Você já deve ter lido sobre — ou sentido na pele — a baixa produtividade brasileira. É um problema bem diagnosticado e documentado, que, em vez de melhorar, vem piorando. Por exemplo: desabamos 48 posições, para a 75ª, no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial, que determina o nível de produtividade de uma economia e o nível de prosperidade que a nação pode alcançar.
E, segundo o último relatório da organização The Conference Board, a produtividade da mão de obra brasileira (medida pela relação entre o PIB e o número de trabalhadores do país) caiu 4,1% em 2015. Ou seja, por aqui são necessários cada vez mais profissionais para gerar o mesmo nível de riqueza. Ainda mais desanimador é o fato de que no mundo, esse índice cresceu 1,5% e, entre os países emergentes, 2,5%, no mesmo período. Mas como melhorar esses índices, então?Endeavor Brasil 03, abr, 17 Empresas que crescem com base em um modelo de negócios escalável geram empregos e também buscam maximizar a eficiência. Veja o que as diferencia das outras companhias e porque são tão essenciais para o desenvolvimento do Brasil.
Uma das saídas é estimular as empresas da categoria das Scale-ups, empresas que apresentam alto ritmo de crescimento com base, fundamentalmente, em um modelo de negócios escalável. Ou seja, organizações que aumentam sua atividade (produção, vendas) sem que os custos cresçam no mesmo ritmo. Com isso, elas não apenas geram empregos, mas também trabalham fortemente para ganhar eficiência.
“O foco na produtividade é um fator que faz com que o crescimento seja mais sustentável no longo prazo”, diz o professor do Insper Guilherme Fowler A. Monteiro. Ele é coordenador da Cátedra Endeavor no Insper, uma iniciativa inédita das duas instituições para produzir e difundir conhecimento sobre as Scale-ups, que foi lançada nesta terça-feira (4).
O campo para estudo é vasto. Por exemplo: ainda não há na literatura acadêmica uma definição precisa do que são, efetivamente, Scale-ups, algo que dificulta o debate sobre o tema e a adoção de medidas efetivas para estimulá-las.
Até agora, a discussão esteve focada exclusivamente em um grupo maior de companhias, as chamadas Empresas de Alto Crescimento (EACs), aquelas que crescem a um determinado ritmo por um período intensivo e observável. A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), por exemplo, classifica esses negócios como aqueles que crescem em média 20% ao ano, por três anos seguidos.
Segundo a última estatística do IBGE, o Brasil tinha 31.223 dessas companhias em 2014, o que representa 1,3% do total — apesar disso, elas geraram quase a metade dos novos empregos no período (46,7%).
Mas só essa classificação não dá conta de explicar o que favorece ou não o crescimento dessas organizações, muito menos colocar uma lupa sobre as Scale-ups, que têm algumas características próprias que as distinguem desse grande grupo, como a produtividade.
Alto crescimento x escala
O primeiro trabalho de Guilherme para a Cátedra é um white paper (artigo informativo sobre um problema e como enfrentá-lo) em que ele analisa estudos internacionais sobre o assunto. No texto, o professor dá dois exemplos para explicar a diferença entre as EACs e as Scale-ups: pense em uma distribuidora de bebidas que opera em uma cidade que recebeu jogos da Copa do Mundo, em 2014. Por causa do fluxo de turistas e investimentos na região, os negócios cresceram muito. Ela tornou-se uma empresa de alto crescimento nesse período. Mas, depois do torneio, a empresa foi incapaz de sustentar os bons resultados, alavancados por fatores externos a ela.
É uma situação diferente do Uber: o aplicativo de transportes tem crescido fortemente já há alguns anos, à medida que mais motoristas e passageiros fazem transações pela plataforma. O modelo de negócios escolhido pela empresa permite que ela aumente sua receita a um ritmo muito mais rápido do que os custos, ganhando escala.
“É esse ciclo virtuoso ligando crescimento da companhia e criação de riqueza que diferencia uma Scale-up das demais Empresas de Alto Crescimento. E é este o desafio que se impõe aos empreendedores atualmente”, reflete Guilherme no artigo.
“SCALE-UP É UMA EMPRESA CUJO CICLO ACELERADO DE CRESCIMENTO E CRIAÇÃO DE RIQUEZA BASEIA-SE, FUNDAMENTALMENTE, NA ESCALABILIDADE DO SEU MODELO DE NEGÓCIOS.”
A partir dessa definição, é possível discutir melhor como criar incentivos para que as empresas mais produtivas cresçam, como identificar os negócios com possibilidade de ganho de escala e suportar seu desenvolvimento. Já se sabe que esse estímulo é diferente do necessário para as empresas em estágio inicial, por exemplo.
“A gente tem que se afastar um pouco do desenho de política pública de apenas estimular a criação de novas empresas, e olhar também para a construção de um ambiente de negócios que seja um alavancador do crescimento delas”, diz o professor.
Também é possível investigar com mais força as razões que levam ao crescimento das empresas. No artigo acadêmico, que você pode ler com detalhes aqui, o professor aponta algumas hipóteses de estudiosos para explicar o desempenho das Empresas de Alto Crescimento e que servem de insumo para pesquisas futuras.
O crescimento é aleatório, tendo por base uma certa “sorte” do empreendedor e da companhia? A inovação, o investimento em pesquisa em desenvolvimento, é suficiente para explicar a sobrevivência e futura escalada desses negócios? Qual o papel do empreendedor e como ele deve mudar no decorrer da trajetória de crescimento do negócio — da pessoa que gere uma organização pequena e com recursos escassos, para outra com mais funcionários, em que é necessário aprimorar e profissionalizar processos de forma contínua?
“A forma como o empreendedor aborda essa transição é importante para atingir o próprio alto crescimento”, diz Guilherme no texto.
Ciclo de vida
O trabalho também mostra que scale-up é uma fase na história da organização. Ela surge, valida o seu modelo de negócios escalável, cresce fortemente por um período, mas não necessariamente se mantém assim para sempre. Para a economia como um todo, isso não é ruim: ganha-se produtividade em um ambiente em constante mudança, com ideias (e empresas) nascendo e crescendo de modo acelerado.
“Por outro lado, quanto maior a porcentagem de companhias que permanecem estáticas, menor o crescimento da produtividade”, diz o pesquisador do Insper.
Se você quer saber mais, faça o download do white paper “Empresas de Alto Crescimento e o Desafio de Scale-up: onde estamos e para onde podemos ir”, clicando aqui.
Originialmente publicado em Endeavor