse mesmo cenário, somam  somente 34% de todos os empreendimentos do país, segundo o Sebrae. No ecossistema de inovação, as estatísticas são ainda mais desafiadoras, são somente 4,7% das startups fundadas exclusivamente por mulheres, de acordo com o Distrito.

Diante desse cenário, e do avanço das discussões sobre a inserção das mulheres em cargos de liderança e desenvolvimento de soluções, seis empreendedoras trazem alguns dos principais desafios enfrentados pelas mulheres.

Mulheres também precisam encabeçar investimentos
“As mulheres enfrentam inúmeros desafios, especialmente nos setores de tecnologia e finanças, historicamente, dominados por homens. Isso se reflete também na captação de investimentos, tanto para empreendedoras de startups quanto para gestoras de fundos. Nesse contexto, o mercado precisa reconhecer que a diversidade gera retorno financeiro. Quando um time diverso avalia um investimento, há a oportunidade de trazer múltiplas perspectivas para a mesa. O que pode parecer uma oportunidade para um pode não ser para outro e, essa combinação de pontos de vista, permite identificar o que não é imediatamente óbvio. Por isso, é essencial termos mais mulheres no processo de decisão sobre quais startups receberão investimentos. Elas têm o potencial de enxergar oportunidades rentáveis que muitas vezes são ignoradas devido a vieses”, explica Erica Fridman, gestora do Sororitê Fund 1, fundo de Venture Capital de R$ 25 milhões que investe em startups early stage fundadas ou co-fundadas por mulheres.

A importância da criação de políticas públicas
“Os desafios enfrentados pelas empreendedoras no Brasil refletem as desigualdades estruturais que perpassam gênero, raça, classe, origem, identidade e orientação sexual. Essas sobreposições de identidades amplificam as discriminações, criando barreiras interseccionais que tornam o desenvolvimento de negócios liderados por mulheres ainda mais desafiador. Três áreas críticas que necessitam de políticas públicas direcionadas são: o acesso ao financiamento, uma vez que as mulheres possuem menos acesso a crédito e financiamento de risco, limitando suas oportunidades de crescimento e inovação; a tecnologia e digitalização, já que a falta de infraestrutura digital, as dificuldades econômicas e o preconceito em relação à capacidade técnica das mulheres, especialmente negras e de baixa renda, dificultam sua plena participação no ambiente digital; e as barreiras históricas e culturais relacionadas ao papel das mulheres no cuidado, que reforçam a ideia de que elas devem assumir a responsabilidade por crianças, idosos e tarefas domésticas, limitando o tempo e os recursos que podem dedicar ao crescimento de seus negócios” compartilha Carine Roos, fundadora e CEO da Newa, consultoria de impacto social.

A falta de representatividade em rodas de lideranças
O networking é fundamental na construção das carreiras profissionais, garantindo um mundo mais conectado, colaborativo, próspero, plural e sustentável. Entretanto, alguns entraves de gênero impedem que as mulheres avancem e criem conexões profundas. A falta de representatividade em rodas de liderança, os estereótipos e o machismo enraizado na sociedade criam obstáculos para a ascensão profissional. “Hoje, temos um sistema melhor do que tínhamos há anos, mas ainda não chegamos no modelo ideal que trará a verdadeira presença feminina no mercado de trabalho. O que vejo hoje em dia é que precisamos aumentar cada vez mais essa representatividade para criar modelos e inspirar outras profissionais a assumirem cargos de liderança. O que nos trouxe até aqui como sociedade e mercado não nos levará adiante. Para avançar, precisamos de novas abordagens e lideranças inclusivas”, completa Laís Macedo, Presidente do Future Is Now, grupo de networking voltado para líderes que protagonizam a nova economia.

A importância vital de redes de apoio no empreendedorismo feminino
“Quando iniciei a minha trajetória empreendedora em 2011, o cenário de startups no Brasil ainda era embrionário, e encontrar mulheres em posições de liderança era um verdadeiro desafio. Não havia muitas referências femininas para nos espelharmos, e os espaços de empreendedorismo eram dominados majoritariamente por homens, tanto nos eventos quanto nas decisões. Apesar de vermos uma mudança gradual, com mais mulheres ocupando cargos estratégicos, ainda enfrentamos barreiras significativas. Ser empreendedora no Brasil exige coragem para explorar o desconhecido, aprender com erros e, acima de tudo, confiar em nossa capacidade. A construção de uma rede de apoio entre nós é mais do que importante – Ter mulheres em cargos de CEO, CMO, gerentes ou qualquer outra posição de gestão não é apenas um ponto de referência para outras mulheres que percebem que podem chegar lá, mas também para aquelas que já estão, oferecendo uma rede de apoio para discutir situações comuns. É isso que nos fortalece para continuar trilhando esse caminho”, reflete Nara Iachan, CMO da Loyalme by Cuponeria.

As mulheres ainda precisam se esforçar o dobro para serem reconhecidas
“Embora o número de mulheres nas cúpulas globais, como o G20, esteja crescendo, ele ainda é drasticamente inferior ao de homens. Uma disparidade evidente também no nosso mercado de trabalho, onde as mulheres precisam se esforçar o dobro para serem reconhecidas. O currículo de uma mulher precisa ser impecável, suas conquistas incontestáveis, e, mesmo assim, ela continua sendo subestimada. As mulheres enfrentam uma cobrança constante para se provar e reafirmar suas capacidades, em um cenário onde a igualdade deveria ser a norma. Se essa realidade é clara em eventos globais como o G20, imagine a luta silenciosa enfrentada por milhares de mulheres nos ambientes corporativos e econômicos ao redor do mundo. A verdadeira mudança só virá quando a competência for o único critério, independentemente de gênero”, compartilha Ana Carolina Gozzi, CO-CEO do Compre & Alugue Agora (CAA), startup que conecta profissionais do setor imobiliário com clientes que desejam comprar, vender ou alugar imóveis.

Ainda é preciso investir mais no potencial das mulheres empreendedoras
“As mulheres desempenham um papel crucial no empreendedorismo de impacto social e na agenda do combate à fome. Um exemplo que ilustra essa realidade é que 62% das iniciativas inscritas no hub Pacto Contra a Fome, que reúne projetos de impacto em todo o país, são lideradas por mulheres. Esse dado evidencia o forte engajamento feminino nas questões sociais, destacando a importância de fortalecer e apoiar iniciativas que ampliem o acesso a recursos para esse público. Promover o protagonismo das mulheres é essencial para impulsionar a construção de um futuro mais sustentável e inclusivo”, reforça Alcione Pereira, CEO e fundadora da Connecting Food, primeira foodtech brasileira especializada em conectar alimentos que seriam descartados por empresas à organizações da sociedade civil.

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