O futuro dos negócios está na sustentabilidade ambiental e social

Presidente do BRDE garante que nos próximos anos todos os contratos assinados pelo banco terão pelo menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Socioambiental

João Paulo Kleinubing adianta que daqui para frente, no âmbito ambiental, a prioridade do banco será apoiar projetos de geração de energia limpa. Já no âmbito social, a prioridade será apoiar à agricultura familiar.
Só no ano passado, o BRDE financiou 1,2 bilhão em projetos verdes, o que representou 27,3% de todos os contratos do banco.
Nesta entrevista, João Paulo Kleinubing aponta como está sendo essa transição e transformação do BRDE, uma instituição financeira com mais de seis décadas com forte atuação no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em um Banco Verde, que terá foco na sustentabilidade ambiental e social.

EMPREENDEDOR: O que levou o BRDE, uma instituição financeira tradicional com mais de seis décadas, a se transformar no banco verde, de alinhar seus financiamentos a projetos socioambientais?
JOÃO PAULO KLEINUBING:
A visão sobre o desenvolvimento vem se alterando desde o final do século passado, para cada vez mais atender tanto o tema ambiental, seja nas questões climáticas, seja na biodiversidade, quanto a equidade nos benefícios sociais do desenvolvimento. Isso exige uma mudança no padrão produtivo, novos produtos e novos processos para toda a economia.
O BRDE está alinhado às políticas de desenvolvimento dos estados do sul do Brasil e a todo esforço do Sistema Nacional e Fomento em promover esses novos compromissos para o futuro.
Nossa missão é apoiar o setor privado, mas também o setor público, no financiamento desta transição para uma economia de baixo carbono e mais inclusiva.
Ser um Banco Verde significa criar instrumentos adequados a esta transição, aprimorar nossos próprios processos e serviços, criar conexões e assumir compromissos com esse futuro comum que todos desejamos para o planeta, as organizações e as pessoas. Nosso alinhamento à agenda da sustentabilidade vem de nossa própria vocação e mandato, mas emerge com vigor pelo compromisso que todos, diretoria e funcionários têm em transformar isso em realidade.

Para ser um banco verde, o BRDE teve que mudar a sua própria mentalidade interna de trabalhar para atender essa nova postura no mercado?

Nossos primeiros estudos demonstraram que o BRDE sempre esteve vocacionado para a sustentabilidade, por intermédio de diversas iniciativas inovadores de financiamento que realizamos. Isso tornou mais fácil assumir um compromisso público com nosso alinhamento às iniciativas globais com a sustentabilidade.
Mas isso não significa que, como para qualquer empresa, não tenhamos de enfrentar desafios importantes nas adequações necessárias nas rotinas e processos, na compreensão das mudanças na economia real das empresas e na construção de nossos próprios instrumentos de avaliação e mensuração de nossa eficácia. O incentivo e reconhecimento de construções sustentáveis, por exemplo, é um desafio que ainda temos de enfrentar, por isso ainda estamos numa trajetória, avançando sempre.

Qual o volume de operações e valores o BRDE projeta atuar nos próximos anos com o foco para atender projetos socioambientais?
O BRDE desenvolveu um instrumento de eficácia de seus financiamentos em relação aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Em 2022, financiamos R$ 1,2 bilhão projetos verdes, o que representou um percentual de 27,3% de todas as nossas contratações ao longo daquele ano.
Apoiamos diversos projetos entre diferentes tipologias verdes como a geração de energia fotovoltaica em diversos empreendimentos locais, Pequenas Centrais Hidrelétricas, energia de biomassa, muitos projetos de agricultura de baixo carbono, plantio de florestas comerciais com captura de carbono, tratamento de dejetos e resíduos, uso ou reciclagem de resíduos, entre outros.
Os projetos do Banco Verde impactam diversos Objetivos Sustentáveis, como a Produção e Consumo Sustentáveis (ODS 12), Energias Limpas e Renováveis (ODS 7), Ação Climática (ODS 13), Agricultura Sustentável (ODS 2).
Costumamos dizer que bons projetos multiplicam impactos positivos e esse é o nosso objetivo. Esperamos crescer mais na composição de nossa carteira com projetos verdes. Estamos em processo de revisão de nosso planejamento estratégico e iremos integrar ambições significativas para a ação climática e a transição para uma economia de baixo carbono, para os próximos anos.

O que representa e o que vai implicar para o BRDE a entrada como primeiro banco brasileiro na Coalização Life de Negócios e Biodiversidade, iniciativa protagonizada por grandes empresas e instituições internacionais que seguem a agenda ESG global (Governança ambiental, social e corporativa)?
A Coalizão Life de Negócios e Biodiversidade é uma iniciativa do Instituto Life formada por um seleto grupo de empresas preocupadas em acelerar a inserção da biodiversidade nos negócios por meio da Metodologia Life e seu sistema de Certificação. A Coalização teve seu lançamento oficial por ocasião da COP 15 (UN Biodiversity Conference) em Montreal, no Canadá, entre 07 e 19 dezembro de 2022.
Integrando esta Coalizão, o BRDE se torna parceiro, protagonista e embaixador da transformação dos modelos de negócios e de suas cadeias de valor inserindo a conservação dos serviços ecossistêmicos vitais às suas operações e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Já iniciamos a aplicação da metodologia no BRDE por intermédio de nossa agência de Curitiba. No próximo ano faremos isso para as agências de Florianópolis e Porto Alegre. Queremos saber, como empresa, qual é a nossa pressão sobre a biodiversidade e avaliar se já aplicamos o suficiente de recursos para mitigar e compensar essa pressão.
Ainda estamos aprendendo a fazer essas avaliações e esse aprendizado é fundamental para criarmos outras parcerias linhas de crédito para o financiamento associado à biodiversidade. Já temos algumas parcerias e financiamentos desenvolvidos neste tema, como o apoio do BRDE à Aliança del Pastizal para a preservação do bioma pampa no Rio Grande do Sul.

Já é possível ter uma métrica, medir os benefícios sociais de nova postura do BRDE como banco verde?

Hoje, os principais instrumentos de medição que temos foram desenvolvidos para avaliar o nosso desempenho em relação as operações de nossas agências. A eficácia de nossos esforços em relação aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável é o principal deles. Atualmente o BRDE possui 79,5% de alinhamento de seus contratos realizados em 2022 a pelo menos um ODS.
Para o próximo ano teremos disponível uma calculadora que estimará o volume de emissões que podem ser associadas aos financiamentos e, também o volume de emissões evitadas com projetos de natureza climática. Assim nos aprimoramos em conhecer os efeitos finais de nosso trabalho e poderemos estabelecer metas de descarbonização. Será um avanço significativo.
A criação de medidas de eficácia do desenvolvimento é o projeto mais importante para os próximos anos. Embora o BRDE tenha uma história exitosa e uma jornada reconhecida de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática, sabemos que é preciso avançar ainda mais e nossa função à frente desta instituição é exatamente esta.
Além disso temos ainda outros desafios em relação ao Banco Verde, que é iniciarmos a aplicação de recursos de nosso recém criado Fundo Verde e Equidade, no apoio à projetos importantes de recuperação e conservação de florestas nativas, de apoio à adequação de produtores familiares às exigências ambientais, entre outras iniciativas que ainda serão definidas em parceria com entidades que prestam relevantes serviços desta natureza à sociedade.

Quais os tipos de projetos, negócios que serão mais impactados pela conduta socioambiental do BRDE?

Sem dúvida, no quesito ambiental, nos últimos anos tem sido o apoio à projetos de geração de energias limpas e renováveis, e no quesito social o apoio à agricultura familiar e operações de segundo piso para o microcrédito e apoio à micro e pequenas empresas.
É importante destacar que o BRDE não opera sozinho, construímos ao logo do tempo, uma rede ampla de parcerias com instituições responsáveis que nos dão apoio na colocação de crédito em quase a totalidade do nosso território de atuação. As cooperativas agroindustriais, entidades conveniadas e organizações que operam o microcrédito são parceiros fundamentais para a realização de nossa missão nos temas sociais e ambientais, para fazer o crédito chegar a quem mais precisa dele.

É possível que por essa atuação do BRDE de banco verde nos três estados (Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul) a região Sul seja em poucos anos uma referência para o país em termos geração de negócios e benefícios socioambiental?

Esta é uma ambição para a qual queremos trabalhar, mas não depende apenas de nós. A ambição de uma economia de baixo carbono e orientada para os Objetivos Sustentáveis da ONU não é uma agenda do setor financeiro nem dos governos, é uma agenda de todos. O setor privado e as pessoas se aliam como responsáveis pela construção desta nova realidade, que hoje é absolutamente necessária.
Nós estamos fazendo a nossa parte obtendo e repassando recursos, construindo linhas adequadas, avançando nas métricas de eficácia dos nossos financiamentos de aderência aos ODS, aperfeiçoando os instrumentos necessários. Mas é preciso que todos se engajem nesta trajetória, precisamos ser mais demandados pelo setor privado e pelas prefeituras para projetos sustentáveis, nós estamos preparados para recebê-los.

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