Mãe de um filho, de uma empresa e de muitas ideias, CEO fala sobre o equilíbrio possível entre maternidade e liderança

A empresária Carolina Fernandes (foto em destaque), CEO da Cubo Comunicação, transforma sua jornada como mãe solo em inspiração para mulheres que lideram — na vida e nos negócios

Quando se fala sobre maternidade, a empreendedora Carolina Fernandes prefere uma perspectiva mais realista ao invés de “dar conta de tudo”: “Não é possível equilibrar todos os pratinhos todos os dias da mesma forma”, diz ela, relembrando uma frase ouvida em seu podcast pela empreendedora Carol Manciola. “Me fez refletir muito sobre o desequilíbrio consciente, quando você entende que, em certos momentos, será necessário focar mais em uma área da vida sabendo que, em outro momento, poderá compensar. Isso torna tudo menos doloroso e reduz o sentimento de ‘culpa’, pois há intencionalidade nas escolhas.”

CEO da Cubo Comunicação, hub phygital de marketing e comunicação com atuação no Brasil e no Paraguai, Carolina é mãe solo do Lipe, de 8 anos, e costuma brincar que tem uma filha mais velha: a própria empresa, que completa 9 anos em 2025. “Eu sempre falo que o Lipe e a Cubo cresceram juntos. Um aprendendo a andar, o outro se estruturando. Um descobrindo as letras, o outro ganhando identidade visual. A primeira palavra que meu filho escreveu, além do nome dele, foi ‘Cubo’ — copiado de um cartão de visita na minha mesa. Tenho guardado até hoje”, conta.

Mas o caminho até aqui não foi simples. Ao descobrir a gravidez, apesar de já empreender, Carolina ainda estava em processo seletivo para um cargo de gestão em uma multinacional de varejo. Ao compartilhar a notícia com a empresa, sua candidatura foi encerrada. Sua experiência reflete as dificuldades enfrentadas por mulheres que conciliam a maternidade com a carreira no Brasil — uma realidade ainda marcada por preconceitos e barreiras estruturais. Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 50% das mulheres com filhos são demitidas em até dois anos após retornarem da licença-maternidade.

“Naquele momento, entendi que meu ‘projeto paralelo’ precisava virar o projeto principal. Foi quando decidi apostar 100% na Cubo. E quando me tornei mãe solo, percebi que empreender seria a única forma de ter alguma flexibilidade real.”

A decisão não foi planejada. Quando seu filho tinha entre quatro e cinco meses, Carolina se divorciou e se viu sozinha, precisando cuidar de dois bebês ao mesmo tempo — o filho e a empresa recém-fundada.

“A Cubo tinha um ano e meio e eu, um bebê no colo. Precisei me reinventar emocionalmente e profissionalmente. Passei a me apegar a uma frase que colei no espelho do banheiro: ‘O que não me mata, me fortalece’. Repeti isso por mais de um ano, todos os dias. Minha irmã brinca que eu sou a mistura da Mulher-Maravilha com o Homem de Ferro. Mas a gente sabe que, na prática, isso está longe de ser verdade. Não existe superpoder para dar conta de tudo — existe estrutura, escolha, rede de apoio, e muita resiliência.”

A realidade enfrentada por Carolina reflete um cenário comum no país: segundo um levantamento do Sebrae (2023), o Brasil tem mais de 10 milhões de negócios comandados por mulheres — e mais da metade delas também são mães, refletindo como o empreendedorismo tem sido caminho de reinvenção e autonomia para muitas.

Carolina, que já liderava há mais de uma década equipes multidisciplinares dentro e fora do país, precisou ressignificar tudo — inclusive sua forma de liderar. “A maternidade me ensinou muito mais sobre liderança do que qualquer MBA. A escuta ativa, a tomada de decisão sob pressão, a empatia, a firmeza com afeto, a gestão emocional. Tudo isso eu trouxe para dentro da Cubo, inclusive na forma como cuido do meu time, que chamo de Dream Team.”

Durante a pandemia, viu seu faturamento cair 94%. “Foi desesperador. Eu com um bebê de dois anos, sozinha, e todos os clientes pausando os contratos. Cheguei a voltar a enviar currículo. Mas me recusei a desistir do meu filho mais velho. Reinventei, criei produtos digitais, e recomecei.”

Hoje, a Cubo é uma empresa internacional, mas Carolina também viu nascer outros “filhos” nos últimos anos: o livro “A Tecla SAP do Marketês” e o podcast de mesmo nome — que, após quatro temporadas, foi convidado para ser gravado em collab com o Pinterest Brasil, tornando-se o primeiro e único podcast nacional com produção interna na sede da plataforma. “O nome virou um produto independente, que já existia nas minhas palestras desde 2022. Hoje, o livro, o podcast, a Cubo e até o Lipe fazem parte dessa narrativa que é só minha. Um equilíbrio possível, mesmo que imperfeito.”

Ao olhar para trás, ela não mede conquistas por prêmios ou números, mas por momentos como o da formatura do filho, no ano passado. Na cerimônia, as crianças gravaram vídeos dizendo o que queriam ser quando crescessem — entre respostas como médico, professora, bombeiro ou jogador de futebol, o Lipe surpreendeu: “Quero trabalhar com a mamãe (e ser youtuber).”. Carolina diz que foi ali que entendeu que ele não só respeita seu trabalho, mas também se inspira nele. “Isso, pra mim, é a maior conquista de todas”, conta.

Essa admiração é visível no dia a dia. Quando percebe que a mãe está preocupada, o pequeno logo pergunta: “Posso te ajudar com alguma coisa?” E já manifestou vontade de ir a reuniões e “começar a trabalhar na Cubo”. “Ouvir isso dele me faz acreditar que o exemplo vale mais do que qualquer discurso. Ele cresceu vendo de perto o que significa construir algo com propósito — e, mesmo sem entender todos os detalhes, ele sente. E isso basta.”

Carolina sabe que falar sobre liderança feminina ainda é um desafio. Principalmente quando se trata de mães. “Temos ganhado espaço, mas ainda somos minoria em cargos de liderança no marketing. E com a ascensão da inteligência artificial, acredito que nós — com nossa escuta mais humana, olhar atento e sensibilidade — temos um papel essencial no futuro das marcas”, finaliza.

Facebook
Twitter
LinkedIn