O empreendedor das “quebradas”

Celso-Athayde favela

Celso Athayde nasceu na baixada fluminense. Morou com a família na Favela do Sapo, zona oeste do Rio de Janeiro. Viveu na rua por um bom tempo. Ajudou a mãe num tabuleiro de venda de doces, foi vigilante, camelô, produtor de festas e promotor de cantores.

Empreendedor nato, por necessidade, para sobreviver, sempre foi inquieto, criativo e visionário. Fundou e coordenou a CUFA (Central Única das Favelas). Como produtor de festas tinha contato com muitas pessoas e sempre esteve disposto a ouvir de tudo, com muita atenção. Numa dessas conversas, ficou sabendo que a poderosa multinacional Procter & Gamble estava com dificuldade de entregar nas favelas seus produtos de higiene (sabonetes, cremes de barbear, shampoos, entre outros).

Aí teve a sacada. Começou sozinho a montar a sua primeira empresa, a de distribuição de produtos nas favelas. Nasceu a Favela Log e o primeiro grande cliente foi a Procter & Gamble. Na multinacional a entrega da Favela Log era classificada como “a última milha”, “das quebradas” ou simplesmente “fim do mundo”.

Depois de 8 anos, a Favela Log entrega hoje produtos em 112 favelas, espalhadas por 12 bairros da cidade do Rio.  Acaba de firmar uma parceria com um dos maiores grupos de logística do país, a Luft, e o objetivo conjunto para os próximos anos é distribuir produtos para mais de 5 mil favelas existentes em todo o país.

A partir da Favela Log, Celso Athayde passou a perceber outras necessidades das favelas. Muitos perguntavam para ele dados gerais sobre as favelas, em especial sobre o consumo. Para ter essas respostas criou a Data Favela. Assim, ao saber das reais necessidades das comunidades, passou a criar novas empresas, algumas do zero e outras através de parcerias com pequenas empresas que já atuam nas favelas.

Nessa trajetória empreendedora, Celso Athayde decidiu criar a Favela Holding, o primeiro conglomerado de empresas focadas para atender moradores das favelas. Hoje, esse grupo formado por 24 empresas diferentes, com atuação em serviços de turismo, telefonia, crédito, publicidade, recursos humanos, entre outros, deve fechar este ano com um faturamento perto de R$ 200 milhões. Para os próximos anos a meta é atingir um faturamento de R$ 1 bilhão e empregar mais de 32 mil pessoas das favelas.

Palestrante muito requisitado, Celso Athayde conta suas experiências pelo país inteiro. Já escreveu sete livros, entre eles “Falcão – meninos do tráfego” e “Um país chamado favela”.

O líder comunitário defende que a riqueza gerada nas favelas tem que ser compartilhada na própria favela ou a sociedade, como um todo, vai continuar dividindo as consequências da miséria. Para ele, o comentário de um menino da favela, que escutou no início deste ano, pagou todo o seu esforço na trajetória de empreender e ajudar outras pessoas.

–  Eu bato no peito e digo que sou favelado. Mas eu aprendi, eu falo inglês. Não penso que só posso ir até certo lugar. Eu quero ir muito longe. O céu é o meu limite”, disse o pequeno menino para o grande Celso Athayde.

 

 

Facebook
Twitter
LinkedIn