No carnaval da pandemia só sai uma escola e ganha nota 10

O que poderia ser um enredo de negações, brigas e controvérsias, o carnaval de 2021 no Brasil evolui de forma disruptiva,  para usar uma expressão do mercado,  ou transgressora mesmo, sem  blocos de ruas , escolas de sambas, passos, cores e luzes. O Neguinho da Beija Flor deu um testemunho definitivo. “Desfilar na passarela seria passar por cima de cadáveres”.

Mas não foi fácil cancelar ou adiar um evento desses, que não é mais um evento, mas um dos maiores do Brasil e um dos maiores do universo em alegria e giro financeiro. A não realização do carnaval nos dias marcados deixa de circular pelo país nada menos do que R$ 8 bilhões só pelo turismo, calcula a CNC ( Confederação Nacional do Comércio).

É a terceira vez que o carnaval é adiado no Brasil. A primeira vez ocorreu em 1892 por decisão do Ministro do Interior na época, Cesário Alvin. Ele tomou essa decisão devido a febre amarela  que se espalhava por todo o país e impossibilitava recolher o lixo das ruas.  Nesta época o carnaval no Brasil era bem violento. As pessoas saiam nas ruas para atacar outras pessoas com farinha, água e limões de cheiro. As escolas de samba não existiam na época.

O segundo cancelamento do carnaval ocorreu em 1912. Uma semana antes da festa morreu o Ministro das Relações Exteriores, José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido por Barão do Rio Branco. Jornalista, político e diplomata, o Barão do Rio Branco era considerado uma espécie de Deus. Ele conseguiu, sem nenhum conflito armado, só na conversa, agregar para o Brasil mais de 900 mil quilômetros de áreas de terra da França, Argentina e Bolívia.

Pareceu ser uma decisão sensata, justa referência ao eminente político. O carnaval foi adiado para junho. Estava tudo certo. Combinado. Mas chegou o sábado de carnaval e o povo não resistiu. Foi para rua afogar as mágoas e acabou o luto cívico. Em junho teve outro carnaval e a marchinha mais tocada lembrava o Barão. “ Com a morte do Barão, tivemos dois carnavá. Ai que bom, aí que gostoso, se morresse o marechá”. O marechá não era nada menos do que o Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Brasil.

Durante a terrível gripe espanhola, entre os anos de 1918 e 1919, que matou mais de 50 milhões de pessoas  em todo o mundo e só no Brasil mais de 35 mil ( 15 mil no Rio de Janeiro que era o maior centro urbano do Brasil na época), não foi alterada a data do carnaval. Logo após o carnaval de 1918 a pandemia se propagou muito forte e foi até outubro e novembro de 1919. Assim não foi alterado o calendário do carnaval desses anos.  Pelos relatos da imprensa da época e de livros históricos, a festa de 1919 é apontada como uma das melhores, mais alucinante e animada de todos os tempos.

Devido a pandemia do coronavírus, o carnaval deste ano é adiado pela terceira vez.  Mesmo que essa pandemia no país seja agravada pelas comorbidades  dos desentendimentos políticos, da falta de organização operacional e da negação da própria pandemia que ao completar o primeiro ano deve matar mais de 250 mil brasileiros,  o carnaval deste ano convergiu para um enredo único. A maioria concordou e apoiou o desfile de uma única escola: a Unidos pela Vacina. A escola, com as cores da  Ciência, ganhou nota 10.

 

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