Se numa guerra, como é conhecida a frase, a primeira vítima é a verdade, na pandemia do Coronavírus no Brasil se pode dizer que a primeira vítima foi a informação. A informação que se fosse levada a sério, com uma articulação nacional, do presidente da República ao mais distante prefeito municipal, baseada em dados e estatísticas, poderia ter evitado muitas mortes e ainda conciliado a ciência e a economia, com empresas abertas na maior parte do país e com muito menos desemprego como ocorre no momento.
Quando um motorista de uma ambulância, com paciente sentado ao seu lado ou deitado numa maca na parte de trás do veículo, é obrigado a ir de hospital a hospital para saber se tem uma vaga aberta, para receber mais um paciente, ele já está diante da vítima mortal que é a informação.
O Brasil possui centros de base tecnológica e de inovação comparados com os mais avançados países do mundo. O país conta hoje com mais de 13 mil startups, pequenas e nascentes empresas de tecnologias. Pelo menos 10 delas, sem contar com as médias e grandes empresas de tecnologia, conseguem montar um plano básico de informação na menor cidade do país até numa capital do tamanho de São Paulo. Esse plano de informação garantiria, por exemplo, a rota mais rápida e segura para o motorista da ambulância chegar num hospital, pronto para receber mais um enfermo. Essa informação pode e deveria ser online, atualizada em tempo real, em todo o país.
Desde a primeira morte na China, em janeiro e do anúncio oficial da pandemia pela Organização Mundial da Saúde, o Brasil teve tempo suficiente para montar um plano nacional e completo de informações, além de estruturar com leitos e equipamentos os hospitais existentes e criar novos para atender ao previsto crescimento no número de enfermos.
Mas o próprio presidente da República deu logo o tiro de misericórdia na informação ao dizer que o Coronavírus não passava de uma “gripezinha”. O governo de São Paulo também não levou a sério a primeira informação que teve, quando um morador paulista retornou da Itália com o Coronavírus. Pelo menos no quarteirão da casa desse morador paulista teria que ser feito um controle. A família e todas as pessoas que conviveram com esse paciente teriam que ser monitorados, com informações diárias.
Esse era o momento para conter a pandemia em São Paulo e no Brasil. Mas não foi feito. Os aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro e de todas as capitais ficaram livres, sem nenhum controle por um bom tempo, tempo suficiente para que o vírus, altamente contagioso, entrar e se espalhar por todo o país.
O que não podia ocorrer é o presidente da República de um lado pedir para abrir toda a economia e de outro um governador querer fechar tudo, sem informação, sem recorrer a dados de leitos disponíveis na rede pública e privada. A baliza, para tudo, dentro dessa atual pandemia, teria que ser a informação, disponibilizada por todo Brasil.
Cada bairro, de cada cidade brasileira, poderia desde o início do ano traçar um plano de informação para combater o vírus, baseado em dados e estatísticas. Se uma cidade, um estado inteiro, não tivesse nenhum foco, seria dia normal de trabalho, com todas empresas em funcionamento. Se num determinado bairro surgiu uma pessoa com sintomas, testa e isola em casa ou encaminhada a um pronto-atendimento médico, com monitoramento de informações diárias. Se fosse preciso isolar todo um bairro que se isolasse, com base em informações. Se numa cidade inteira o foco de contaminação cresceu, fecha toda a cidade. As duas maiores cidades brasileiras (São Paulo e Rio de Janeiro), bem como grande parte do Nordeste, não fizeram isso no tempo certo e a pandemia cresceu e ainda cresce por todos os bairros e por todas cidades brasileiras. Agora, é preciso voltar no tempo, reforçar o isolamento e dar um fluxo de atendimento aos pacientes na rede púbica e privada de saúde, sempre com base em dados e informações.
Na verdade, desde a primeira morte pelo Coronavírus na China, a informação foi descartada como remédio eficiente para curar ou reduzir os efeitos dessa pandemia. A informação precisava ser conduzida com articulação nacional, ditada pelo presidente da República. Sem essa articulação, a informação morre pelos descaminhos do país.
Agora, o brasileiro que não gosta que seu time seja vice em nada, desde a pelada no campinho da várzea até no campeonato brasileiro, poderá ainda ver o Brasil campeão dessa pandemia e superar no número de contaminados e mortes os Estados Unidos, cujo presidente também desdenhou a informação desde o início. Pelo menos neste campeonato desastroso, que será certamente a maior tragédia humana deste século, vamos torcer para o Brasil ser vice-campeão, já que desde o início deste jogo não entrou em campo a informação.
Acari Amorim é editor do portal e da revista Empreendedor