Pelé deixou hoje o campo terrestre, aos 82 anos, para entrar no eterno limbo dos Deuses do futebol. Como verdadeiro “influencers”, nenhum brasileiro até hoje teve no mundo inteiro o nome tão conhecido, respeitado e valorizado. Nas quatros linhas do campo, ninguém conseguiu alcançar seus feitos, de conquistar três copas do Mundo, a primeira com apenas 17 anos, e marcar mais de 1 mil gols, exatos 1.282, em 1.363 jogos.
Mas além da bola, Pelé correu por muitos campos. Por décadas, foi o grande embaixador do café brasileiro em todo o mundo, indicado pelo Instituto Brasileiro do Café. Entrou no campo da política. Foi ministro do Esporte no governo de Fernando Henrique Cardoso. Emprestou seu nome, a marca Pelé, para diferentes redes, entre elas de cafeterias e de academias de ginástica. O produto mais conhecido com a sua marca e até hoje no mercado mundial é o Café Pelé, hoje nas mãos da poderosa indústria holandesa JDE (Jacobs Douwe Egberts).
Pelé parou de correr com a bola nos pés no dia 1 de outubro de 1977, aos 44 anos, quando jogou pelo Santos contra o Cosmos New York, no Giants Stadium (EUA). Mas o empreendedor não parou de correr. Como empreendedor, uma qualidade necessária e fundamental para quem entra no competitivo mundo dos negócios, é a resiliência, a capacidade de enfrentar e superar as dificuldades que aparecem pela frente. O rei do futebol foi muito resiliente. Ele fez três investidas que resultaram em fracassos e perdeu muito dinheiro, junto com empresário Pepe Gordo e o Zito, seu amigo e companheiro do Santos e da Seleção . A primeira foi com a empresa Neturno ( construção e venda de edifícios de apartamentos). A segunda com a Sanitária Santista (venda de materiais de construção). E a terceira foi com a Fiolax (venda de látex).
Nuca vi Pelé jogar na vida real. Mas consegui falar com ele numa feira de franquias, em 2012, realizada em São Paulo, quando esteve presente para divulgar a sua rede de franquias Pelé Club (academia de ginástica). Me preparei para fazer uma pergunta que considerava delicada e me surpreendi com a sua resposta, com sua sinceridade e humildade. “Viajei o mundo todo. Conheci vários tipos de negócios. Foi aí que percebi que eu não tinha preparo. Então, quando fui jogar no Cosmos (EUA) procurei fazer diferentes cursos de administração e marketing.”, explicou ele com muita calma.
Em 2014, Pelé decidiu encerrar a sua empresa Pelé Pró. A partir desse momento passou atuar apenas com a liberação do uso da sua marca, do seu nome, em produtos e eventos. Agora, após a sua morte, novas empresas, novos produtos devem surgir em associação com o seu nome, a marca Pelé.
A condução da marca Pelé hoje está nas mãos do empresário José Fraga, CEO da Sport 10, que mantém convívio e diálogo com a ex mulher do Rei Márcia Aoki e com toda a família. A fortuna de Pelé hoje, em contratos de utilização da marca, está avaliada em cerca de R$ 600 milhões.
Pele não será apenas lembrado só pelos gols que fez, numa época que a bola e as chuteiras tinham o peso de couro mesmo, nada parecidas com as de hoje que parecem feitas de plumas. Pelé também será lembrado pelos gols que não fez, como o contra o Uruguai, na Copa de 70. Nesse lance histórico, Pele apenas passou na frente do excepcional goleiro Ladislao Mazurkiewicz e deixou a bola passar do seu lado que foi para fora, rente a trave.
Ou como esquecer a expulsão dele que não ocorreu. Foi em Bogotá, na Colômbia, em 1968, num jogo do Santos contra um combinado colombiano. Depois que o juiz o expulsou o Rei, a torcida ameaçou derrubar o alambrado e invadir o campo. O juiz acabou sendo expulso. Entrou um novo juiz que tratou logo de chamar Pelé para voltar ao campo, como se nada tivesse acontecido.
O menino pobre, que segundo ele nasceu forte por ser de Três Corações, em Minas Gerais, que batia bola nas ruas da periferia da cidade mineira e depois em Bauru (SP), o homem, o jogador de futebol e o empreendedor jamais serão esquecidos. Num gol genial ou numa jogada magistral vai estar para sempre cravada as digitais de Pelé.