Ex-jogador de futebol americano da liga universitária, o norte-americano Ty Evans conhece de perto as dificuldades e necessidades enfrentadas por jovens desportistas em início de carreira. No Brasil há três anos, ele trouxe na bagagem a semente de um projeto pioneiro na área esportiva com o objetivo de revelar atletas com idade entre 14 e 16 anos, ao mesmo tempo em que os encaminha profissionalmente, ao engajar famílias, amigos, escolas e comunidades inteiras em torno do esporte. “Nossa missão é democratizar a oportunidade de acesso desses garotos ao futebol e dar visibilidade aos muitos talentos que existem escondidos por aí”, explica Ty, fundador e diretor-executivo da Play Gestão do Esporte.
Formado em Finanças e Contabilidade, Ty veio ao Brasil a convite de um amigo e empresário local, que o ajudou a implementar suas ideias por aqui. Mas não foi a primeira empreitada do norte-americano, que com apenas 15 anos fundou uma pequena empresa de paisagismo. “Eu cuidava dos jardins de pelo menos cinco casas, então decidi abrir meu primeiro negócio para profissionalizar o serviço”, relembra.
Já a vontade de trabalhar fora dos Estados Unidos surgiu depois de formado, quando Ty foi chamado para trabalhar como analista financeiro numa empresa de refrigerantes nas Filipinas. “Foi a primeira experiência que enfrentei desafios no mercado internacional e adorei isso, muito mais pelo fato de ter que superar outra cultura no caminho”, diz o empresário, que retornou aos Estados Unidos disposto a buscar outras oportunidades de negócio pelo mundo. Foi então que surgiu a ideia de conciliar trabalho com a antiga paixão pelo esporte. Ao ser convidado pelo amigo para conhecer o Brasil, Ty não teve dúvidas e trouxe consigo a ideia do projeto que norteou a criação de sua empresa de gestão do esporte.
Sediada em Florianópolis, a Play Gestão do Esporte dedica-se ao planejamento, criação e gestão de projetos esportivos. O mais famoso deles é chamado “Futebol Futuro”, que pretende ir além das tradicionais “peneiras de futebol”, conciliando a seleção, treinamento e ranqueamento de jovens jogadores ao suporte educacional. “Além de oportunizar o jovem a seguir uma carreira profissional, buscamos uma maneira de garantir que ele tenha sucesso também fora do mundo da bola. Vemos o esporte como um meio para contribuir na inclusão socioeducativa dos jovens”, afirma o empreendedor. “Apenas 10% dos jovens que almejam uma carreira profissional efetivamente chegarão lá. Então é preciso aproveitar a paixão que eles têm para o esporte e direcioná-los para uma conquista paralela”, completa.
Um dos diferenciais do projeto é a aplicação da metodologia do Athletic Potential Evaluation Protocol (Apep) para avaliação das habilidades e capacidades atléticas necessárias para o esporte de alto desempenho. Inédito no Brasil, o protocolo é muito popular nos esportes de equipe e nas ligas escolares e profissionais dos Estados Unidos.
Mas o destaque mesmo fica por conta do incentivo para que os jovens concluam os estudos e ingressem numa universidade. Para isso, o Futebol Futuro conta com a parceria da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), que assegura uma bolsa de estudos integral para os atletas, possibilitando o encaminhamento profissional de todos os envolvidos, inclusive aqueles que, por acaso, não sigam a carreira de jogador.
Uma das principais dificuldades dos aspirantes a atleta é chamar atenção num mercado extremamente competitivo. Atento a isso, o programa criado por Ty propõe-se a divulgar os jovens, através de uma plataforma digital que funciona como um portfólio on-line, incluindo vídeos e dados completos sobre a performance de cada um deles – e que permanece ativo mesmo após os garotos se desligarem do projeto. “Além de identificar os talentos, nosso objetivo é proporcionar a maior visibilidade possível aos melhores atletas”, diz o empreendedor.
Para ingressar no Futebol Futuro, o aspirante a atleta é avaliado individualmente por um especialista em cada posição escolhida – goleiro, lateral, volante, zagueiro, meia e atacante. A comissão julgadora inclui ainda uma equipe formada por treinadores de futebol, ex-jogadores e professores de educação física. Divididos em cinco fases eliminatórias com critérios de avaliação específicos por posição, o projeto promove “peneiras” com aproximadamente 500 jovens por região, até firmar uma seleção dos 11 melhores jogadores. Na sequência, as equipes se enfrentam num torneio para formar a equipe final de 20 jogadores. Os selecionados passam a treinar com a comissão técnica do Futebol Futuro e participam de competições diversas, incluindo eventos internacionais a exemplo do Las Vegas Mayor’s Cup.
Realizados na estrutura montada em Florianópolis, os treinos são feitos em horários complementares à escola, com o suporte de uma equipe multidisciplinar que reúne técnicos de futebol, educadores físicos, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos, assistente social e equipe de filmagem. O material coletado passa a integrar um perfil completo sobre a sua evolução e desempenho dentro dos protocolos da Apep, abrangendo desde testes físicos que avaliam quesitos como explosão muscular, resistência física, agilidade, força e rapidez, até critérios mais subjetivos e fundamentais em esportes coletivos, como o espírito de equipe. “Assim, criamos um ranking com base nas notas conferidas a cada atleta reunindo suas habilidades físicas, técnicas e táticas”, aponta.
A escolha da capital catarinense como sede não foi por acaso. Segundo Ty, a cidade foi eleita “graças às oportunidades oferecidas por uma cultura de futebol menos sedimentada em relação aos grandes centros do Sudeste e estados vizinhos do Sul”. Ainda em 2013 a empresa deve expandir a atuação para outras regiões de Santa Catarina, com a intenção de abranger todo o País num futuro não muito distante. Além do Futebol Futuro, a empresa também coordena a realização de eventos esportivos, a exemplo da prova de triathlon Dash 113 e o Circuito de Rua Funcional. “Nossa missão é estimular e democratizar a prática esportiva, revelando os talentos escondidos por aí”, finaliza Ty.