Eduardo Galeano é um consagrado escritor uruguaio que já escreveu dezenas de livros que vão estar para sempre na estande da história literária, em especial dos países latinos. O livro mais lido e importante dele é “Veias abertas da América Latina”. Uma marca da literatura de Galeano é escrever textos curtos, contundentes e emocionantes. Num desses textos, ele conta o dia em que seu pai o levou pela primeira vez para ver o mar, quando tinha apenas 5 anos de idade. Disse que quando chegou diante da imensidão do mar ficou sem ar, sem poder respirar, e num grande esforço só conseguiu olhar para o seu pai e murmurou um pedido.
– Pai, me ajuda respirar para eu ver o mar.
Nos atuais tempos de pandemia, o Google se transformou no mundo todo em divã, consultório, confessionário ou no pai que o menino Eduardo Galeano pediu ajuda na areia da praia, diante do mar.
Segundo registro do Google Trends, o Brasil figurou como o quarto país do mundo onde mais se pesquisou por “falta de ar” no período de 3 de abril a 3 de maio de 2021. O início de abril marca os dias mais trágicos da pandemia. No dia 6 de abril, o país alcançou o recorde de morte em apenas um dia: mais de 4 mil pessoas. Neste dia, o vírus matou três brasileiros por minuto.
As buscas dos brasileiros por “falta de ar” cresceram 30% no bimestre março-abril em comparação aos dois meses anteriores. Outros sintomas que despertaram variação expressiva de interesse foram febre (+ 20%), dor no peito, dor de cabeça e tosse, que aumentaram 10% cada.
No mesmo período, o Brasil foi o segundo país do mundo que mais procurou por saturação de oxigênio, ansiedade e dor de cabeça; o terceiro que mais buscou por oxigênio, dor nas costas e dores em geral; o quarto mais interessado em dor de garganta e o sexto mais preocupado com a febre.
Nada menos de 10% de todo o interesse mundial por “tratamento” e “covid” veio do Brasil, o quarto maior do ranking, em empate com a Índia, e superado por Romênia (19%), Venezuela (16%) e Peru (13%). De 15 de fevereiro a 15 de abril, fomos os campeões em buscas por “sintoma” e “covid”, respondendo por 16% das pesquisas globais.
O colapso na saúde dos brasileiros também incluiu a mente. Nunca o termo “ansiedade” foi tão pesquisado por aqui quanto em março, quando começou o pior momento da pandemia no país. Também nunca vivemos tão isolados. Em muitos momentos e em diferentes locais, nem mesmo na areia da praia se pode sentar e olhar o mar.
No leito de hospital muitas pessoas queriam alguém ao seu lado para repetir as palavras de um menino:
– Pai, me ajuda respirar, para eu ver a vida.