O tratamento preventivo de cortar a veia jugular e a arma do golpe

 

O paciente Brasil está em estado grave, vítima do coronavírus, numa maca, em uma UTI (Unidade de Terapia  Intensiva) de um hospital público. Terá que entrar em ventilação mecânica para manter a respiração e outros sinais de vida, conforme orientação da ciência e seguida por todos os médicos. Mas o chefe da UTI recebe uma ordem para aplicar um tratamento preventivo: fazer um corte na veia jugular do paciente para normalizar a respiração, procedimento sem nenhuma comprovação, pelo contrário, sem nenhuma recomendação médica e de toda a ciência. Assim que é feito, o sangue corre por todo corpo do paciente, sem parar. A preocupação com a respiração passou a ser secundária. O que precisou ser feito na hora foi estancar o sangue que jorrava por todo o corpo.

Foi isso que fez Jair Bolsonaro com o paciente Brasil, ao ordenar o corte do Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, sem mais nem menos, como se não tivesse nenhum sintoma grave no país. Como se o Brasil não fosse o “país dos mortos” no olhar do mundo, com milhares de brasileiros que ficaram para trás, perderam a vida para essa pandemia, numa média diária de mais de 3 mil mortes, embora ainda negada, minimizada, em atos de irresponsabilidades do poder público, sendo o mais gritante deles o atraso na compra de vacinas.

No dia seguinte do anúncio do corte do ministro da Defesa, os sintomas do país ficaram ainda mais graves. Os três comandantes das Forças Armadas, Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) iam apresentar seus pedidos de demissão, solidários com a saída do ex-ministro Fernando Azevedo e Silva. Mas Bolsonaro decidiu aprofundar o corte na jugular: se adiantou e determinou a saída dos três comandantes.

Ao cortar o ministro da Defesa, a artilharia de Bolsonaro estava direcionada ao ex-comandante do Exército que não aceita o envolvimento de qualquer governo com os militares. Para Edson Pujol, uma referência no meio militar pela sua formação e por ser o primeiro aluno da turma, “o Exército não tem que ir aonde está a política e a política não tem que entrar no Quartel”.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na mesma semana dessa intervenção de Bolsonaro, pediu uma colaboração do Exército na infraestrutura e distribuição das vacinas e obteve uma rápida resposta: vamos estar de prontidão para servir o povo no que for preciso para combater a pandemia.

No entanto, Bolsonaro quer envolver mais, quer comprometer o Exército no seu lado. Já no dia 19 de abril de 2020, na frente do Quartel do Exército em Brasília, Bolsonaro fez um discurso diante de manifestantes que pediam a intervenção militar, o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal).  No dia 20 de março de 2021, diante de seguidores, Bolsonaro disse que “o MEU EXÉRCITO não faz lockdown”.

Mesmo que seja estancado o sangue dessa brutal cirurgia, a ferida ficará aberta por um bom tempo até ser cicatrizada. Na saída como ministro da Segurança, Fernando Azevedo e Silva passou uma receita clara, um ensinamento objetivo, que será seguido pelos novos comandantes e pelas Forças Armadas como um todo: “preservei as Forças Armadas como instituição do Estado”.

Ao voltar a cuidar do paciente Brasil na maca do hospital, todos percebem agora que o tratamento preventivo do corte na jugular, o corte nas Forças Armadas, foi um ato do Exército de um homem só e a arma de um possível e frustrado golpe seria de dedinho.

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