Ser feliz no trabalho é o que busca a maioria das pessoas, especialmente as novas gerações. E se sentir como parte do sucesso do empreendimento é essencial para atingir a felicidade neste ambiente. Funcionários felizes são mais produtivos e comprometidos com a evolução das empresas. Ou seja, uma relação baseada em princípios éticos e focada no desenvolvimento de pontos positivos é benéfica para todos.
É isso o que busca a Investigação Apreciativa. A metodologia baseada em conversas produtivas com todos os integrantes levanta o sentimento de pertencimento no sucesso de projetos e na construção de uma empresa bem-sucedida, conquistando o engajamento de todos. A psicóloga, consultora organizacional e coach, Heide Castro, especialista em Psicologia Organizacional, Intervenção Cognitiva e Coaching Positivo, explica, na entrevista a seguir, como funciona a metodologia da Investigação Apreciativa, como, quando e onde ela pode ser aplicada, entre outros detalhes.
O que é a Investigação Apreciativa?
Heide Castro – A Investigação Apreciativa é uma metodologia desenvolvida na década de 1980, pelo Dr. David Cooperrider, como objeto de sua tese de doutoramento. O método tem como objetivo inverter a lógica da resolução de problemas, no qual alteramos a posição de reclamação para a de criação. Diferencia-se dos demais métodos porque desenvolve, nas pessoas, o senso de pertencimento, de cocriação. O modelo, caracterizado pelo ciclo dos quatro Ds (Discovery, Dream, Design e Destiny), é baseado em conversas produtivas, onde os participantes, através de perguntas instigantes, pensam e conversam em conjunto a respeito do seu trabalho. Essas conversas evocam as reflexões sobre as experiências passadas que foram positivas. As histórias que as pessoas se orgulham de fazerem parte e que querem manter e ampliar. Os participantes celebram e aprendem com os sucessos em vez de focarem somente nos problemas. Na sequência, são estimulados a pensarem sobre o futuro que gostariam de ter. Mesmo ao se deparar com aspectos negativos não focamos no problema, mas na construção afirmativa do que se deseja. Após visualizarem o futuro desejado, inicia o processo de materializar o que foi sonhado. Como fazer para que o que sonhamos possa, de fato, acontecer? Quais os recursos disponíveis? Quem vai participar? Quem se responsabiliza pelo quê? Como sabemos que estamos no ponto em que sonhamos?
Por que utilizar o Tópico Afirmativo como ponto central?
Heide – A base da metodologia é a Psicologia Positiva, e ao utilizar o tópico afirmativo, objetivamos: a) Identificar, mapear momentos e situações de desempenho diferenciado das pessoas e suas organizações; b) Clarificar os tópicos relevantes no funcionamento ótimo das organizações, grupos e comunidades; c) Amplificar e compartilhar os momentos mais relevantes do grupo/comunidade.
Como a Investigação Apreciativa é aplicada nas empresas?
Heide – Em termos conceituais se utiliza em reuniões de planejamento estratégico, início de projetos, em conjunto com outras áreas na implementação de novos projetos (PMI, por exemplo), fusões, aquisições, mudança de ramo de atuação, desenvolvimento de equipes, etc. Em termos práticos, fazemos algumas reuniões para fechar: objetivos, público-alvo e quantidade de participantes. Uma vez definidos estes pontos, agendamos o workshop de Investigação Apreciativa que, normalmente, tem a duração de 16h (é possível fazer em 8h, um pouco mais resumido). Após o workshop, fazemos o acompanhamento das ações propostas.
Qual o melhor momento para aplicar a metodologia? Ela é viável mesmo quando uma crise já está instalada?
Heide – Ela é aplicável em todos os momentos. No caso de uma crise, é quando mais percebemos o potencial da metodologia. Quando, por exemplo, uma equipe está muito aborrecida com a empresa, com os seus processos e o clima está negativo, a metodologia ajuda a sair do impasse e ir para a construção. Antigamente as pessoas nominavam estas reuniões, em caso de crise, de “lavação de roupa suja”. Na maioria das vezes, os resultados não eram atingidos, sem falar na energia negativa das pessoas após este tipo de reunião. Mesmo abordando questões difíceis relativas à crise, a energia que se obtém ao final, utilizando-se a Investigação Apreciativa, é muito positiva.
A metodologia trabalha apenas a relação de cima para baixo, na hierarquia organizacional das empresas, ou nos dois sentidos?
Heide – Nos dois sentidos. Iniciamos sempre com um workshop gerencial, já que é fundamental o comprometimento da liderança em todas as etapas. Após esse workshop, começamos a reunião com todos os envolvidos (liderança e equipes), que chamamos de oficina, durante a qual convidamos todos a refletirem sobre o futuro do setor/organização. Ao término de uma oficina, terá sido construído um plano de ação, que precisa ser executado, com o retorno dos resultados sendo compartilhado pela liderança com a força de trabalho. Este ponto é bastante crítico. Precisamos agir e comunicar, para que a Investigação Apreciativa não fique muito filosófica. Todos gostam, mas com o passar do tempo não enxergam a sua eficácia.
A Investigação Apreciativa é um trabalho permanente ou é aplicada apenas uma vez?
Heide – Pode ser aplicada apenas uma vez, contudo o melhor resultado se obtém quando há um acompanhamento, ao longo do ano, do plano de ação construído. Além disso, sugerimos a realização de uma segunda oficina para verificar os avanços e mapear a “jornada” entre o primeiro e o segundo ciclo. Se o foco for o Planejamento Estratégico, a cada ano realizamos uma nova oficina. As perguntas levarão os participantes a continuarem planejando a empresa que eles desejam para o futuro.
A metodologia é aplicável a empresas de todos os portes e áreas?
Heide – Sim, independe do tamanho e área de atuação. Fazemos pequenos ajustes na execução da oficina, com objetivos de adequação de linguagem, exemplos e confecção de pesquisa de melhores práticas para embasar o trabalho.
Como os resultados são avaliados? Há indicadores que permitam acompanhar a evolução dos resultados?
Heide – Há várias formas de se avaliar os resultados. Na própria oficina, pode ser definido como o atingimento do resultado será medido. Estabelecemos os Indicadores-Chave de Sucesso (em inglês Key Success Indicator – KSI). Pode-se fazer novas rodadas de Investigação Apreciativa e mapear o ciclo, desde onde foi planejado e o percentual de execução. Também costumamos utilizar os indicadores da própria empresa para medir os resultados. Pode variar de empresa para empresa: Índice de Satisfação Interna da Força de Trabalho, Índice de Felicidade com o Trabalho, Índice de Qualidade de Gestão (principalmente os itens ligados às pessoas), Índice de Engajamento com o Trabalho, etc.
Que outras metodologias podem ser usadas em conjunto para potencializar os resultados?
Heide – Como o próprio autor comenta, a Psicologia Positiva é a base do trabalho da Investigação Apreciativa. Eu costumo fazer um pequeno resumo da Psicologia Positiva, inclusive com exercícios. Se houver continuidade do trabalho (um projeto de comunicação, trabalho em equipe, liderança, etc.) utiliza-se várias outras metodologias como: Psicologia Cognitiva, Gestalt, Dinâmica de Grupos, etc.
Onde mais pode ser aplicada?
Heide – Em nossa experiência, a Investigação Apreciativa tem bons resultados nas seguintes áreas: desenvolvimento de liderança, desenvolvimento pessoal – coaching apreciativo, desenvolvimento de equipe, escolas – encontro de todos os atores envolvidos com o processo (alunos, professores, diretores, pais, comunidade, empresas do entorno da escola, artistas, etc.), cidades, como, por exemplo, o projeto Imagine Chicago.