Planejamento Estratégico no serviço público

Abro este espaço em meu blog para Flávia Feltrin, da Leme Investimentos, pelo fato de seu artigo, originalmente escrito para a edição de setembro da Revista Empreendedor, não ter sido publicado na íntegra, prejudicando sua mensagem.

 

As constantes e cada vez mais frequentes evoluções e transformações das cidades e organizações públicas demonstram a urgente necessidade de aprimoramento da gestão pública. Por anos, o que se assistia na administração pública era a total falta de preparo técnico para gerir os negócios no primeiro setor. Todavia, o que estas transformações indicam é que os governos, assim como a iniciativa privada, também precisam de qualificação e adoção de metodologias e ferramentas de gestão para garantir o sucesso de suas atividades que, no caso de uma organização pública, resume-se na prestação de serviços ao cidadão.
Esta é uma demanda que se justifica neste contexto onde o nível de exigência, no que se refere à prestação de serviços públicos, só tem aumentado e, por isso, a adoção de estratégias de ação, sem dúvida, contribui de forma significativa para a melhoria dos processos de gestão pública.
Planejamento Estratégico, visto como uma ferramenta gerencial que proporciona maior controle sobre a gestão de um negócio, pode ser definido como um processo que procure nortear a empresa, em busca da otimização da relação empresa/ambiente. A utilização do planejamento justifica-se pelo dinamismo das interações no cenário mundial, onde a preparação e a antevisão dos acontecimentos tornam-se um fator primordial na administração de qualquer instituição. Isso tanto para sua inserção no ambiente em que atua, quanto para viabilizar a sua continuidade ao longo do tempo. É importante destacar que a construção do planejamento estratégico de qualquer instituição, seja ela pública ou privada, exige uma equipe interdisciplinar, tendo em vista a inexistência de um método pronto. Os planejadores, portanto, podem atuar além da elaboração do planejamento formal, mas também podem encorajar qualquer forma de comportamento estratégico dentro da organização. O objetivo de estruturar um processo de planejamento estratégico é tornar a organização mais competitiva e, portanto, mais dinâmica em sua gestão, de modo a incorporar objetivos claros e processos bem definidos.
As metas traçadas pelo governo precisam condizer com as necessidades dos cidadãos e, ainda, preocupar-se com a efetividade das ações planejadas e é aí que o planejamento estratégico no serviço público enfrenta um dos seus primeiros desafios. Visto que a administração pública possui uma peculiaridade temporal, pela existência dos mandatos eletivos de quatro anos, e assim, mudança constante dos gestores na organização que, conforme a conjuntura, altera a estrutura administrativa, o planejamento corre o risco de não ser implementado ou ter suas ações descontinuadas no momento da mudança do gestor. O que ocorre, então, é o retorno à realidade anterior, sem um planejamento e as rotinas de trabalho voltam a ser definidas conforme a demanda de serviços somente.
Mais uma vez, verifica-se a importância do pensamento estratégico de médio e longo prazo, pois este é indispensável para que as políticas e diretrizes aconteçam de forma lógica e coerentes na gestão de um órgão público, o que não acontece no caso de proliferação de planos de curto e médio prazo. Na administração de uma prefeitura, por exemplo, na maioria das vezes, a forma de planejamento encontrada está pautada somente sobre a lei do plano diretor municipal que se refere basicamente ao planejamento da cidade e não exatamente às estratégias de atuação da prefeitura, de suas atividades, rotinas de trabalho ou prestação de serviços. A carência desta atuação impacta fortemente na continuidade dos processos. Tal fato pode ser visto, como um contrassenso organizacional, já que ao mesmo tempo em que a ação externa da instituição deve ter caráter proativo e planejado, a estrutura interna se organiza de modo precário e essencialmente reativo. Uma forma de minimizar este risco seria a implementação em setores do órgão inicialmente e, depois, ampliar para outros setores, abrangendo toda a organização. Desta forma, fica mais fácil executar e medir os impactos das ações. Além disso, as estratégias precisam estar alinhadas com o orçamento, pois do contrário, a implementação das ações será inviabilizada, já que muitas delas dependerão de recursos financeiros.
Outro ponto ligado à característica cíclica de órgão público refere-se ao impacto no clima organizacional. O bom relacionamento organizacional é importante, pois estabelece um processo de reciprocidade. Cada ator cria expectativas e necessidades em relação ao outro, no caso a organização para com o servidor e vice-versa. Os servidores esperam por reconhecimento do trabalho, recompensas, oportunidades de crescimento, contribuir no processo decisório e apoio e suporte para o êxito das suas funções. Por isso, é importante a sensibilização dos atores envolvidos, a fim de mostrar aos participantes a importância do planejamento para a melhoria da prestação de serviços à população.
Por fim, como em uma organização privada, o setor público também apresenta muitos desafios no que tange a sua gestão e planejamento. Daí a necessidade de profissionais com conhecimento na área de planejamento estratégico e, especificamente, no planejamento de organizações públicas, cujas características lhes são peculiares.
Ainda que a organização esteja muito propensa à mudança, é indispensável a presença destes especialistas na implementação da metodologia, definindo assim as melhores estratégias de atuação. Sem dúvida, investir em seus funcionários fará com que o serviço público tenha contato com as ferramentas e conhecimentos específicos necessários à execução do planejamento estratégico. Tais medidas darão condições básicas para a escolha de boas estratégias que, por sua vez, definirão o bom desempenho da administração pública e da prestação dos seus serviços à população.

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