Mulheres perdem espaço no mercado depois da pandemia

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgou que entre março e setembro, o saldo entre contratados e demitidos com carteira assinada foi negativo em 897,2 mil vagas, dos quais 588,5 mil eram de mulheres. Em janeiro e fevereiro de 2020 havia saldo positivo de vagas para ambos os sexos, mas a criação de postos para mulheres também foi menor, elas representam hoje 81% do resultado líquido negativo do Caged em 2020.

Cabe destacar que o Caged não contabiliza ocupações com alto grau de informalidade e que também costumam ter mais mulheres, como serviços domésticos. Mas os dados do Caged são corroborados por pesquisas abrangentes do IBGE. E os números demonstram que há um aumento dos próprios negócios abertos por mulheres. Pesquisa realizada com 9 mil mulheres em 15 países, incluindo 500 brasileiras, constatou que, globalmente, a maioria (72%) aspira abrir seus próprios negócios, sendo que 50% delas ainda não empreendem e 22% já têm um negócio, mas gostariam de abrir outro. Entre as brasileiras, o número de mulheres que sonham em se tornar empreendedoras é ainda maior, 73%. Encomendado pela Herbalife Nutrition e conduzido pela OnePoll, o levantamento realizado entre 18 de março e 7 de abril de 2020 analisou os desafios que as mulheres enfrentam no local de trabalho e os objetivos delas em abrir seus próprios negócios.

Vemos, com tanta frequência, que as mulheres carregam o bem-estar dos países em seus ombros. No momento, elas estão trabalhando dia e noite e mantendo as sociedades unidas. Elas fazem isso por meio de cuidados de saúde, cuidados maternos, de pessoas idosas, ensino on-line, creches, farmácias, supermercados e assistência social. Em alguns países, tudo nessa lista é trabalho remunerado, embora muitas vezes seja menos bem remunerado do que as profissões tradicionalmente masculinas. Mas, em outros, o trabalho de cuidados que as mulheres exercem vem sem salário. Como ainda é preciso cuidar destas diferenças, muitos movimentos continuam existindo para ajudar mulheres no mundo todo.

O trabalho da ONU Mulheres, por exemplo, é apoiar os governos na defesa dos direitos de mulheres e meninas. Isso é talvez ainda mais verdadeiro em tempos de crise. Os governos estão respondendo e estão fazendo isso sob enormes pressões para agir rapidamente. De fato, as decisões e políticas sem perspectiva de gênero não são apenas piores, mas geralmente fracassam. É por isso que a ONU Mulheres coopera com as pessoas responsáveis pelas tomadas de decisão na resposta à situação, não apenas para obter melhores resultados para mulheres e meninas, mas para obter melhores resultados para todas as pessoas.

As rápidas mudanças na vida cotidiana que todos e todas experimentamos têm diferentes impactos sobre homens e mulheres. De repente, famílias inteiras se vêem em período integral em pequenos espaços, sob estresse econômico, com a educação das crianças se tornando on-line. Nessas circunstâncias, a dinâmica de gênero com a qual vivemos todos os dias pode levar a resultados e experiências muito diferentes para pessoas diferentes com as tensões que isso coloca em todo mundo.

A Diretora executiva-adjunta da ONU Mulheres, Åsa Regnér, elenca 10 perguntas para que governos identifiquem lacunas de gênero e definam ações para assegurar os direitos das mulheres nas respostas à pandemia:

Primeiro, sabemos pelo Ebola, Zika e outras situações em que o movimento foi restringido por qualquer motivo que a violência contra as mulheres provavelmente aumentará. É uma situação potencialmente perigosa para mulheres com parceiros violentos ficarem em casa em período integral. O que você está fazendo para garantir que as mulheres tenham acesso a recursos, linhas diretas e abrigos?

Segundo, como você está direcionando sua resposta econômica e a quais interesses essas respostas estão servindo? A renda dos homens é maior que a das mulheres em geral. Os homens são super-representados no trabalho permanente ou a longo prazo e sub-representados no trabalho inseguro. Portanto, existem enormes desigualdades em termos de acesso à segurança, como seguro de saúde, auxílio-desemprego e outras proteções sociais. Os homens também estão super-representados na tomada de decisões políticas no mundo. Você já pensou em como as vozes e os interesses das mulheres são refletidos nos processos de tomada de decisão e nos resultados que você lidera? Você é guiado por mulheres políticas e tomadoras de decisão? As empregadoras e os sindicatos que representam os setores do mercado de trabalho com concentração de mulheres tiveram alguma influência? Foram consultadas organizações de mulheres, abrigos de mulheres ou ONGs? E as mulheres que trabalham no setor informal?

Terceiro, as mulheres são mais pobres que os homens e têm menos poder econômico. Se você está pensando em transferências de renda, essas pessoas terão como alvo indivíduos e não famílias, a fim de mitigar a dependência econômica das mulheres em relação aos homens?

Quarto, você está preparando intervenções direcionadas para famílias monoparentais, a maioria das quais são mulheres, quando as economias desaceleram ou chegam a parar?

Quinto, sabemos que mulheres e homens idosos estão em alto risco à saúde no momento. Mas as mulheres são a maioria das pessoas idosas em todo o mundo, especialmente as com mais de 80 anos. No entanto, elas tendem a ter pensões mais baixas e menos possibilidade de arcar com cuidados ou outros serviços. Sua administração conhece a situação das pessoas idosas? Você sabe se elas são deixadas sozinhas ou têm apoio? Se elas moram sozinhas e lhes dizem para não sair, você tem planos para garantir que alguém as sustente? Você sabe se as informações que todo mundo está dependendo agora chegaram até elas?

Sexto, quando existe cuidado a pessoas idosas, geralmente são as mulheres que o prestam. Isso pode ser feito por meio de trabalho remunerado ou simplesmente pelo apoio a sua família. O que você está fazendo para garantir que elas tenham proteção contra a transmissão? Você está se certificando de que elas estão sendo pagas? É o suficiente?

Sétimo, em muitos países, menos mulheres que homens têm seguro de saúde. O que você está fazendo para garantir que seus direitos a exames e cuidados de saúde sejam protegidos?

Oitavo, durante a crise, as pessoas precisam de acesso confiável a alimentos. As mulheres estão super-representadas no trabalho mal-remunerado de produção de alimentos, inclusive na agricultura e supermercados. O que você está fazendo para proteger a situação delas, incluindo as condições de trabalho, salários e acesso à terra?

Nono, em alguns lugares as escolas estão fechando. Aquelas pessoas com os recursos podem estar mudando para o ensino on-line ou remoto. O que você fez para garantir que as meninas não estejam cuidando de parentes mais jovens ou avós enquanto os meninos continuam estudando?

Décimo, o que você está fazendo para garantir que os cuidados maternos continuem sob circunstâncias seguras para funcionárias e mães? Os encargos dos sistemas de saúde estão levando-os ao ponto de ruptura. Então, como você está protegendo a saúde das mulheres, incluindo a saúde das mães, nesse contexto?

Segundo a diretora, a ONU Mulheres continuará o seu diálogo diário com governos, municípios e sociedade civil em todo o mundo para apoiar os direitos das mulheres e meninas. Essa crise nos testará, mas vamos superá-la melhor, mais rápido e talvez até recuar melhor, se mantivermos o nosso foco em respostas equitativas de gênero enquanto abordarmos a COVID-19.

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