Sou a caçula de uma família de seis irmãos. Nasci na Bahia e lá tive Diumara e Luana, fontes de inspiração e minhas fortalezas. Sou chamada pelos amigos de Janda, sou mulher, preta e nordestina e na minha vida sempre tive que batalhar para proporcionar um futuro melhor às minhas filhas. Por conta disso, me reinventei várias vezes e fiz de tudo, consertei eixo de caminhão e tive uma pequena serralheria onde cortava, moldava e soldada ferros.
Mesmo com currículo e boa formação não conseguia emprego. Com duas filhas e um relacionamento falido resolvi sair da Bahia para o Rio de Janeiro. Fiz a trajetória de muitas mulheres e homens que migram. Fui morar na casa da minha tia em Nova Iguaçu e logo fui procurar emprego, pois não queria pedir mais ajuda para os meus pais, que já me ajudavam demais com as meninas. Lá tive a ideia de vender salgados na porta de uma universidade, só não sabia que mais tarde eu estudaria lá.
Foi vendendo salgados que consegui minha primeira oportunidade. Um professor que sempre comprava comigo um dia perguntou sobre minha história e conversamos. No dia seguinte, ele me deu seu cartão e pediu que procurasse uma de suas gerentes. Cinco dias depois, comecei a trabalhar em uma das maiores redes do varejo. Anos depois soube que a vaga não existia. Fiz minha carreira lá. Fui transferida para São Paulo em 2003. Trabalhei durante muito tempo nessa empresa, e depois segui minha carreira no varejo. Nessa época, recebi um alerta da vida: um tumor no abdômen. Percebi que precisava cuidar de mim e resgatar meus valores, perdidos entre a pressão por resultados. Em 2015, juntei-me a uma amiga e decidimos empreender, também no segmento varejista. Começamos a operar a BP9 Business Partners, um comércio eletrônico de joias e roupas. Mas não conseguimos captar investimentos e nosso caixa secou. Vendemos a empresa no ano passado. No mesmo ano, fui convidada para assumir o cargo de subsecretária de empreendedorismo, pequenas e médias empresas do estado de São Paulo. Hoje também sou diretora-executiva do Banco do Povo, a primeira mulher desde a sua criação em 1997 a ocupar o cargo, coordenando uma equipe de mais de 700 agentes de crédito e com o desafio de torná-lo um banco digital.
Sou palestrante, professora de Finanças Corporativas de pós-graduação e consultora. Possuo MBA em Finanças e Controladoria pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral. Me especializei em Gestão Estratégica pela Business School e Inteligência Competitiva pela ESPM São Paulo. Hoje sou conselheira da Women in Leadership in Latin America (WILL), ONG voltada para o empoderamento feminino nas organizações e voluntária no Grupo Mulheres do Brasil. Atuo também como diretora financeira da Aristocrata Clube. Coordeno o programa Empreenda Rápido, que promove capacitação empreendedora, formalização e microcrédito. Ano passado, conquistei mais um sonho: Palestrei em um dos eventos mais importantes do mundo a TEDxSão Paulo. Em setembro, vou lançar o meu livro “Mulheres nas Finanças”, pela editora Leader, onde contarei minha trajetória, minhas experiências e como cheguei até aqui. O livro “Mulheres nas Finanças”, da série Mulheres, apresenta protagonistas de suas trajetórias profissionais através de suas experiências e cases de como superaram obstáculos no clima desafiador do mercado financeiro. A Leader tem como objetivo registrar o legado dessas mulheres no país tão necessitado de exemplo de pessoas inspiradoras.
Tenho muito orgulho da minha trajetória, principalmente das dificuldades que passei por conta das minhas grandes paixões: minhas filhas. Olhando para trás vejo que valeu muito a pena. Hoje a mais velha é formada em direito tributário e a outra estuda para fisioterapia.
Sempre estudei muito, fiz vários cursos gratuitos ou não, busquei bolsas de estudo ou patrocínio das empresas onde trabalhei. Vergonha zero de pedir descontos, propor parcerias e pedir conselhos. A educação é transformadora, acredite!
Meu propósito é lutar por uma sociedade mais igualitária, onde a cor da pele não defina o lugar onde devemos estar e ser mulher. Que não precisamos ser cota da cota (negra, mulher e nordestina), que não nos coloquemos como referência de diversidade, mas sim de normalidade, principalmente, nas posições de liderança, seja no setor público ou privado.