Um operário da notícia

Carlos Fehlberg jornalista

 

 

Carlos Fehlberg jornalista

Carlos Fehlberg, um médico formado que decidiu  seguir a carreira de jornalista, morreu neste domingo, dia 15 de janeiro, aos 88 anos. Um mestre e ao mesmo tempo um incansável “operário” da notícia, da informação correta, da dedicação ao jornalismo.

Conheci ele como diretor de redação do jornal Zero Hora, em Porto Alegre. Lembro do dia 6 de agosto de 1978. Eu estava na primeira semana como repórter do jornal, um guri catarinense, vindo de Blumenau. Pego o jornal do dia com a manchete: Morreu o Papa Paulo VI. Nenhum jornal do Brasil deu a noticia. Só a Zero Hora.

Fui saber o que aconteceu. Carlos Felberger estava na redação, as 3 horas da manhã, para receber a primeira rodagem do jornal que naquele dia atrasou um pouco. Pegou o jornal e já ia para a sua casa, quando decidiu, por força de hábito, ir até a sala de telex e ver as últimas noticias. Lá estava: O Papa Paulo VI  acaba de morrer.

Ele acordou o arcebispo de Porto Alegre e pediu para ele confirmar a noticia da morte do Papa junto ao Vaticano. O arcebispo confirmou e ele foi para o arquivo do jornal (naquela época não tinha nem sonho de internet e nem Google). O arquivo era pastas de papelão com recortes de notícias de jornais. Fehlberger não chamou ninguém. Ele sozinho pesquisou a vida do Papa, escreveu a matéria, fez o titulo, trocou a manchete do jornal, fez mais duas páginas internas e mandou rodar de novo o jornal com a matéria exclusiva.

Para mim, aquilo foi a primeira lição de jornalismo na prática: comprometimento com a notícia, dedicação, seriedade. Cada repórter naquele dia foi cumprimentar ele na sua sala na redação.

Convivi ainda com o Fehlberger aqui em Florianópolis, quando ele veio ser diretor de redação do Diário Catarinense. Mas eu já tinha saído do jornal para lançar a Empreendedor. Quando encontrava ele, quase sempre com a mulher e minha amiga Estela Benetti, sempre lembrava desse episódio do Papa e quanto foi importante na minha vida de jornalista, não só para mim, mas também para uma legião de jornalistas que começava a carreira naquela época.

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