Sem barreiras

Aos poucos, a mudança do mercado de trabalho revela que a divisão entre “profissão de homem” e “profissão de mulher” já é ultrapassada. Não é difícil encontrar histórias de sucesso de mulheres em setores já tradicionalmente conhecidos pelo domínio e técnica masculinos. Ao mesmo tempo, essas profissionais possuem, em sua maioria, algum momento em que passaram por alguma situação de questionamento, dúvida ou preconceito na carreira.

Com a engenheira química Leila Jansen foi assim. Apesar de garantir que não teve muitas barreiras durante sua vida profissional, ela relembra que, no início da carreira, algumas funções mais ligadas à área de produção não lhe foram permitidas somente pelo fato de ser mulher. Esses impedimentos, no entanto, nunca desanimaram a profissional. “Percebi que a formação em engenharia me possibilitava atuar em áreas de suporte à produção e que poderia me realizar atuando em algumas dela”, relembra.

O tempo provou que ela estava certa. Em 2007, Leila fundou, junto com o marido, a Chem4u, empresa incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), que desenvolve, produz e comercializa aditivos e nanoaditivos para uso em tintas, resinas, vernizes e plásticos de engenharia. São produtos como os da linha Progeniem, que agrega propriedades bactericidas e fungicidas aos materiais, podendo ser aplicados, por exemplo, para imunizar ambientes hospitalares e embalagens de alimentos.

Para a empresária, que sempre trabalhou em áreas ligadas à tecnologia, a nanotecnologia representa um grande desafio. Considerada pelo governo federal como uma das áreas estratégicas e portadoras de futuro, ela acredita que este setor oferece uma grande janela de oportunidades para a indústria nacional. O desenvolvimento da nanotecnologia, aliás, faz parte do escopo do recém-lançado Plano Brasil Maior, criado pelo governo federal para aumentar o peso das atividades industriais com alto conteúdo tecnológico no Produto Interno Bruto (PIB).

“A nanotecnologia é considerada uma área transversal que pode ser incorporada em vários produtos para uso em diversos setores da economia. Ela se apresenta como um dos próximos passos após os grandes desenvolvimentos obtidos nos campos da microeletrônica, computação e telecomunicações. Espera-se que a nanotecnologia seja promotora de muitas soluções para grandes problemas que hoje enfrentamos”, afirma.

Para guiar seus negócios em um setor que, embora promissor, ainda é novidade no País, a empreendedora conta que procura sempre focar nos seus objetivos. “Em uma empresa nascente, de base tecnológica, pequena, com recursos humanos e financeiros limitados não se pode perder de vista as prioridades e metas no seu direcionamento.”

Engenharia de conciliação

Atender às necessidades próprias e da família e ao mesmo tempo progredir na carreira torna as mulheres muito bem preparadas para o processo empreendedor, na opinião de Leila. “Principalmente no início de um novo negócio, quando muitas atividades necessitam ser tocadas em paralelo, recursos precisam ser buscados, relacionamentos precisam ser desenvolvidos e a empresa ainda conta com poucas pessoas na sua equipe”, enfatiza. Casada há 20 anos e com uma filha adolescente que está se preparando para o vestibular, a empresária conta que sempre conseguiu conciliar a vida profissional com a pessoal. Como seu marido sempre atuou também na área industrial, as dinâmicas de trabalho sempre foram similares, o que facilitou a não haver conflitos gerados pela sua dedicação ao trabalho.

O currículo de Leila, repleto de boas experiências profissionais e cursos de qualificação, justifica o espaço conquistado. Graduada em Engenharia Química pela Escola Politécnica da USP, possui Mestrado em Engenharia Eletrônica e Computação/Sistemas e Controle pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Doutorado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da USP. Tanto conhecimento faz com que, paralelamente à Chem4u, ela atue no meio acadêmico como professora universitária na Escola Superior de Engenharia e Gestão (Eseg) e ministre aulas na Fundação Vanzolini, da Escola Politécnica da USP, no curso de MBA.

“Nunca tive muitas barreiras pelo fato de atuar em espaços predominantes de identidade masculina. Na minha cabeça não existe a preocupação de que um problema possa ser criado pelo fato de eu ser mulher. Um problema pode ser criado por falta de conhecimento, por decisões desajustadas, por falta de habilidade em resolvê-lo.”

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