Daqui a 10, 20 anos e para sempre, cada pessoa, num lugar do mundo, vai lembrar que perdeu para a pandemia do Coronavírus, em 2020, alguém da família, um ou mais amigos e muitos conhecidos. Neste final de semana, o mórbido painel bateu a triste barreira de 200 milhões de infectados e 200 mil mortes em todo o mundo. O Brasil superou 60 mil casos e mais de 4 mil mortes.
Então, essa dor, no fundo do coração de cada um, não vai passar nunca.Mas nós aqui no Brasil e todos, em todo o mundo, podemos ser melhores do que somos hoje. E temos que começar a ser melhores agora mesmo, neste momento, quando ainda lágrimas escorrem de muitos rostos.
Todos os profissionais de saúde, os produtores de alimentos e quem entrega produtos de primeira necessidade, que colocam suas vidas em risco com essa pandemia, já estão entre os primeiros que podem ser considerados melhores, como pessoas e profissionais. Muitas instituições, muitas empresas também já podem ser consideradas melhores. Muitas indústrias trocam o chão de fábricas para produzir diferentes equipamentos para a saúde. Muitos jovens estudantes, em diferentes centros acadêmicos de pesquisa, em diferentes regiões do país, voltaram seus conhecimentos para encontrar soluções para atender também ao sistema de saúde brasileiro. Esses jovens também podem ser considerados novas pessoas, novos profissionais, diante de um mundo que tem de mudar, para melhor.
No entanto, no nosso caso, o paciente Brasil, vai ficar exposto na maca, no corredor de um hospital, dentro de uma ambulância ou mesmo no carro de passageiro na frente de um hospital à espera de uma vaga de internamento, com todas as suas deficiências à vista. A começar pela própria saúde. Se o sistema privado trabalha com muitas e sérias limitações, o que esperar do sistema público brasileiro de saúde? O melhor remédio até hoje é rezar para não ficar doente, para não precisar entrar num hospital, em especial os da rede pública, muito mais agora nesse período de pandemia.
Mas a grande ferida que ficará exposta no paciente Brasil será a das diferenças sociais, da exclusão social, em maior número nas periferias, nas favelas espalhadas por todo o Brasil, em maior número no Rio de Janeiro, em São Paulo e em outras grandes capitais. Nessas áreas falta o básico, até a água para beber e lavar as mãos, tão necessária sempre. Sem saneamento básico, na maioria das precárias casas ali erguidas vivem em um, dois cômodos até oito ou mais pessoas, sem as mínimas condições humanas. O que será desse seres humanos se a epidemia não for contida? Nesses ambientes, o vírus que é altamente contagioso vai correr por rastros de pólvora. Pode ficar diante de nossos olhos uma tragédia humana sem precedente no Brasil.
Essa dor não vai passar. Mas podemos melhorar se for para começar já. Agora, o plano é emergencial, de socorro a vidas humanas, que já está sendo executado, embora com relativo atraso e sem uma agilidade ainda mais necessária. Junto com essa ação tem que vir uma outra, com a mesma força, para combater a fome. O dinheiro tem de chegar rápido e direto nas mãos das pessoas com mais dificuldades e necessidades. Também é preciso cuidar da saúde das empresas e dos empregos, principalmente dos pequenos estabelecimentos de bairros, e de toda a economia criativa, formada por eventos, espetáculos, casas de shows, cinemas, cafés, restaurantes e o turismo em geral, que são os estabelecimentos mais afetados.
Temos que ter em mente que não estamos lidando com uma crise financeira, como a que ocorreu em 2008/2009, gerada pela especulação imobiliária em grande parte nos Estados Unidos. Essa é uma crise humana, uma tragédia humana, gerada por uma doença infecciosa de rápido propagação mundial.
Mesmo com o olhar fixo nessa tragédia humana e na busca de urgentes soluções, já temos que ter os olhos num amplo plano de inclusão social, que comece com uma melhor estrutura pública da saúde, de saneamento básico e de educação, a começar do básico e que passe pelo ensino médio técnico até o nível superior.
Vamos sofrer e chorar muito ainda. A verdade é que esse vírus não escolhe rico, nem pobre. Negro ou branco. Mulher ou homem. Todos são atingidos. Por isso o mundo tem que se unir, criar forças conjuntas, na mesma direção. Só assim vamos ter um novo país, um novo mundo, menos desigual e mais justo.
Podemos ter a certeza que não vai passar, mas que podemos ser melhores sim.