O Severino Pereira era caixeiro viajante na sua cidade natal de Taquaritinga do Norte e por todo o interior de Pernambuco. Com duas malas, uma em cada braço, vendia roupas de cama e mesa de porta em porta. Usava um argumento de venda infalível.
-Senhora, compra. É produto bom, da indústria Matarazzo.
Depois de 30 anos, esse caixeiro viajante, mais conhecido por Seu Severino da Silva, comprou quatro indústrias têxteis do poderoso grupo Matarazzo.
Conheci ele no dia que completou 90 anos. Um dia antes liguei para a secretária dele para combinar uma entrevista com um repórter do jornal. Na época eu era chefe de reportagem de economia no O Globo, no Rio de Janeiro. A secretária me pediu um minuto e logo veio com a resposta que ele receberia o repórter no dia seguinte, as 8 horas da manhã, no centro do Rio, dia do seu aniversário. Fiquei surpreso e até emocionado com a rápida resposta e disse a ela que eu mesmo ia fazer a entrevista.
No décimo andar de um prédio na rua do Ouvidor, as 8 horas da manhã, fui recebido por esse homem miúdo, franzino, mas muito bem vestido, de terno azul marinho, camisa branca e uma gravata vermelha. Mas ele estava ali não por ser aniversário dele e muito menos por receber um jornalista. Todos dias chegava as 7 horas da manhã no escritório e saia nunca antes das 6 da tarde. Eu estava diante de um dos maiores empreendedores de toda a história econômica do Brasil.
Nessa época, junto com os filhos, ele controlava 10 indústrias têxteis, 5 indústrias de cimento e duas mineradoras espalhadas por uma dezenas de estados brasileiros. Suas empresas empregavam 12 mil pessoas e no ano de 1985 faturaram 2 bilhões de reais, uma fortuna hoje e muito mais na época.
Sua trajetória de empreendedor e influenciador começou em 1960. Na época pediu um dinheiro emprestado do Banco do Brasil para salvar a falida Companhia Nacional de Estamparia, localizada no Rio de Janeiro. Conseguiu o dinheiro e salvou a Companhia. No ano seguinte comprou a Companhia Nacional de Estamparia de Sorocaba, interior de São Paulo, e daí em diante a cada ano aumentava o seu império empresarial.
Falou para mim com entusiasmo das duas maiores alegrias da sua vida. A primeira: nenhum empregado dele jamais entrou em greve. Segunda: conseguiu ajudar a sua querida e sempre lembrada cidade onde nasceu. Ali construiu uma maternidade e um cinema confortável de 400 lugares, sem contar os milhares de patrocínios de eventos locais.
Severino da Silva morreu um ano depois, aos 91 anos, de uma embolia pulmonar. Ele foi velado na sua vistosa mansão, na rua São Clemente, no bairro Botafogo, Rio de janeiro, onde morou por 40 anos. Monumentos, praças e ruas se espalham pelo interior de São Paulo, em especial em Sorocaba, e na sua cidade natal, para lembrar sempre desse antigo e incansável caixeiro viajante.