A pandemia causada pelo Coronavírus e a necessidade de isolamento social já fez o primeiro bilionário: o chinês Eric Yuan. Ele montou, em 2011, na Califórnia, nos Estados Unidos, a empresa Zoom que combina e possibilita o acesso a videoconferência, reuniões online e bate-papo com imagem. O chinês da província de Shandong, que teve seu visto de permanência negado nos Estados Unidos por 8 vezes seguidas, só nos últimos três meses embolsou U$ 4 bilhões de dólares e engordou sua fortuna para U$ 7,5 bilhões.
Além da fortuna, a façanha desse chinês deixa hoje de boca aberta o mais experiente economista ou estrategista de empresas. O valor atual de mercado da Zoom (preço de cada ação negociada na bolsa de valores americana multiplicado pela quantidade delas distribuídas) é de U$ 49 bilhões. Esse é o mesmo valor das 7 maiores companhias aéreas do mundo juntas: Southwest (U$ 16,3 bilhões), Delta (U$ 13,9 bilhões), United (U$ 6,9 bilhões), American Airlines (U$ 4,1 bilhões), IAG (U$ 4 bilhões), Lufthansa (U$ 3,8 bilhões) e Air France (U$ 1,6 bilhão). As ações da Zoom só em 2020 já subiram 160% com um pulo no valor de cada ação de U$ 68 para U$ 175.
Hoje se for perguntado a um presidente, diretor ou executivo de qualquer empresa do mundo o que ele fez durante todo o dia, certamente uma das respostas será pelo menos uma reunião online, provavelmente com o uso da tecnologia da Zoom. Só de clientes corporativos, muitos de grande porte, hoje a Zoom tem mais de 30 mil, entre eles a Samsung, Uber e a Walmart.
Foi justamente a distância (10 horas de trem) e a vontade de ver a namorada, ainda quando morava na China e cursava a faculdade, que fez Yuan pensar no que é hoje a Zoom. Imaginava um “aparelho” que só fosse preciso apertar um botão e ver o rosto e falar, no caso particular dele, com o amor da sua vida. Na verdade, conseguiu montar uma ampla plataforma de serviços de vídeos, hoje espalhada pelo mundo. E mais: conquistou para sempre o coração da sua namorada. Casou com ela, vivem juntos e hoje eles têm dois filhos.
ERIC YUHN
Idade: 50 anos
Cidade natal: Tai ’an, província de Shandong, na China
Formação: Matemática Aplicada e Engenharia
Empresa: Zoom (videoconferência, reunião online e bate-papo com imagem)
A trajetória de um empreendedor obstinado
Da pequena província da China até o Vale do Silício nos Estados Unidos, Eric Yuan trilhou um caminho de muitos estudos e de muito trabalho até construir o que é hoje a Zoom. A seguir, 16 passos e ações desse empreendedor que chegou ao topo mundial dos negócios.
1. Filho de engenheiros de mineração, Eric Yuan nasceu na cidade de Tai´an, na província chinesa de Shandong, em 1970. Ele é formado em Matemática Aplicada na Shandong University of Science and Technology e ainda tem um mestrado em Engenharia.
2. Desde cedo, Yuan já mostrava aptidão para empreender. Na adolescência, ele coletava materiais de construção para reciclar o cobre e revendê-lo. No entanto, em certa ocasião, ele tentou queimar o material extra em um galinheiro atrás da casa do vizinho e a coisa saiu do controle. O fogo tomou conta do terreno e os bombeiros tiveram de ser chamados para apagar o incêndio. “Meus pais ficaram realmente chateados”, afirmou.
3. Yuan trabalhou por quatro anos no Japão. Depois de ouvir um discurso de Bill Gates, ele resolveu empreender no Vale do Silício. Mas, para isso, enfrentou um obstáculo pesado: seu visto para morar e trabalhar nos Estados Unidos foi negado oito vezes pelo Departamento de Imigração do país. Apenas na nona tentativa ele seria aprovado, se mudando para a Califórnia em 1997, aos 27 anos.
4. Enquanto aprendia inglês, Yuan trabalhava em uma startup de videoconferências chamada WebEx. Em março de 2007, ela foi comprada pela gigante Ciscopor US$ 3,2 bilhões e Yuan foi incorporado ao quadro de funcionários da sua nova empregadora.
5. Na Cisco, Yuan se tornou vice-presidente corporativo de engenharia. Foi lá que ele teve a ideia de integrar vídeos às plataformas de conferências da companhia. Em 2011, ele apresentou aos seus chefes um protótipo de sistema de videoconferências, que pudesse ser usado em smartphones. A ideia não foi aprovada.
6. Antes de fundar a Zoom, ele ficou insistindo na ideia de uma plataforma de videoconferência para o WebEx por mais um ano junto aos seus chefes.
7. Ao concluir que a sua ideia de videoconferência nunca seria aprovada na Cisco, Yuan parou de insistir e resolveu sair da empresa para fundar a sua própria, sendo seguido por 40 engenheiros que toparam encarar o desafio. O problema é que Yuan não tinha dinheiro para a empreitada, logo precisou pedir emprestado para familiares e amigos, até que conseguisse achar investidores que acreditassem na sua ideia. E, finalmente, em junho de 2011, ele fundou a Zoom Video Communications, na cidade de San Jose, na Califórnia.
8. Como acontece em quase todas as startups iniciantes, os integrantes da Zoom precisaram “bater o escanteio e correr para cabecear”. No caso de Yuan, quando algum cliente cancelava o serviço do Zoom, ele enviava pessoalmente um e-mail para a pessoa, tentando entender os motivos do cancelamento. Algumas pessoas, claro, não acreditavam.
9. Eric Yuan não é exatamente um grande fã de viagens, nem mesmo as mais curtas. Para fazer o road show de seu IPO(sigla em inglês para Oferta Pública de Ações, ou seja, quando a empresa se torna pública, oferecendo ações na Bolsa de Valores), ele fez apenas uma, de 80km, até a cidade de San Francisco. E isso apenas para garantir que os potenciais investidores tivessem o Zoom instalado em seus computadores. Feito isso, ele voltou ao escritório e continuou a trabalhar. Outra das raras viagens foi quando ele precisou ir até Nova York, para o início das operações da empresa na Nasdaq em 2019. Foi apenas a sua oitava viagem de trabalho em cinco anos.
10. Mesmo desconhecida de boa parte do público até o início da pandemia da COVID-19, a Zoom já tinha dezenas de milhares de empresas como clientes, sendo muitas de grande porte, como Uber, Walmart, Capital One e Samsung. A maioria delas usa a versão gratuita do produto, mas quase 400 organizações pagam mais de US$ 100 mil por ano pela versão Premium da plataforma. Hoje, a Zoom tem mais de 50 mil clientes corporativos.
11. O IPO da Zoom ocorreu em 2019 e foi uma das mais bem-sucedidos do ano passado, obtendo um valuation inicial de US$ 15,9 bilhões. Hoje, a empresa tem um valor de mercado de US$ 35 bilhões, maior que a Uber, por exemplo.
12. Yuan tem, hoje 19% de participação na Zoom. Apenas nos últimos quatro meses, ele faturou US$ 4 bilhões e sua fortuna atual é estimada em US$ 7,57 bilhões. Sim, ele já está na lista das 500 pessoas mais ricas do mundo feita pela Bloomberg (na 211º colocação). Deve entrar na da Forbes em breve.
13. Eric Yuan é um grande fã de basquete e é apaixonado pelo Golden State Warriors, time da NBA sediado na cidade de Oakland, muito próxima a San Francisco. Tanto que ele abriu espaço para que um dos jogadores do time pudesse ser um investidor da Zoom. A surpresa é que o atleta escolhido não foi uma estrela como Stephen Curry ou Kevin Durant, mas, sim, o ala-armador Andre Iguodala (hoje no Miami Heat). “Tivemos uma ótima conversa sobre como meu jogo se relaciona com o negócio dele, fazendo as pequenas coisas da maneira certa”, disse Iguodala a Forbes. O sentimento, ambos dizem, é mútuo: respeito por um profissional que vence colocando a equipe diante do ego.
14. Ao contrário de outros magnatas da Tecnologia, Yuan não tem um estilo de vida chamativo. Para se ter uma ideia, na sede da Zoom, ele sequer tem um escritório próprio. Prefere dividir o espaço com a Chefe de Produtos da companhia (CPO), Oded Gal. Além disso, ele dirige um Tesla, muito provavelmente comprado com desconto, já que a montadora é uma das clientes da Zoom.
15. Aliás, o seu estilo de vida frugal (ou pão-duro) o leva a alguns extremos: ele faz questão de reembolsar a Zoom quando dá a um amigo uma mochila com o logo da empresa.
16. Mesmo com todas as atribuições como o CEO de uma empresa de dezenas de bilhões de dólares, Yuan é considerado um pai presente. Ele é bastante envolvido na carreira de basquete de seu filho mais velho e acompanhava quase todos os jogos. Mas, como ninguém é de ferro, ocasionalmente ele participa de reuniões da sua empresa, dentro do ginásio, enquanto as partidas acontecem.17. Mesmo bilionário e com uma empresa que já está entre as maiores no setor de videoconferências, as metas de Yuan são ambiciosas. Ele quer conectar o mundo corporativo, como o Facebook fez com as pessoas. “É como uma maratona”, ele já afirmou. “Você está a 8 quilômetros à minha frente, tudo bem. Eu vou correr mais rápido que você”.
Fonte: Forbes, Fortune, Medium, Financial Times, Business Insider, Bloomberg