Empresas ‘nascentes’chegam ao mercado com proposta de remuneração arrojada atrelada a metas de resultado
Você provavelmente nunca ouviu falar na empresa Energias Renováveis do Brasil (ERB), uma companhia que concentra seus 30 funcionários em um escritório no bairro do Itaim, em São Paulo. Apesar de contabilizar faturamento zero, a empresa oferece – graças ao aporte de R$ 120 milhões que recebeu de dois investidores – remuneração variável de até oito salários a executivos. Além disso, desenvolve um plano que envolve um IPO (oferta inicial de ações) que transformará os funcionários em sócios da companhia.
Interessou? Então pense novamente. De acordo com especialistas em recursos humanos, um cargo em uma empresa "nascente" não é para todo mundo. Para o diretor da consultoria Doers, Marcelo Santos, as startups exigem sangue frio e paciência do funcionário. Quem procura muita estabilidade pode se deparar com a ausência de vários confortos da vida corporativa em grandes companhias : além de perder o pomposo "sobrenome" corporativo, esses profissionais também ficam sem a estrutura física e de pessoal a que se acostumaram ao longo do tempo. "O perfil é empreendedor", afirma.
Para Patricia Epperlein, sócia-diretora da consultoria Mariaca, a opção pelo trabalho em um novo negócio exige, de certa forma,espírito de aventura. "A pessoa precisa ter autonomia, responsabilidade e autoconfiança. É necessário achar as respostas rapidamente, com pouca margem para erro. Um deslize no mercado pode ser fatal para a imagem de uma empresa que ainda não tem história no mercado", diz.
Em certos casos, a aposta vale ouro: segundo Patricia, um fator de atração que as empresas nascentes usam é a remuneração variável ligada aos resultados – se bater as metas, o funcionário recebe bônus competitivos em relação às grandes companhias. "A pessoa tem que colocar na balança: ou quer a estabilidade de uma grande empresa, ou quer arriscar em uma startup", resume a consultora da Mariaca. Além disso, especialistas em RH concordam que a experiência de montar um negócio do zero é sempre um ponto alto no currículo de um candidato a executivo.
Embora muitas propostas sejam tentadoras, é preciso ter cuidado para que, seduzido por elogios e promessas, o profissional não entre num barco furado. "É preciso conferir o lastro financeiro que a empresa possui. Se a empresa mostra problemas para fechar as contas do mês, é melhor esquecer", diz Santos, da Doers. Outro fator importante é tentar enxergar se a companhia tem um plano claro de negócios para o longo prazo. "A estratégia tem que vir primeiro. É algo necessário para que a empresa não se perca em uma futura crise."
Desenho. O diretor executivo da ERB, Paulo de Tarso Vasconcellos Neto, afirma que a companhia se empenha em definir uma estrutura de "gente grande". Atualmente, a ERB tem apenas um contrato de longo prazo fechado com a petroquímica alemã Dow, que renderá à companhia R$ 100 milhões por ano, a partir de 2014. Vasconcellos afirma, porém, que 14 outras parcerias estão em fase de negociação. A meta da ERB é faturar R$ 1 bilhão em cinco anos – neste período, o número de funcionários deve subir a mais de 300.
Como pretende abrir o capital, a ERB já montou uma gerência de sustentabilidade e uma área de governança corporativa. A empresa, que montará usinas de biomassa para fornecer energia e combustível para grandes empresas, pretende financiar os futuros projetos com recursos de fundos de investimento e financiamentos captados em instituições como o BNDES.
"A ideia é fugir da noção da empresa de dono. Vamos preparar uma estratégia de mercado, pois queremos evoluir para o IPO. E é importante para nós incluir os funcionários", diz Vasconcellos, executivo do mercado financeiro que iniciou a ERB do zero há três anos, ao lado de Emilio Rietmann, vindo do agronegócio.