O Dom Quixote de la Mancha, o Dom Quixote de Brasília e o dia 7 de setembro

Dom Quixote

Dom Quixote de la Mancha foi um senhor de meia idade, alto, magro, que depois de ler muitos romances de cavalaria resolveu ser um cavaleiro andante em busca de justiça para todos. O Dom Quixote de Brasília depois que concorreu para presidente da República do Brasil resolveu ser um cavaleiro andante digital, em eterna campanha eleitoral, para manter seus seguidores fiéis.

Os dois Dom Quixote têm em comum que comandam exércitos imagináveis, que se movimentam só na cabeça deles e ostentam uma mesma armadura, feita de papelão. Um vive desde quatro séculos atrás, superou diferentes vírus, e o outro vive a atual pandemia, sem se importar muito com ela.

Dom Quixote de la Mancha está vivo até hoje, eternizado na literatura universal. Desde que o espanhol Miguel de Cervantes Saavedra lançou pela primeira vez o livro Dom Quixote de la Mancha, em 1605, até hoje é reconhecido como um dos melhores escritores de todos os tempos. Só para dar uma dimensão desse escritor basta dizer que o idioma espanhol é muitas vezes referido como a língua de Cervantes.

Quando jovem, Cervantes foi soldado, igual ao Dom Quixote de Brasília. Ele participou de duelos com lanças pontudas e se feriu uma vez, quase morreu.

O Dom Quixote de Brasília nunca duelou com lanças, embora na sua barriga tenha a marca da perfuração de uma faca quando era carregado nos ombros de simpatizante nas ruas da cidade mineira de Juiz de Fora, na última campanha eleitoral. Mas ele já agitou muito, dentro e fora dos quartéis. Em 1986, escreveu um artigo na revista Veja quando reclamou de baixos salários no exército. No ano seguinte, articulou um plano que até previa explosão de bombas em quartéis.

Cervantes, depois de ferido, decidiu seguir a carreira de escritor para satirizar as novelas medievais, repletas de heróis bravos, perfeitos e imortais. O atual Dom Quixote de Brasília, por sua vez, depois de ferido, se fortaleceu e foi eleito presidente da República do Brasil.

Dom Quixote de la Mancha, na sua loucura, travou uma batalha contra os moinhos de ventos que considerou verdadeiros “gigantes do mal”.  Bolsonaro enxerga nos prédios do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) os seus “gigantes do mal”.

Outra grande batalha de Dom Quixote de la Mancha foi contra um “exército de ovelhas” que se postou diante dele num vasto campo aberto. Esse exército de ovelhas para Bolsonaro certamente é o aglomerado de pessoas com bandeiras vermelhas. Na batalha de Dom Quixote contra o exército de ovelhas, segundo relato de Cervantes, o principal registro foi que ele recebeu uma grande surra dos pastores.

Dom Quixote de la Mancha e Dom Quixote de Brasília retratam bem os momentos pitorescos da história. O Dom Quixote de la Mancha saiu pelas ruas em busca da justiça e também da bela donzela imaginária Dulcinéia de Toboso. O Dom Quixote de Brasília busca também a sua justiça. Não se sabe bem ainda qual donzela ele busca. Se teme que o nome dela seja Ditadura.

Enquanto isso, por falta de vacinas para conter e debelar a pandemia, a economia continua emperrada, agravada pelo aumento da inflação.

Dom Quixote de la Mancha, depois das suas andanças, voltou para casa, caiu na realidade e voltou a viver como sempre viveu.

Dom Quixote de Brasília é capaz de voltar para casa também e rever sua vida de cavaleiro andante político digital. Quem sabe pense mais em administrar o Brasil como um todo, com seus imensos problemas da saúde, em mais vacinas para combater a pandemia e ativar a economia, num projeto de educação e nas reformas estruturais para garantir um futuro sustentável para o país.

7 de setembro de 2021. Que Dom Quixote de Brasília caia na realidade.

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