O Brasil é a sexta economia do mundo, numa lista comparativa de 183 países, à frente de Reino Unido, Itália e Rússia e de outros países como Israel (na posição 42) e Irlanda (na posição 47). Sem dúvida, é um feito admirável.
Em outra lista (Pesquisa GEM 2011), com 27 milhões de pessoas envolvidas em um negócio próprio ou na abertura de um, ficamos apenas atrás dos Estados Unidos da América do Norte e da China, ocupando a terceira posição de país mais empreendedor do mundo. Em 2012 (Pesquisa GEM 2012), tivemos 36 milhões de brasileiros empreendedores em atividade (uma nova empresa ou a expansão de um empreendimento existente, uma atividade autônoma, tentativa de criação de um novo empreendimento), na faixa etária entre 18 e 64 anos. Isto significa que somos, ou parecemos ser, uma nação empreendedora. Além disto, o sonho de ter um negócio por conta própria ocupa a terceira posição, perdendo somente para o sonho de viajar pelo Brasil e comprar a casa própria e cinco posições acima do sonho de fazer carreira numa empresa (Pesquisa GEM 2012).
Temos o Simples Nacional, que é um regime tributário simplificado, diferenciado e que favorece as micro e pequenas empresas, pois, por meio dele, pagam menos impostos. Temos um mercado consumidor fabuloso, que é um dos maiores do mundo. Com um orçamento anual estimado em 6 bilhões de reais, considerando apenas três instituições às quais o segmento das micro e pequenas empresas pode recorrer para se capacitar (SEBRAE / SENAI / SENAC), se tem uma quantidade colossal de oferta de cursos, programas, consultorias, palestras, seminários, missões empresariais, encontros, workshops, muitos deles gratuitos, outros pagos.
Diante de tal visão é legítimo imaginar que estamos desenvolvendo um empreendedorismo de elefante, naquilo que de virtude ele tem: gigante, forte, inteligente e com vida longa.
Se o leitor concorda com esta visão, então está tudo bem. Mas, se não concorda inteiramente ou se tem dúvidas, então, deve estar se perguntando: o que é que não se encaixa na referida visão?
Vamos começar com o que há de mais básico no empreendedorismo, ou seja, sua razão de existir. O impulso para empreender vem acompanhado do desejo inerente do empreendedor investir para criar uma corporação para si (tal qual cada rei precisa necessariamente ter seu reino) e como consequên-
cia traz benefícios à sociedade no qual está inserido, na forma de criação de mais ocupações, aumento da riqueza do país e sua distribuição. O Brasil ocupa as primeiras colocações num ranking de empreendedorismo (como vimos) e, no entanto, ocupa a posição 101 num ranking de 226 países de distribuição de riqueza, ao passo que os Estados Unidos também ocupam as primeiras colocações quanto ao empreendedorismo, e, simultaneamente, ocupam a 12ª colocação no ranking de PIB per capita (vide – indexmundi).
Disto constatamos que uma das funções do empreendedorismo no Brasil, supostamente, está se cumprindo (formação de riqueza, haja vista ser o Brasil a sexta economia do mundo), mas a de distribuição de renda, não. Vamos avançar no primeiro tópico. Segundo dados do IBGE, as MPEs representam 20% do PIB brasileiro e ao mesmo tempo são 99% das empresas constituídas do Brasil. Se fizermos as contas, considerando que temos um PIB de 4,4 trilhões de reais e que temos 36 milhões de empreendedores em atividade (Pesquisa GEM 2012), temos uma receita anual de R$ 122.222,22 por empresa com uma receita bruta média de R$ 10.185,18 por mês, o que implica em uma renda pessoal (pró-labore) de R$ 1.018,51 (considerando 10% da receita) que representa 1,5 salário mínimo (R$ 678,00). Isto praticamente equivale ao que ganha um empregado de shopping center (R$ 831,00), sem correr nenhum risco inerente ao empreendedorismo.
Ao investigarmos o primeiro tópico (a criação de riqueza), esclarecemos também o segundo (a distribuição de renda), ou seja, está visto em números que nosso País pratica um subempreendedorismo. Um empreendedorismo de empregado de início de carreira. Dito em outras palavras, mais vale ser um empregado no Brasil do que um empreendedor.
Vamos avançar em nossa investigação. Empreender significa necessariamente investir em um empreendimento, para que o investimento retorne, multiplicado, o mais rápido possível. No entanto, no Brasil, parece que o capital inicial necessário sumiu feito passe de mágica. Até das pesquisas. Não há pesquisa que revele qual é a média do capital com que as empresas abrem seus negócios. Ou seja, praticamos um capitalismo sem capital. Só com trabalho, o que significa uma completa distorção do modelo e que certamente é uma das causas de nosso subempreendedorismo. Sem capital e sem acumulação de capital não há como avançar em produtividade, em inovação, em tecnologia, em contínuo crescimento empresarial e de capital.
E tem mais: ainda somos do tempo que chamamos nossos trabalhadores de mão de obra e que obrigamos nossa equipe de atendimento usar uniformes, transformando todos em soldadinhos de chumbo, que são outras causas de nosso subempreendedorismo.
Precisamos urgentemente de um novo empreendedorismo, pois visto da terra a realidade percebida do empreendedorismo é uma cobra que se arrasta tentando a sobrevivência, em outras palavras, do elefante visto do céu, sobrou a tromba na forma de cobra.