Um novo mercado na área de geração de energia elétrica está despertando a atenção de empreendedores brasileiros e estrangeiros. É a microgeração de energia, uma modalidade que promete ganhar impulso com a aprovação da Resolução Normativa nº 482, publicada em abril pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A resolução estabelece as condições para que o consumidor possa gerar energia a partir de fontes renováveis (eólica, solar, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas) e trocá-las num sistema de compensação com a distribuidora local. A eletricidade gerada pelos consumidores será descontada da conta de luz e o volume excedente transformado em crédito, beneficiando famílias, condomínios e pequenas empresas como hotéis e restaurantes.
Quem acaba de chegar ao Brasil para explorar este mercado é a belga Windeo Green Futur, líder em microgeração eólica e solar na Europa. “Estamos olhando o Brasil há muito tempo e vimos a Resolução 482 como um sinal positivo do governo para a microgeração. Achamos que o mercado ainda não está maduro, mas decidimos apostar mesmo assim”, afirma Alexandre Bretzner, diretor operacional da Windeo no Brasil. Ele aponta o crescimento do consumo de energia no Brasil, cerca de 5% ao ano, como um fator determinante para a decisão da Windeo de se estabelecer por aqui. “É quase meia Itaipu por ano”, destaca Bretzner. “Além disso, os ventos brasileiros são muito bons. O melhor ponto na Alemanha tem potencial 30% inferior do que o pior ponto de vento no Brasil.”
Bretzner espera fechar o primeiro contrato da Windeo no Brasil neste mês de setembro. A empresa, que por enquanto vai concentrar sua atuação na Região Sudeste, investiu R$ 2,5 milhões para entrar no mercado brasileiro e tem como meta chegar ao final de 2013 com um faturamento entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões. Na Europa, a Windeo tem 4,5 mil clientes e, em 2011, faturou 24 milhões de euros, 140% acima de 2010. A expectativa da empresa é que aos poucos o governo brasileiro aumente o rol de incentivos à microgeração, permitindo, por exemplo, a venda dos créditos de energia. “Isso aceleraria muito o retorno do investimento”, destaca Bretzner. A Windeo também defende a liberação de linhas de crédito específicas para investimentos em microgeração.
Quem também aguarda novos incentivos a este mercado é o engenheiro Luiz Cezar Pereira. Ele começou sua aposta na microgeração há 15 anos, quando a energia dos ventos ainda era vista como um investimento para aventureiros. Nesse cenário pouco favorável, Pereira decidiu aplicar seu capital intelectual e financeiro num negócio focado na produção de aerogeradores e turbinas eólicas. Assim nascia a Enersud, instalada em Maricá (RJ). Com um faturamento de R$ 2 milhões em 2011, a empresa tem o maior número de turbinas eólicas de pequeno porte instaladas no Brasil. “Sou otimista. A expectativa é que se repita aqui o que aconteceu em outros países – um impulso no setor e uma redução de custos com o aumento da escala”, avalia o empreendedor.
O tempo mostrou que Pereira estava mais para visionário do que aventureiro, apesar das dificuldades terem sido reais. “Pode-se dizer que eu vivi a pré-história da eólica, época em que estávamos aprendendo a lidar com uma das forças mais incontroláveis da natureza: o vento. Não foi uma luta fácil, não”, lembra o engenheiro, curiosamente um egresso do segmento de energia fóssil. Antes de fundar a Enersud, ele trabalhou por 35 anos como funcionário da Petrobras. A Enersud investe cerca de 30% do faturamento em inovação. A empresa também mantém parceria com mais de 30 universidades brasileiras, além de escolas técnicas, Senai e Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).