No gramado ou na empresa, a bola é a mesma!

Caio Infante, especialista em RH e vice-presidente regional da Radancy

Especialista em RH compara e mostra a relação entre o universo das empresas com as polêmicas e a busca por resultados dos gramados A recente demissão do técnico Vanderlei Luxemburgo do Corinthians mostrou a relação que existe entre o comandante de um time nas quatro linhas do campo e um executivo, um dirigente, dentro de uma empresa.

Cobrado por melhores resultados, Luxemburgo foi desligado do time em meio a opiniões divididas dos brasileiros. E por mais que isso pareça estar distante da realidade da maioria das pessoas, a verdade é uma só: o mundo do futebol tem tudo a ver com o dia a dia das empresas.

O especialista em Recursos Humanos Caio Infante, vice-presidente regional da Radancy ( líder mundial no recrutamento e aquisição de talentos) e um dos co-fundadores da Employer Branding Brasi,l nesta entrevista mostra que os bons princípios de gestão tem que nortear um time de futebol e uma empresa de qualquer porte ou segmento de atuação.

Empreendedor: Qual a relação que é possível fazer de um técnico de um time de futebol e de quem comanda uma empresa?

Caio Infante: Falta de planejamento, preocupação com a carreira, reputação, experiências anteriores e a busca por resultados são fatores comuns tanto no mundo das empresas como no mundo do futebol. E a proximidade entre estes dois universos, que parecem opostos, é importante para que as pessoas, como profissionais, se atentem e entendam, de maneira mais fácil, a importância de tudo isso no dia a dia profissional.

É possível fazer uma analogia simples entre os clubes esportivos, uma vez que o tema futebol é a paixão dos brasileiros, e as empresas, independentemente de porte ou área de atuação. A carreira no futebol, como qualquer outra, envolve altos e baixos de empresas (clubes) e chefes (dirigentes e treinadores), equipe (jogadores) e público (torcida).

 

A necessidade constante de superar desafios, obter resultados é o mais comum entre eles e ao mesmo tempo o mais importante?

Esse é dos primeiros pontos em comum. Deixo claro que estes desafios variam de pessoa para pessoa, do momento de vida, da família etc. O Ronaldo Fenômeno, por exemplo, largou milhões de euros na Europa em 2009 para encarar o novo desafio de defender um grande time brasileiro. O futebol movimenta muito dinheiro e conhecemos atletas com super salários, porém, quantos não são os que negam propostas para ganharem ainda mais, por lealdade ou por se sentirem à vontade com o clube, a Diretoria e a torcida?

O ex-goleiro Marcos, do Palmeiras, por exemplo, negou uma proposta do Arsenal, da Inglaterra, para jogar a Série B onde estava. Messi já recusou ofertas bilionárias da China e da França para seguir sua carreira e seu legado no Barcelona. O movimento atual de muitos executivos, que deixam grandes corporações para se aventurarem em startups, também mostra que, nem sempre, o dinheiro é o mais importante numa escolha.

Estes profissionais também são motivados por desafios, propósitos e outros atributos que aquela grande organização talvez não o ofereça mais. A consequência desta escolha são melhores resultados em forma de títulos, fama e dinheiro para atletas e clubes e lucro, produtividade, promoções de carreira e engajamento para colaboradores e empresas.

Existem clubes e empresas que são mais atraentes do que outras. O que isso influi nas decisões dos profissionais?

Alguns clubes são mais atraentes que outros, seja pelo tamanho da torcida, pela disputa de títulos ou pela qualidade do elenco. Em uma empresa, a busca por status e inovação e a vontade de transformar o mercado são alguns dos atributos que as pessoas procuram. No caso de um jogador que quer chegar à Seleção de seu país, por exemplo, é preciso jogar e ter oportunidade de mostrar seu futebol.

 

O técnico, o jogador precisa sempre estar bem, jogando bem, para se expor e buscar de novas oportunidades. Como ocorre essa relação no mundo corporativo?

Um profissional que quer crescer e se desenvolver também precisa desta exposição. Algumas empresas, assim como clubes, conseguem entregar atributos e atrair os melhores talentos ou jogadores. Qual é o jovem que não tem o sonho de jogar no Barcelona, da Espanha, por exemplo? E a sua empresa, é o Real Madrid ou o Íbis do mundo corporativo?

 

Qual a importância do marketing na construção de um time e de uma empresa?

Cito o exemplo do clube inglês Manchester United. O clube não nasceu um time grande. Foi preciso conquistar títulos, ter exposição na mídia e fazer excursões pelo mundo para garantir uma legião de fãs, hoje consumidores. Querer fazer parte desta jornada foi o que garantiu ao clube jogadores como Beckham, Tevez e Cristiano Ronaldo.

O outro clube da Cidade, o Manchester City, levou anos para ter uma estrutura similar à do rival e ser tão atrativo quanto e ainda levará anos para ter os mesmos títulos e status.

Trazendo o exemplo para o Brasil, o Flamengo acabou se tornando um dos clubes mais populares do País por conta das transmissões do futebol carioca para o Norte e o Nordeste nos anos 80 com um time vitorioso comandado por Zico, ídolo nacional.

 

 Qual a importância para contratar, reunir talentos num clube e numa empresa?

Se um time já possui três goleiros, não faz sentido investir na contratação de mais um ou dois atletas para esta posição, certo? Porém, se o ataque não está funcionando, os esforços deverão ser focados em atrair bons atacantes. Em uma empresa, definir bem qual é o talento necessário a ser contratado faz toda a diferença na hora de escolher onde investir recursos para resolver problemas reais do negócio.

É comum que um jogador de time pequeno ou do interior desponte em um campeonato e, já no ano seguinte, seja cobiçado por grandes clubes. A melhor proposta de trabalho, oportunidade de conquistar títulos, jogar com grandes colegas e ser treinado por um bom técnico são fatores que pesarão na decisão para o próximo passo de carreira. É preciso se diferenciar sempre.

 

Qual a importância e relação da liderança em um time e numa empresa?

Para garantir bons desempenhos e resultados, é preciso que o time tenha sinergia, respeito e confiança entre todos e com os líderes, que precisam saber como tirar o melhor de cada atleta. Alguma semelhança entre times e empresas? Todas: basta trocar a palavra “atleta” por “colaborador”.

 

Tem peso significativo a indicação de um profissional para outro?

Programas de indicação são comuns em muitas empresas. Conhecendo bem o ambiente e se sentido satisfeitas e reconhecidas, as pessoas indicam o lugar onde trabalham para outros profissionais com quem convivem. Ligações entre atletas antes de mudarem de clube também ocorrem para saber como é a Diretoria, o Centro de Treinamento etc.

 

Como reter os bons talentos e que eles possam contribuir para o crescimento do time ou da empresa?

É comum vermos jogadores rodando de clube em clube, sem deixar uma marca por onde passam. Quantas pessoas ficam um ano em uma empresa e já partem para um novo desafio? Os grandes ídolos, assim como os grandes profissionais de sucesso, permanecem na empresa ou no clube que amam, se tornam referência e incorporam o sobrenome corporativo, sendo lembrados para sempre como Marcelinho do Corinthians ou o Jack Welch da GE (multinacional americana General Electric). Sem dúvida, a performance e os resultados dentro de campo e nos negócios ajudam a construir esta história.

CAIO INFANTE

Cidade natal: São Paulo (SP)

Idade: 52 anos

Formação: Publicidade e Propaganda pelo ESPM e MBA em Gestão Internacional pela Universty of Technology, em Sidney, na Austrália.

Cargo atual: vice-presidente regional da Radancy. Co-fundador da Brandig Brasil, a maior comunidade sobre marcas empregadoras, com mais de 40 mil seguidores nas redes sociais. Diretor de Patrocínio da ABRHSP (Associação Brasileira de Recursos Humanos/SP).

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