Ter um colégio sempre fez parte dos planos de Marcelo Portella. Nascido em família humilde e criado na periferia, o carioca precisou lutar muito para completar os estudos e garantir a vaga numa universidade pública. Em busca do sonho de infância, formou- se professor de português e começou a ministrar aulas de reforço escolar em sua casa. Hoje, aos 42 anos, ele está à frente do Grupo Maxx Educacional, rede de escolas especializadas em concurso público, que conta com cinco unidades próprias e acaba de se lançar no franchising, com a expectativa de chegar ao fim do ano com oito unidades em funcionamento e ter 24 unidades abertas no Brasil até dezembro de 2012. O conglomerado de negócios dirigido por Portella inclui ainda um colégio de ensino infantil e médio, uma central de produção de videoaulas, uma editora de livros didáticos e o Aluno Urbano, site de compras coletivas na área de educação.
A ideia de investir no segmento de concursos públicos surgiu com a experiência própria do empreendedor. No tempo em que cursava faculdade de Letras Português e Latim na Universidade de Brasília (UnB), Portella dedicava-se paralelamente aos concursos públicos. “Passei a vida estudando para concursos e fazendo cursos pré-militares e essa preparação facilitou bastante o meu aprendizado, porque o ritmo de ensino em colégios militares é muito forte, principalmente na área de exatas”, conta o empresário, que chegou a passar em diversos processos seletivos, incluindo um da Infraero, onde trabalhou por oito meses.
No entanto, foi como professor que Portella encontrou o caminho da realização profissional. Ainda hoje, mesmo com a rotina agitada à frente da rede, ele reserva as manhãs de quarta- feira para dar aula de língua portuguesa para uma turma de 90 alunos. “É minha paixão, quero ficar velhinho e continuar dando aulas”, afirma.
O desejo de empreender começou a surgir “de verdade” a partir dos 25 anos. “Até então, eu percebia a necessidade de estabilidade profissional e acabava me dedicando mais à carreira acadêmica do que à empresarial”, diz Portella, que aos 21 anos publicou o primeiro dos cinco livros que escreveu até hoje, incluindo dois de ficção – Além da cobiça –, e o romance autobiográfico Preto e branco, a ser lançado ainda este ano.
Contando apenas com recursos próprios, em 2004 Portella começou a ministrar aulas de reforço escolar em sua própria casa, no Rio de Janeiro. “Percebi que havia uma oportunidade de negócio bastante promissora nessa área, justamente porque o mercado de educação no Brasil ainda é muito dominado por instituições familiares ou religiosas, que muitas vezes acabam não fazendo o esforço necessário para inovar”, reflete.
Mas essa não foi a sua estreia no mundo dos negócios. Em 2001, o carioca fundou a editora Irium, especializada em livros e materiais didáticos para cursos pré-vestibulares e ensino médio. Após três anos na empresa, decidiu vender sua parte devido à diferença de visão entre os sócios. “Eles tinham uma visão mais localizada, com foco no mercado do Rio de Janeiro, enquanto eu desejava expandir de maneira mais global”, conta.
No início, a escola funcionava como uma espécie de tira-dúvidas sobre as principais disciplinas de ensino médio, incluindo diferenciais como atendimento individualizado, orientação psicológica e sistemas exclusivos de avaliação comportamental. Portella também comprou um carro que utilizava para o transporte dos alunos. “Nessa época, chegamos a ter 180 alunos pagando um tíquete médio mensal que variava entre R$ 300 e R$ 400.”
Cada vez mais procurado por pessoas de todas as idades – mas sobretudo candidatos a concursos públicos – o empreendedor decidiu abrir a primeira unidade no Bairro Recreio dos Bandeirantes. “A sala de aula improvisada em casa já não dava mais conta de tantos alunos”, recorda. O crescimento da empresa, que primeiramente chamou-se Pronto-Aula e, mais tarde, Sem Dúvidas, motivou a abertura da segunda unidade apenas um ano depois, em 2005, localizada em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. “Começamos a nos consolidar a partir dessa segunda unidade, quando atingimos a maturidade da proposta”, diz.
Foi nesta mesma época que Portella se separou do primeiro sócio, que assumiu a unidade do Recreio dos Bandeirantes, enquanto o empreendedor ficou com a de Jacarepaguá. Reinaugurada com o nome Curso Maxx, a escola passou a oferecer uma metodologia de ensino exclusiva, com cursos que preparam para todos os concursos públicos – e não voltados para processos seletivos específicos, como faz a maioria da concorrência. “Ao invés de oferecermos cinco ou seis disciplinas voltadas especificamente para o concurso X, nossas turmas têm 14 disciplinas que preparam os alunos para cerca de 90% dos concursos públicos”, explica.
O sistema de ensino do Curso Maxx inclui a realização de simulados, livros didáticos com 50% de desconto, monitoria extra, aulas on-line e controle de aplicação de conteúdo. A escola ainda oferece pacotes de vantagens, em que o aluno frequenta 90% das aulas e ganha um curso igual com bolsa de 100% caso não passe no concurso desejado. A fórmula deu certo. Em pouco tempo, Portella inaugurou outras quatro unidades do Curso Maxx, sendo duas no Centro, e as demais nos bairros Álvaro Alvim e Madureira, todas no Rio de Janeiro. Motivado pela crescente demanda, o grupo decidiu criar também a Ícone Concursos, escola focada somente em concursos na área de segurança pública.
O lucro também cresceu. “Hoje a empresa tem faturamento de aproximadamente R$ 1,2 milhão por mês”, diz Portella, relembrando que iniciou o negócio com pouco mais de R$ 15 mil. “Nossos cursos passaram a ter um tíquete médio mais alto e a arrecadação da empresa em relação aos concorrentes aumentou demais, o que trouxe um diferencial de crescimento para a rede.”
Atualmente com 3 mil alunos matriculados, o Curso Maxx iniciou 2011 se lançando no mercado de franquias. “Desde o início eu quis investir no franchising, mas foram três anos até concluirmos o plano de franquias”, diz o empresário, que contou com uma assessoria jurídica para conseguir formatar todos os detalhes do negócio. Já as partes administrativa, pedagógica e operacional foram inteiramente desenvolvidas pela equipe interna. Para auxiliar na gestão e expansão da rede, Portella conta com a ajuda dos sócios, os também professores Alexandre Lopes e Ricardo Mello.
Padrão de ensino
Com o auxílio de um sistema informatizado de gestão empresarial, a rede será capaz de manter o mesmo padrão de ensino em qualquer lugar do Brasil. O objetivo este ano é dar continuidade à expansão no Rio de Janeiro, onde já foram comercializadas seis unidades. A primeira delas deve ser inaugurada em Niterói ainda este semestre. Até outubro, serão inauguradas as franquias da Barra da Tijuca, Ilha do Governador, Bangu e São Gonçalo.
A partir de 2012, a intenção de Portella é expandir para outros estados, sobretudo São Paulo, Paraná e Distrito Federal. “Como São Paulo é muito grande, vamos entrar logo com quatro unidades de uma vez, uma em cada zona da cidade”, revela. Enquanto isso, o empresário concentra-se em fortalecer a infraestrutura da chamada “central de inteligência” da empresa, que cuida de todo o funcionamento de tarefas específicas das unidades, como a elaboração de material didático, atualização do site e extranet. “O objetivo é que os franqueados ocupem-se apenas da gestão do ponto de venda.”
Para realizar o antigo sonho de ter um colégio, em março de 2010 Portella adquiriu o Colégio Educo, tradicional instituição carioca de educação infantil e ensino médio. Em 2012, a expectativa é reinaugurá-lo com o nome Colégio Maxx e uma proposta de ensino inovadora e totalmente integrada às novas tecnologias. “Cada aluno, por exemplo, vai receber um iPad para fazer exercícios e assistir aulas on-line.”
Um dos maiores desafios que Portella enfrentou como empreendedor foi conseguir capital de giro. “É preciso um endividamento inicial para ter lucro”, reflete. Outra dificuldade diz respeito à descrença e desconfiança dos que estão ao redor. “No início, o empreendedor é muito solitário, pois as demais pessoas geralmente têm dificuldade de enxergar as reais possibilidades do negócio – e elas nem têm a obrigação disso, já que sequer sabem exatamente o que você está fazendo”, afirma.
Manter a qualidade de vida faz parte das estratégias do empresário para ter sucesso na carreira. O kitesurfe semanal, por exemplo, é sagrado. “Em hipótese nenhuma eu abdiquei da qualidade de vida para empreender. Aconteça o que acontecer, às sextas-feiras eu largo tudo e vou para Araruama praticar kitesurfe”, conta Portella, que “bate cartão” todos os demais dias, das 9h às 22h. “Você precisa encontrar um método de se energizar e aproveitar a vida, porque o mais importante nisso tudo é o ser humano.”
Contato
Curso Maxx: www.cursomaxx.com.br