No final do túnel escuro da pandemia, o Brasil e o mundo ficam diante dos clarões de bombardeios da invasão da Rússia na Ucrânia. Aos primeiros sinais de se poder respirar mais aliviado e ainda de enxugar as lágrimas de mais de 5 milhões pessoas mortas em todos os continentes por um destruidor vírus, surge uma guerra entre humanos que não envolve apenas os dois países, mas abre a participação e o confronto entre as maiores nações do planeta.
De um lado a Rússia, aliada da China. De outro lado a Ucrânia, sem pertencer mas com o apoio dos 30 países que formam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), entre eles Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e França. Essa Organização foi criada em 1949, na época da chamada “guerra fria”, quando os Estados Unidos e a União Soviética protagonizavam o mundo, mas sem enfrentamentos com armas.
A Rússia se preparou para essa guerra desde que Wladimir Putin, um ex-agente da KGB assumiu a presidência do país, em 2000. Há mais de 20 anos no poder, ele foi contaminado pelo vírus da nostalgia do antigo poder da União Soviética, mantido até 1991, quando dominava 15 repúblicas, entre elas a própria Ucrânia, a Georgia, a Letônia e a Lituânia.
A economia russa ainda não figura entre as 10 maiores do mundo, sendo comparável à do Brasil. No entanto, o país detém hoje o maior poderio de armas nucleares do mundo. Sua tropa é formada por 900 mil soldados (Ucrânia conta com apenas 150 mil soldados). Suas reservas financeiras somam quase 1 bilhão de dólares e Putin sabe da atual dependência de toda a Europa pelo gás russo que supre a necessidade desses países em mais de 40%.
Putin olha a Ucrânia como um país estratégico para seu avanço e segurança territorial. Assim, quer destruir a pretensão da Ucrânia de se filiar à Otan. Sabe que o país aumenta seu poderio de armas nos últimos anos e não quer lidar com mais um inimigo, uma ex-república, bem do seu lado. O líder soviético sabe também da riqueza que tem o solo ucraniano: maior reserva de urânio da Europa, segunda reserva de titânio da Europa, segunda maior reserva de minério de ferro no mundo (30 bilhões de toneladas) e terceiro lugar na Europa em reservas de gás (22 trilhões de metros cúbicos).
O povo ordeiro e trabalhador da Ucrânia, país conhecido pela Costa do Mar Negro e pelas suas montanhas arborizadas, tem o direito de ser uma nação soberana, independente, manter a sua cultura e seu próprio modo de vida.
Na capital Kiev, a portentosa catedral de Santa Sofia, com sua cúpula dourada e mosaicos do século XI, relíquias do patrimônio mundial, é só mais um ponto no mapa para o bombardeio russo.
Além das perdas humanas, o que é mais trágico, o preço econômico dessa guerra será de grande proporção. Só na primeira semana, os refugiados ucranianos que rumaram para quatro países diferentes já eram mais de 400 mil. A previsão é que esse conflito gere mais de 5 milhões de refugiados. O desemprego em toda a Europa terá aumento significativo nos próximos meses e a inflação será desencadeada pelo aumento dos custos dos alimentos, da gasolina e do gás.
Quem não se refugia em outros países, se esconde no subterrâneo das suas casas, no metrô ou em abrigos antiaéreos. A maioria dos soldados, formados por jovens ou de pouca idade, que estão na linha de frente das batalhas, nem sabem por que estão ali. Detonam suas armas mortíferas que vão atingir milhares de inocentes, muitas crianças. Só no primeiro dia da guerra foram mortas 130 pessoas, entre civis e militares. Mais de 300 ficaram feridas.
Quando um soldado não sabe por que precisa matar alguém ou morrer, a derrota é do ser humano.