por Mônica Pupo (monica@empreendedor.com.br)
Com mais de duas décadas de carreira, Miguel Delonei Berres conhece como ninguém as dificuldades que afligem os empreendedores brasileiros. De professor de informática a programador, o gaúcho formado em Ciências Contábeis se desdobrou entre diferentes funções, cargos e empresas até tomar a decisão de abrir o próprio negócio. Após superar os obstáculos financeiros e organizacionais típicos do início, a empresa que começou com “um homem só e poucos clientes” decolou e hoje ocupa lugar de destaque no segmento de tecnologia de informação. Especializada na fabricação de softwares de gestão empresarial, a Delsoft Sistemas cresce a taxas médias de 20% a 30% ao ano no faturamento, resultado que pretende repetir em 2014. “Nossa meta é desenvolver aplicações para a gestão de negócios com tecnologia que permitam maior flexibilidade e agilidade dos processos empresariais”, ressalta Miguel.
Instalada em Rio do Sul (SC), a companhia se dedica ao planejamento e fabricação de softwares de gestão (ERP, CRM, TMS, RH, BI, EAM) para os segmentos metalmecânico, pré-moldados, clubes, moveleiro, logística e agronegócios. Com atuação nacional, soma mais de 400 clientes ativos, como Semil, Perfiaço, Rotesa, Proaço, Coopatrigo, Esporte Clube Pinheiros, Belmetal e Viação Garcia, entre outros. Para isso, conta com uma equipe de 70 funcionários diretos, número que pode chegar a 200 considerando-se as unidades de representação externas.
A história da empresa teve início em 1991, logo após o casamento de Miguel que, na época, trabalhava como programador numa empresa de equipamento para sonorização. Quando se viu às voltas com as dívidas típicas dos recém-casados, decidiu dar aulas de informática no Senac para complementar a renda. No embalo da docência, passou também a dar aulas particulares de programação em casa – e foi a partir daí que surgiu a ideia de criar o que hoje é a Delsoft. “Alguns alunos tinham necessidades em suas empresas ou nas empresas em que trabalhavam e começaram a surgir pequenos ‘sistemas’ específicos para alguns clientes”, rememora.
Não tardou até que a demanda crescesse a ponto de Miguel se sentir seguro para abandonar o emprego de programador e investir todas as fichas no seu próprio negócio. E assim surgiu, em 1993 e de forma modesta, a Delonei Sistemas. “Começamos aos poucos, com produtos específicos e customizados para cada cliente”, relembra.
Disposto a crescer e expandir, em 2005 o empreendedor chegou à conclusão que era hora de fazer novas parcerias para continuar evoluindo em seu segmento. A partir da fusão com a E2con, de Londrina (PR) – uma revenda de software de ERP pertencente aos atuais sócios – surgiu a Delsoft Sistemas, nome inspirado no ERP fabricado pela antiga Delonei Sistemas. “Aproveitamos o nome, que já era muito bom, e apenas reestilizamos as cores e o logo. Neste ano, iniciamos a estruturação do novo produto, pois os sócios da E2CON tinham muita experiência com outros ERP’s do mercado e essa experiência trouxe muitos ganhos para o novo produto. Também criamos o modelo de vendas através de canais de distribuição e ampliamos a atuação por todo o território nacional”, explica Miguel.
A partir destas ações, a Delsoft tem garantido lugar de destaque no concorrido mercado de TI. O carro-chefe entre os produtos fabricados é o Delsoft X que consiste numa suíte de aplicativos de gestão totalmente orientados para o ambiente web. “Com esse software, integramos todas as gestões de dentro de uma empresa com soluções de ERP, RH, TMS, CRM, BI, EAM, e demais áreas das empresas que estão em nossos segmentos de atuação”, detalha o empresário.
A Delsoft também é conhecida por proporcionar um ambiente de trabalho agradável aos seus colaboradores. Uma das medidas implantadas há três anos é a adoção de trajes mais casuais e confortáveis para os profissionais durante o verão, quando fica liberado o uso da bermuda no período de dezembro a março. Os funcionários podem utilizar o traje (com a única restrição de que não sejam curtas demais) junto com calçados abertos que fiquem firmes nos pés, como as sandálias, por exemplo. As camisetas também são comuns. “Acreditamos que o trabalho desenvolvido vai além da roupa usada e que, com bom senso, todos podem se sentir confortáveis no trabalho. Afinal, passamos grande parte do dia na empresa”, comenta.
Mas as perspectivas nem sempre foram tão promissoras assim para o empresário. No início, foram muitas as dificuldades enfrentadas devido à falta de recursos financeiros e a dificuldade na busca de crédito – problemas comuns na vida da maioria dos pequenos empreendedores brasileiros. Em seguida, foi preciso aprender a lidar com a falta de conhecimentos específicos em gestão e planejamento estratégico, algo que também costuma ser recorrente nos administradores que vêm de áreas técnicas, a exemplo de Miguel. “Pra quem era acostumado a criar softwares, de repente ter que administrar o caixa e, em seguida, administrar pessoas talvez seja o maior obstáculo”, reflete.
Para ajudar a superar os momentos difíceis, Miguel costuma buscar inspiração na história de empreendedores com quem conviveu durante o tempo em que atuou em grandes empresas, como Perdigão e Frahm. “Exemplos de vida como Saul Brandalise e Norberto Frahm sempre me motivaram e encorajaram a persistir na busca dos meus sonhos.”
Após investimentos recentes em estruturação, tecnologia e novas estratégias comerciais, em 2014 a empresa catarinense pretende reforçar atuação nos segmentos em que a companhia já possui expertise e atuação nacional. Através do Delsoft X, o principal produto, os setores metalmecânico, industrial (com foco nas áreas de pré-moldados e estruturas metálicas e moveleiro) e clubes sociais e poliesportivos ganharão maior aporte. Os segmentos de agronegócio e logística também estão na mira da companhia.
Segundo Miguel, outro fator que deve ser responsável pelos resultados neste ano é o fortalecimento e expansão do setor de vendas. “Pretendemos fortalecer a atuação com os canais de representação e também aumentar o canal de venda direta da empresa. Para isso também estamos lançando políticas de precificação diferenciadas, como o SaaS (Software as a Service) e o projeto Easy, pelo qual financiaremos projetos baseados em pacotes pré-determinados em 24 vezes fixas, sem juros ou acréscimos”, conta.
Para os próximos dois anos, a empresa espera que estas novas formas de comercialização, além das aplicações em Cloud Computing, sejam responsáveis por 30% do faturamento recorrente. “Em 2014, temos dois objetivos claros. O primeiro é avançar sobre a base de clientes para migrar para a nova versão do Delsoft X e o segundo é a expansão da rede de canais de venda do novo produto. Estamos lançando novas modalidades de comercialização, como aluguel do sistema, venda por pacotes pré-definidos, ofertas com parceiros em datacenter ou cloud, e esperamos um crescimento muito grande nestas novas modalidades”, diz Miguel.