A mobilidade virou prioridade mundial. Segundo estudo realizado pelo banco de investimento Morgan Stanley, até 2013 muitas pessoas passarão a acessar a internet muito mais através de aparelhos móveis do que em dispositivos fixos. Os dispositivos móveis estão, progressivamente, se tornando um alter-ego e sabem cada vez mais sobre seus usuários: sua localização, seus movimentos, o ambiente e até mesmo suas preferências. O aparelho entende o contexto em que seu usuário se encontra e pode fornecer informações precisas, da maneira e da forma certa.
Para personalizar ainda mais os dispositivos, durante a Mobile World Congress 2011, realizada em Barcelona, os fabricantes evidenciaram que não querem apenas desenvolver smartphones capazes de fazer tudo. Eles estão cada vez mais preocupados com as preferências dos usuários. Os fãs de games foram apresentados ao Sony Ericsson Xperia PLAY, que, essencialmente, é o cruzamento entre o smartphone e o PlayStation portátil. O LG Optimus 3D, com duas câmeras embutidas para a gravação e visualização de filmes em 3D, sem o uso de óculos, é outro exemplo de produto segmentado.
Além da expansão significativa das capacidades de armazenamento e processamento, os novos produtos têm em comum o desenvolvimento adequado para a era de cloud computing. Deslocando operações complexas para a nuvem, os smartphones tornam-se ainda mais enxutos, requerendo menos bateria, conforme observação feita durante o evento por Claude Zellweger, desenvolvedor de projetos para a HTC, Amazon, Kodak, Nike, Microsoft e Google.
Hoje, dentre as ofertas disponíveis em mobilidade, a Apple lidera no quesito integração de dispositivos móveis, sistema operacional, lojas e nuvem de informações pessoais. Mas, com uma nuvem muito mais diversa de ofertas e com fortes taxas de crescimento o Android, da Google, está fazendo de tudo para roubar o lugar de seus concorrentes. Correndo atrás desse objetivo também está a Nokia, fabricante líder de aparelhos móveis, que entendeu o conceito de que ser bom em uma única disciplina não é o suficiente e desistiu de seus próprios sistemas operacionais e está se ligando à Microsoft, com o intuito de impedir o fortalecimento do Google.
É concebível que essa conjuntura se transforme em uma corrida entre a Apple, o Google e a Microsoft. O vencedor será decidido pelos usuários através de atributos chaves como sensibilidade ao contexto, personalização, simplicidade de utilização, escalabilidade sobre várias plataformas, como integração de TV, por exemplo, e, mais do que qualquer coisa, a confiança do consumidor.
O que isso significa para o mundo corporativo? Companhias em todos os setores da indústria, mas especialmente no setor bancário, enfrentam um desafio, embora também seja uma grande oportunidade: os sistemas operacionais mobile oferecem plataformas para alcançarem um público mais vasto e de maneira mais personalizada. É somente uma questão de tempo para que uma infraestrutura baseada em NFC (Near Field Communication), tecnologia de comunicação em área próxima que troca dados entre dispositivos que estejam a poucos centímetros um do outro, se torne realidade.
A disponibilidade de larguras de bandas mais amplas como LTE (Long Term Evolution) e a integração da TV móvel em computação móvel estão criando novos canais de acesso aos consumidores. Tecnologia no campo da realidade aumentada, com reconhecimento de imagem, torna possível desenvolver novos tipos de aplicações bancárias. Por exemplo, o usuário poderia fotografar um formulário de transferência bancária, preenchê-lo automaticamente com os detalhes de sua conta e completar a transação com segurança. Para que os bancos tenham sucesso, o crucial será a forma com que eles irão combinar suas estratégias de negócios com a evolução dinâmica dos sistemas mobile.
As empresas devem decidir por si mesmas qual a estratégia certa. Mas para isso, os gestores devem ter percepções detalhadas de seus próprios negócios e um bom entendimento do estilo de vida de seus clientes, cercados por mundos recém-criados. O que desejam os clientes nesses mundos? E, principalmente, o que esses novos mundos podem oferecer para o cliente? São perguntas fundamentais que devem ser respondidas pelas instituições financeiras que queiram se aventurar no universo mobile.
Carlos Eres é diretor geral da GFT na Espanha e responsável pelo Grupo GFT para o sul da Europa e América do Sul.