O contato direto com a área médica e o olhar crítico para questionar o que já está pronto fez Leonardo Lima de Carvalho criar a ToLife, empresa especializada em desenvolver soluções inovadoras para o atendimento em saúde, agilizando as avaliações dos casos de urgência e, assim, salvando vidas. Na primeira vez que Leonardo pensou na ideia, não havia nada parecido no mundo, pelo menos, as buscas que ele fez apontaram para isso. E, então, ele se perguntou o porquê disso. E esse questionamento só fez o empreendedor avançar mais até conseguir construir a ToLife. Hoje, a empresa comercializa uma plataforma de classificação de risco exclusiva – que integra equipamento, software, serviços e insumos – disponível em mais de 5 mil unidades de saúde em todo o País, impactando mais de 100 milhões de pessoas.
A veia empreendedora sempre esteve presente na vida de Leonardo. Desde pequeno, ele tinha o sonho de ter seu próprio negócio. Criado em uma família de médicos, sendo fortemente influenciado a seguir a carreira, tudo parecia caminhar para isso até poucos meses antes de terminar o ensino médio. Entretanto, tudo mudou justamente quando a irmã mais velha de Leonardo, que é médica, convidou-o a visitar o hospital onde trabalhava para ele conhecer o ambiente. E, então, nessa visita ele decidiu que ser médico não era para ele. Porém, sentiu que poderia atuar no ramo, mas de outra forma. Enquanto a resposta não vinha, Leonardo cursava ciência da computação na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e desenvolvia softwares para depois vender. Em sua ânsia por empreender, chegou a vender marmitas em um local próximo à universidade para aprender mais sobre negócios e logística. “A questão de empreender sempre esteve na minha cabeça, mas, por falta de conhecimento, não conseguia concretizar nada. Então, quando eu tive a visão para criar o TRIUS® que é o carro-chefe da empresa, tudo foi diferente”, revela.
E essa visão veio em 2008, quando Leonardo se tornou coordenador na área da urgência e emergência do Estado de Minas Gerais, depois de trabalhar em uma das maiores empresas fabricantes de software e empresas de telecomunicações no Brasil, acumulando 13 anos de experiência. Durante as rotinas do serviço, usava-se o Protocolo de Manchester – pulseiras de identificação para os pacientes que permitem saber rapidamente a gravidade do caso. Esse sistema era utilizado em centenas de unidades de saúde e para fazer essa avaliação e atribuir as pulseiras adequadas a cada paciente, necessitava-se de equipamentos. Então, Leonardo se deparou com a dificuldade de encontrar fornecedores disponíveis para conseguir que todo o sistema funcionasse. Diante disso, questionou a eficiência desse protocolo clínico que estava em vigor no mundo. “Pensei no absurdo de como ninguém tinha desenvolvido algo mais eficiente e percebi que temos que questionar o óbvio”, afirma. Com essa intenção, em 2008, ele contratou um escritório de advocacia para pesquisar nos registros de patentes internacionais se havia algo parecido com o que ele estava pensando em desenvolver e como nada foi encontrado, Leonardo se agilizou para registrar o protótipo de um posto de triagem único no mundo chamado TRIUS® que contém todo aparato tecnológico para classificação de risco de pacientes, e que utiliza um software chamado Emerges®, que gerencia todo o processo de urgência e emergência e proporciona uma linguagem única em redes de atendimento.
Assim, em maio de 2009, depois de conseguir a patente e escrever o plano de negócios, Leonardo foi atrás de investidores para desenvolver o software. Quando conseguiu reunir R$ 1 milhão e meio, pediu demissão do seu emprego e começou a se dedicar exclusivamente a ToLife. O montante em dinheiro foi o que Leonardo imaginava que seria necessário para desenvolver o software. Entretanto, em 2010, a demanda foi muito grande. A ToLife recebeu pedidos para produzir mais de 3 mil equipamentos e simplesmente não tinha como entregar por falta de capital de giro e reservas para fazer estoque. Leonardo lembra que essa situação foi uma das primeiras dificuldades vividas pela empresa, depois vieram várias outras relacionadas a problemas com fluxo de caixa e inadimplência.
As adversidades foram vencidas e importantes mudanças se firmaram em 2011. Leonardo percebeu que vender somente a tecnologia para as unidades de saúde não garantiria o sucesso do uso do software, era necessário fazer mais. Então, decidiu reformular a ideia original do plano de negócios e vender, além do software, o serviço de implantação e suporte técnico, a manutenção do equipamento com o fornecimento das tiras de glicose e a plataforma de e-learning para treinamento dos profissionais. “O que pensei lá atrás, em 2008, é muito diferente de como a empresa está hoje”, avalia. Com a nova proposta, a ToLife trabalha com a tecnologia sendo apenas o meio para oferecer o serviço completo de classificação de risco, substituindo nove diferentes fornecedores por um só.
A evolução do sonho de Leonardo, desde a ideia até a concretização efetiva da ToLife, conforme ele conta, foi cheia de desafios. “Mas essa realidade é a rotina do empreendedor”, destaca. Para ele, o mais importante foi ter resiliência e capacidade de se adaptar às mudanças necessárias, que frequentemente vêm com os problemas que surgem diariamente na rotina de uma empresa. Além disso, Leonardo afirma que uma empresa que sonha grande, vai precisar ter “gente grande” também. “Já errei na contratação de pessoas e a empresa é a mais afetada por isso”, analisa. Diante disso, ele relata que é preciso ter cautela, pois todos os dias dezenas de pessoas trazem ideias e negócios excelentes, porém é importante focar para entregar com qualidade o que a empresa se propõe a vender. O olhar de Leonardo para o futuro está concentrado em desenvolver melhorias e novas funções tecnológicas para o TRIUS®. Ele conta que os esforços agora estão voltados à criação de novos módulos e plataformas para tratar os casos crônicos. E não só agora, Leonardo enfatiza que sempre está pensando em inovar os processos na ToLife.
RAIO-X:
Leonardo Lima de Carvalho
Cidade natal: Belo Horizonte
Formação: Graduação em Ciência da Computação, pós-graduação em Engenharia de Software e MBA em Administração para Executivos
Idade: 37 anos
Empresa: ToLife
Data de fundação: 2009
Cidade-sede: Belo Horizonte
Ramo: Tecnologia aplicada à saúde
Funcionários: 40
Faturamento: estimativa de R$ 10 milhões em 2014 (40% de crescimento em relação ao ano anterior)