por Leda Malysz (leda@empreendedor.com.br)
Ela esbanja beleza, pratica ioga, kitesurf, skate, surfa, veleja, acabou de encontrar um grande amor, não para de alimentar sonhos e comanda com força e graça a empresa deixada pelo pai. Aos 29 anos, Lorena Kreuger busca o equilíbrio entre saúde, bem-estar e desenvolvimento profissional enquanto leva a Kalmar para novos rumos.
Há cinco anos, ela se formava em desenho industrial na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) quando soube que o pai, Lars Kreuger, fundador do referenciado estaleiro Kalmar, estava com câncer. “Tudo aconteceu naturalmente, numa tempestade. O que eu escolhi foi desenvolver o projeto final de curso com a empresa e, após a morte dele, assumi a direção com a meta de conseguirmos finalizar os projetos em andamento. O bom é que ele conseguiu deixar tudo organizado, e nós tivemos tempo de nos despedir.”
Lorena, irmã mais velha de Cristina Kreuger, conhecida como Kike, de 27 anos, já levou a empresa bem mais adiante. E começou a gostar de administrá-la. Logo percebeu a oscilação de produção, já que o estaleiro trabalha com projetos – até então produziam novos barcos sob encomenda e reformavam embarcações. Lorena resolveu diversificar o leque de produtos usando a expertise de seus funcionários na lida com madeiras nobres para conquistar a estabilidade de trabalho e de faturamento. Passou a oferecer móveis residenciais de altíssimo padrão e produtos esportivos feitos a partir da marcenaria. Estes incluem quatro modelos de remos, dois tipos de caiaque e uma prancha de stand up paddle (SUP) desenvolvida em parceria com o shaper Gregório Motta. O material esportivo e movelaria já representam 30% do faturamento. Novos barcos representam 35% e outros 35% se referem a reformas.
Além da produção, Lorena também reestruturou o posicionamento da empresa a partir do marketing estratégico como modelo de negócio. “Somos uma empresa saudável, e vamos até onde podemos ir. Não posso dizer até quando ela vai funcionar, podemos ter problemas de mercado, mas estamos preparados para o que vier.”
Primórdios
A empresa foi fundada depois de Lars, carioca e surfista ativo nos anos 70, formar-se em engenharia em Florianópolis. Ele foi aos Estados Unidos aprender uma específica técnica de marcenaria naval, feita de laminado moldado e muito trabalho artesanal. Voltou a Itajaí (SC) e, em 1982, abriu sua construtora de barcos especiais de lazer em parceria com seu pai, o comandante de navios Erik Kreuger.
A matéria-prima é a base da técnica aprendida por Lars e praticada ainda por funcionários originais. Ao invés de madeira pura, eles usam lâminas de madeira de cedro e louro intercaladas por materiais como resina epóxi. “Isso garante maior leveza e poder de acabamento do material, e as lâminas oferecem a mesma força de uma tábua grossa”, explica a diretora da empresa. Um processo oposto ao dos barcos em fibra, feitos em série. Enquanto determinada fábrica de barcos de fibras faz 30 unidades por mês, a Kalmar faz uma em três, quatro meses, às vezes um ano. “Nosso trabalho é construir, e fazer um barco é como fazer uma casa. Temos os materiais para a estrutura, mas cada projeto é único, especialmente no acabamento. Você vai escolher as cores, torneiras, equipamentos, madeiras de finalização interna.”
“Estou aqui, entre velas, barcos e pranchas e esportes aquáticos porque tenho o sangue do mar”, diz Lorena, lembrando o avô de origem suíça que comandava navios de cargas pelo mundo todo. Ele escolheu o Brasil para viver, ao lado da mulher amada. Passou por São Paulo, Rio de Janeiro e se estabeleceu em Itajaí (SC), onde Lorena nasceu três anos depois da Kalmar.
Desafios pessoais
Com tantas responsabilidades executivas, Lorena se viu mais isolada no mundo adulto, afastada das coisas que gostava. Foi quando voltou a se movimentar. “É muito perigoso deixar a rotina esmagar o gosto pela vida, a gente não pode ficar bitolado.” Há um ano e meio, pratica ioga religiosamente três vezes por semana. “E não sei por que não comecei antes. A ioga é um trabalho que deixa meu corpo em total amizade com minha mente. Ela permite encarar as dificuldades do dia a dia de um jeito menos estressante”, conta.
Com mais amadurecimento e alegrias à vista, Lorena acaba de voltar dos Estados Unidos, onde foi conhecer a família do namorado que já veio morar com ela. Os dois se conheceram na primeira vez que Lorena cruzou o Atlântico a bordo de um veleiro, no início do ano passado. Em uma aventura tão semelhante como as que viviam seu pai e avô, ela se apaixonou. “Se você parar um instante e perguntar se este é o lugar que você queria estar agora e a resposta for não, algo está errado. Você deve fazer o que gosta, o que te faz bem, e não se desligar dessa vontade. Assim eu consigo dizer: foi mais um dia bom.”
A história toda do romance pode ser acompanhada pelos leitores no blog lorena kreuger.com.br. É que a esportista, viajante e empresária também adora escrever. No espaço, criado há um ano e meio, Lorena conta sobre viagens, como a mais recente ao Chile, ao lado de Zac, em dezembro de 2013; passeios como o de planador, contos de família e histórias vividas na empresa.