Economista por formação, Itali Collini assumiu a direção da 500 Startups em setembro do ano passado. Ela já atuou no mercado financeiro, nas empresas Sitawi e Landmark Capital. Também já foi empreendedora, no comando de projetos próprios, entre eles a Genera (Núcleo da USP de pesquisa em Gênero, Raça e Sexualidade) e a Incluser, uma startup de diversidade e inclusão social.
Itali revela que essa sua experiência e vivência entre finanças, empreendedorismo e impacto social, permitiu entender e perceber o grande potencial da 500 Startups no Brasil. No entanto, a diretora da 500 Startups alerta para os sérios obstáculos para um maior crescimento do empreendedorismo no Brasil. Segundo ela, esses maiores obstáculos estão na burocracia, na falta de capital e na ausência de um maior número de serviços especializados para atender às startups brasileiras.
Qual a visão e a perspectiva futura do 500 Startups, que é um fundo global, com sede em São Francisco, em relação ao mercado brasileiro de startups?
O mercado brasileiro de startups floresceu na última década e é destaque em número de aceleradoras, por exemplo, com 40 existentes no país, frente a 250 no mundo, de acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas. Na América Latina, o desenvolvimento do setor também foi grande e isso reflete nos números, de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), os jovens latino-americanos são mais favoráveis ao empreendedorismo que os europeus. Nada menos de 41% dos latino-americanos pensam em empreender, frente a 19% no velho continente. Porém, a inovação não é e nem deveria ser feita apenas no ecossistema de empreendedor. Por isso a mais nova tendência consiste em não só fomentar o empreendedorismo, mas também aproximar empresas já consolidadas do ecossistema empreendedor para que haja trocas construtivas em termos de inovação em produtos, processos e pessoas. A perspectiva da 500 Startups é que seja possível conectar-se também a empresas brasileiras e desenhar programas que possam ser rodados no Brasil.
O ambiente brasileiro para acelerar uma startups é diferente em relação a outros países? Quais as diferenças?
Cada país tem suas peculiaridades e a 500 sente que pode levar o que há de melhor na nossa aceleração do Vale do Silício para se adaptar e agregar a outros países. Nesse sentido, já rodamos programas próprios em São Francisco, Miami, Cidade do México e com parceiros no Uruguai, Tailândia, Japão e Rússia. Geralmente há variedade em níveis de maturidade do ecossistema, quantidade de capital disponível, burocracia e presença de organizações que fomentam ou oferecem serviços às startups. O ambiente brasileiro já possui um ecossistema relativamente maduro na presença de aceleradoras e fomentadores, porém ainda tem um longo caminho no que se refere à burocracia, capital disponível e empresas que ofereçam serviços especializados para startups.
Hoje o 500 Startups conta com 40 startups no país. O objetivo futuro é manter ou ampliar esse grupo?
A 500 acredita no potencial do ecossistema brasileiro e enxerga oportunidade para continuar investindo através dos seus programas de aceleração. As startups brasileiras têm oportunidade de aplicar para o principal programa em São Francisco, chamado SeedAccelerator o qual investe 150 mil dólares em troca de 6% do negócio, e para os eventos em Miami, que podem variar entre programas de aceleração e bootcamps (expressão americana de “campo de treinamentos” em empreendedorismo, tecnologia ou marketing).
Quais os segmentos empresariais que o 500 Startups tem mais interesse em investir?
A 500 Startups tem uma tese de investimento bastante abrangente e isso permite a empreendedores, com altas taxas de crescimento, dos mais diversos setores e lugares do mundo, que se inscrevam para aceleração e investimento. Alguns setores que interessam e já investimos são: Fintechs – como a QueroQuitar, Healthtechs – como a Boa Consulta e ProntMed, Developer Tools – como a IDWall e Runrun.it, Online to Offline – como a Olist.
Quais os principais critérios para o 500 Startups decidir acelerar uma empresa?
Para competir ao SeedAccelerator em São Francisco, a startup deve ter um MVP (sigla do inglês para Minimum Viable Product ou Produto Mínimo Viável), estar gerando receita, ter um ritmo de crescimento na base de clientes alto, algo entre 15 e 30% mês a mês, e ter um churn – quantidade de clientes que cancelam o serviço – baixo, menor que 5%. Para outros programas e bootcamps há critérios que variam, no último programa que tivemos em Miami estávamos buscando startups em estágio de pré-captação de um Series A, por isso a visão sobre receita e base de clientes era diferente do programa de São Francisco.