Dias estranhos. Eu sei que algo não vai bem quando perco a vontade de fazer coisas que gosto e que me trazem prazer.
Enrolo até não poder mais para levantar da cama, para fazer praticar o esporte que amo, tenho preguiça de cozinhar e fico sem ânimo até mesmo para escolher uma refeição em um aplicativo. É parece que algo não está legal.
Alguns dias são ruins, mas outros são bem piores. Bem piores mesmo! A solidão entra como um punhal. Dói!! Paralisa. Tira a concentração, o foco, a energia e consome meus pensamentos por completo. Do nada surge um… ah, como se seria diferente se….
A solidão é desesperadora. Bate uma saudade imensa de casa. Não vejo meus pais, que moram no interior do MS, desde o Natal passado. Nos imprevistos da vida, até hoje não consegui um voo para Corumbá, minha cidade de origem.
Sinto saudade de colo, de cuidado, de casa de pai e mãe. De comida de mãe então, nem se fala.
Nesse vai e vem dos dias, já se passaram sete meses. Me dou conta do imenso vazio que é viver na selva de pedra. Às vezes solidão, outras vezes solitude.
Os dois lados da moeda
Passar por esta pandemia sozinha tem sido ao mesmo tempo e desafio e aprendizado. Dor e prazer. Lágrimas e sorrisos. Silêncio e gritaria.
Sim, às vezes eu dou uns berros sozinha dentro de casa. Ligo o som nas alturas, canto, danço, pulo, grito e faço a vida parecer mais divertida. Já fiz até uma noite de carnaval baiano dentro de casa, assistindo vídeos do Bel Marques em Salvador.
Tem dias que aperto o Freud, um shih tzu lindo, sem vontade de largar. Converso com ele e até pareço a Felícia, sabe aquela do desenho animado?
A solitude e a introspecção têm ajudado muito a fazer um mergulho dentro de mim. Tenho explorado memórias, lembranças guardadas, amores passados, renúncias, escolhas…
Outro dia calcei o tênis e saí para correr à noite. Precisava correr até sentir o corpo doer. Fazer força pra valer. Sabia que só assim conseguiria liberar a tensão e me deliciar com uma boa noite de sono.
Hoje, ao contrário, ao invés de correr, optei por escrever. Deixar meus pensamentos caminharem livres, divagando sem destino certo. Me permiti chorar, ser vulnerável e não desperdiçar o poder deste momento.
Semanas atrás minha psicóloga recomendou que eu não desperdiçasse o poder das situações perturbadoras. Elas são responsáveis pelo nosso crescimento e amadurecimento.
Na incerteza e na dor sempre há espaço para a transformação. Vide a lagarta que se transforma em uma linda borboleta, em um completo processo de metamorfose. Se pararmos um minuto para pensar, mudanças, evolução e sobrevivência caminham conosco desde a época das cavernas.
Portanto, aqui estou eu fazendo do silêncio um momento de criação. Sobre as reflexões que carrego comigo? Alguns dias têm sido difíceis, mas todos eles passaram. As escolhas têm feito sentido, a gratidão tem se feito presente e a redescoberta segue sendo parte do meu caminhar.
Não sei quando essa pandemia vai passar. Não sei quando teremos vacina. Não sei quando poderei abraçar com muita força aqueles que eu amo.
Só sei que, nessa coisa louca de isolamento social, tenho feito valer a pena cada instante, inclusive os mais perturbadores!
*Tatiana Pimenta é CEO e fundadora da Vittude. Engenheira que se apaixonou pela Psicologia, pelo estudo constante do comportamento humano e da felicidade. Com mais de 15 anos de experiência profissional, foi executiva de sucesso em empresas de grande porte como Votorantim Cimentos e Arauco. Única brasileira finalista da premiação internacional Cartier Women’s Initiative Awards em 2019. Faz terapia há mais de 8 anos, é maratonista amadora e praticante de Mindfulness. Encontrou na corrida de rua e na meditação fontes de disciplina, foco, felicidade e produtividade. É colunista dos portais Money Times, Startupi e Superela.