Com chuva ou sol, todos os dias, aos 85 anos, depois de um rápido café da manhã corria pelo menos 10 quilômetros. Planejava  participar da próxima corrida de São Silvestre e cruzar a linha final de chegada.

Dedicou a vida inteira à medicina. Desde o início da pandemia, foi para a linha de frente, como intencionista, tratar de pacientes em estado grave.  Sua missão, sua força, sua maior alegria era recuperar cada paciente.

Enfermeira formada, para chegar no hospital e voltar para casa, levava 4 horas de ônibus. Os três filhos pequenos ficavam com a tia. Sempre disposta, sorriso no rosto, palavras de consolo e de ânimo para todos.

Estava no primeiro ano da faculdade de arquitetura. Queria ser uma arquiteta famosa, construir casas e prédios só com produtos sustentáveis e utilizar todos os recursos e avanços tecnológicos.

Com mais dois amigos, criou uma startup para ao mesmo tempo resolver problemas ambientais e melhorar a mobilidade urbana nas grandes cidades. Queria gerar um impacto social, melhorar o mundo.

Industrial e empresário de sucesso, montou uma marina. Cruzou diferentes mares. Sua maior alegria era estar em mar aberto, junto com a sua família e seus amigos.

Aos 7 anos, ganhou uma bola do pai. Depois de voltar da escola, jogava no campinho da periferia. Na escola ia bem, recebia elogios da professora. Também levava jeito para fazer gol. Queria ser um Gabigol.

Mãe grávida, pela primeira vez, de uma menina, entrou no hospital. Não via a hora de ter a filha em seus braços. Depois de 11 dias, numa operação de cesariana, não conseguiu sobreviver. A menina nasceu bem e vai se chamar Maria da Luz.

O dia que a mãe morreu e a Maria da Luz nasceu, 8 de outubro de 2021, é um marco da atual tragédia humana no Brasil. Neste dia, vítimas, antes de tudo, da falta de uma articulação nacional, de irresponsabilidades, omissões e incompetências, 600 mil brasileiros ficaram para trás. Sem vacinas em tempo hábil e mesmo por falta de oxigênio em hospitais, brasileiros perderam a vida para o coronavírus.

No meio de toda essa tragédia, o brasileiro que acreditou e correu para se vacinar pode ter esperança e viver seus sonhos. O país está perto de alcançar 50% da população vacinada. Isso é um pouco de luz em tudo o que aconteceu nos últimos dois anos, a mesma luz no nome da menina. Que ela tenha a luz de uma vida longa e que realize todos os seus sonhos.