René Menezes

Viver com mais liberdade de ideias, ter a chance de expressar a própria personalidade nas atitudes e no estilo de se vestir e não ser julgado pela aparência. Esses foram alguns dos motivos que levaram René Menezes a abandonar sua carreira promissora no mundo corporativo de grandes multinacionais, em São Paulo, para se tornar Microempreendedor Individual (MEI), dono de uma agência que recebe turistas brasileiros em Praga, na República Tcheca.

A trajetória entre uma fase e outra da vida de René, obviamente, aconteceu aos poucos e começa a se explicar quando seu hobby musical nos anos 90 foi se tornando mais significativo em sua vida. “Nessa época, eu participava de um projeto de música eletrônica em que atuava como “front man singer” e, por causa disso, comecei a incorporar um estilo de vestir e usar o cabelo com mais personalidade, não me adequando mais ao perfil corporativo”, relata René. Depois de 13 anos morando longe do País, René constata que o Brasil é muito conservador em relação à aparência das pessoas, sobre tudo no ambiente empresarial. “Quando trabalhava nas empresas brasileiras, muitas vezes era julgado pela aparência. Porém, o modo como você se veste não tem nada a ver com seu conhecimento ou capacidade para produzir”, opina.

Paralelo à vida artística, René seguia trabalhando como analista de informações e desenvolvimento de vendas nos escritórios centrais de empresas multinacionais nos ramos de produtos de limpeza e cigarros, em São Paulo, e cursava administração de empresas na Fundação Santo André, em São Paulo. Entretanto, no ano 2000, René sentiu vontade de fazer algo novo e resolveu conhecer a Europa, começando por Praga. Por causa do grupo musical de René – intitulado Morgue Mechanism, que ficou conhecido por dois álbuns produzidos por gravadoras alemãs e brasileiras – ele havia hospedado alguns tchecos e eslovacos, em sua casa em Santo André (SP), que conheceu por causa de uma revista de música eletrônica chamada Crewzine. Assim, René rumou para o leste europeu, sem saber que não voltaria mais ao Brasil para morar.

Acostumado a trabalhar desde os 15 anos na capital paulista, René chegou a Praga e decidiu ficar. Nos primeiros anos no país, trabalhou, ilegalmente, como lavador de pratos e auxiliar de cozinha em um restaurante mexicano. E essa experiência também foi para ele uma escola para aprender o idioma espanhol. Em Praga, René também conheceu uma tcheca, casou-se e teve um filho. E, somente, com o nascimento do seu filho foi possível legalizar sua situação no país. Encantado com a cidade de Praga que ele chama de mágica, René pensou em ser guia turístico e se tornou o primeiro brasileiro a fazer o curso de guia turístico ofertado unicamente na língua tcheca pela Escola de Turismo Tyrkys. Depois de fazer um teste e receber aprovação, René começou a atuar como guia turístico em Praga. Após algum tempo, com mais experiência, René também começou a levar grupos de brasileiros para outros países da Europa Central, entre eles, Alemanha, Áustria e Hungria. Dessa forma, trabalhando como guia, René foi formando, ao longo desse período, um time de guias que ficaram credenciados nessas respectivas cidades, apresentando as atrações em português.

A vontade de criar uma empresa própria no ramo ficou intensa e a primeira tentativa foi construída com mais dois sócios tchecos, mas não teve sucesso porque um deles não levou a empresa a sério, desviando dinheiro do negócio para uso pessoal. “Toda a sociedade tem riscos e essa má experiência, depois de um tempo, me deu coragem para seguir tentando, porém, por enquanto, sem sócios”, afirma René. Assim, em uma viagem ao Brasil para visitar a família, em 2012, René fundou a Renétour – Tours e Transfers na cidade de Santo André (SP). A empresa é brasileira, tem clientes brasileiros, recebe em reais, mas atua na Europa Central, oferecendo tours em português, espanhol e inglês pelas cidades de Praga, Viena, Berlim, Munique e Budapeste. “A empresa tem o propósito de atender os turistas brasileiros que viajam pela Europa Central e buscam por atendimento personalizado em português, sem risco de choques culturais”, diz René.

O microempresário apaixonado pela vida em Praga conta que o Sebrae foi o grande facilitador para ele concretizar a abertura do negócio. “Quando cheguei ao Brasil, no final de 2012, para rever a família, um ex-cunhado me falou sobre o Microempreendedor Individual (MEI). E procurei saber mais e através dessa forma encontrei a possibilidade de fazer o que queria”, relata. René destaca que o Sebrae foi inspirador para ele. “Percebi que o órgão abre as portas aos microempreendedores e estimula a imaginação dos brasileiros para os negócios”, afirma. Entretanto, René comenta que o despreparo dos órgãos públicos para agilizar os processos burocráticos é um aspecto negativo a ser observado para a legalização das microempresas. “Ao sair do Sebrae empolgado com o direcionamento que tinha recebido, me deparei com o atraso nos departamentos públicos que não acompanham o ritmo do Sebrae”, enfatiza.

Outra dificuldade encontrada por René no processo de abertura da empresa foi a criação de uma conta jurídica. “Como estava fora do país há 13 anos, eu não tinha histórico financeiro, nenhum banco quis abrir uma conta para mim. Somente após um dossiê, a Caixa Econômica liberou a abertura da minha conta jurídica”, conta. Após vencer essas dificuldades, René retornou a Praga com a empresa aberta e legalizada. Feliz por ter se enquadrado no MEIe, por isso, estar livre de pagar impostos, por conta do faturamento da empresa que, no momento, não passa dos R$ 60 mil anuais, René planeja divulgar mais os serviços da sua empresa para brasileiros e, em breve, expandir, conquistando mais clientes e, consequentemente, melhorando o faturamento. “Entre nossos diferenciais, temos o fato de ser uma empresa brasileira, com seus serviços vendidos e pagos no próprio Brasil, isentando, assim, os clientes brasileiros de eventuais agentes intermediários”, explica René. No site da empresa (www.renetour.com.br), é possível encontrar depoimentos de brasileiros que foram guiados por René. Entre eles, o destaque está para o relato da jornalista Ana Paula Padrão que esteve com sua equipe em Praga produzindo o programa SBT Realidade e contratou os serviços de René.

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