As empresas no Brasil vivem um grande dilema quanto à questão da transformação digital, mais ou menos como diz o ditado popular, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, ou seja, ou incorporam de vez a cultura digital e fazem mudanças radicais em seus modelos de negócios, ou ficam paradas no tempo e serão atropeladas pelo avanço do mundo digital, móvel e globalizado e pelos concorrentes que se inseriram mais rapidamente nesse novo mundo.
Segundo pesquisa realizada pela IBM, poucas empresas, não só no Brasil, mais em todo o mundo, estão prontas para a transformação digital de fato, porém metade já tem consciência de que ela precisa ser feita, o que já é um grande começo.
O tema transformação digital está presente em muitas empresas, porém, ainda existe um gap grande quanto ao entendimento do seu significado na essência. Não significa implantar um software de gestão, criar um site ou contratar uma agência de marketing digital. Transcende a tudo isso. Exige das organizações um aculturamento para o digital, o que seguramente vai exigir mudanças nos estilos gerenciais, na forma como vão se relacionar com os clientes e fornecedores e, essencialmente, na adequação dos perfis e competências das lideranças e dos colaboradores. O que significa, uma mudança radical na estrutura das corporações.
A tecnologia e todas as ferramentas digitais neste contexto são meio, matéria prima para a otimização dos processos, para aumento de produtividade, comunicação com o mercado e são condições para gerar mais e mais experiências para os clientes, além de permitir integrar a empresa a outros ecossistemas sinérgicos ao seu negócio. Portanto, devem fazer parte dos projetos de alta prioridade e vitais para a sustentação do negócio ao longo do tempo.
Hoje, diferente de um passado não muito distante, as empresas estão sendo pressionadas por vários fatores que as rondam, originados do mundo digital e móvel, entre eles:
* A velocidade com que tudo acontece – ou a empresa está conectada, antenada e consegue acompanhar e atender o que o mercado à sua volta e os clientes demandam, ou perdem competitividade;
* A mudança de comportamento dos consumidores – cada vez mais conectados – que exigem das empresas respostas em tempo real, na palma de sua mão;
* As redes sociais, nas quais os consumidores falam, comentam e compartilham sobre tudo das empresas e de seus produtos. Não estar inserida neste contexto é correr o risco de entrar no grupo de “quem não é visto, não é lembrado”. Afinal a empresa não estar nas redes sociais não significa que os consumidores não falarão dela.
Estes e muitos outros fatores estão impactando diretamente na forma como os negócios precisam ser conduzidos, passando inclusive por novos formatos e modelos de negócios e até mesmo na adequação de mix de produtos e serviços. Sem a incorporação da tecnologia e todas as possibilidades de ferramentas digitais e de gerenciamento de informações e banco de dados existentes na atualidade, não será possível atender às exigências desse novo mundo, que não está chegando, já está presente, é real e pulsante.
Como as maiores demandas hoje vem dos consumidores, que querem comprar produtos ou serem atendidos no seu tempo, da forma que melhor lhes convém e terem experiências gratificantes com isso, as empresas vão precisar de ferramentas para conhecê-los cada vez melhor, desde seus hábitos de consumo ao seu humor e motivação para consumirem determinados tipos de produtos e serviços. Neste aspecto as empresas enfrentam o seu primeiro grande ponto de estrangulamento. Poucas conhecem tão bem assim seus clientes e estão vivendo uma verdadeira corrida contra o tempo e, principalmente, contra os concorrentes.
A transformação digital é um processo que envolve toda a empresa e que transcende para os clientes, fornecedores e parceiros franqueados, no caso das empresas franqueadoras.
Se ampliarmos essa análise para o franchising, a situação é muito mais desafiadora, além de todas as mudanças citadas, vai exigir da franqueadora um esforço muito grande para envolver, aculturar e convencer toda a rede para a transformação digital.
Em uma rede de franquias existem diferentes cabeças, em diferentes graus de maturidade e de comprometimento com a marca e com o próprio negócio. Saber lidar com toda essa diversidade de perfis vai exigir muita competência do líder da rede para conectar pessoas e gerar um efeito dominó para a causa.
O lado positivo é que no franchising tudo se potencializa, porque o efeito é em cadeia, em rede, tudo se dissemina muito rápido e, vencida a primeira fase da conscientização, a força da rede pode acelerar a jornada para a transformação digital, de estrutura organizacional, investimentos e de pessoas.
A dificuldade na maioria das empresas está na base, na estrutura organizacional, na cultura e no comportamento de seus líderes. Uma mudança dessa ordem deve vir de uma estratégia global, única e consistente, e ser conduzida por uma liderança firme e disciplinada para fazer com que os projetos aconteçam e sejam implantados com sucesso, nos prazos previstos e, com isso, inserir de vez a empresa no mundo digital e dele se beneficiar.
O caminho para a transformação digital deve ser traçado com a ajuda de especialistas da área, com decisões tecnológicas, passando por análise de dados estruturados, permitindo atender demandas 24 horas por dia, e até mesmo a inteligência artificial. Além de toda adaptação na estrutura organizacional, na adequação dos processos e na revisão de competências e de perfis das lideranças e de seus liderados.
Se a jornada é árdua, então fortaleça seu time, encare o desafio e lidere a mudança!
Claudia Bittencourt é sócia-fundadora e diretora Geral do Grupo Bittencourt, administradora de empresas com especialização em Estratégia Competitiva pela FGV e em Marketing pela ESPM.