Burocracia trava o empreendedor

Diante da crise dos últimos tempos, certamente você já pensou em abrir um negócio próprio, ou já percebeu de um amigo ou parente, o desejo de enveredar pelo caminho do empreendedorismo. Um sentimento natural, visto que este é uma forma de ultrapassar esta fase desafiante da economia nacional. De acordo com dados do Sebrae, a expectativa é de que somente este ano sejam criadas 1,5 milhão de novas empresas, entre microempreendedores individuais, microempresas e as empresas de pequeno porte. João Gabriel Hargreaves, Diretor do Instituto Gênesis da PUC-Rio, fala sobre as tendências para o setor neste ano e como os empreendedores podem aproveitar o atual cenário de forma positiva.

Qual a principal dificuldade de se empreender no Brasil?

João Gabriel Hargreaves: Há um conjunto de dificuldades que atrapalha a evolução e maturidade do ecossistema empreendedor brasileiro. Importantes estudos e diagnósticos indicam como principais gargalos questões ligadas a financiamento, regulação, infraestrutura, capacitação e difusão do conhecimento e da cultura empreendedora.

Levando em consideração todos esses aspectos, diria que todos eles poderiam ser atenuados e superados pela desburocratização. Com certeza, a burocracia é o principal empecilho para o empreendedorismo no brasil. Precisamos simplificar a legislação para a abertura e encerramento de empreendimentos e startups. A falta de flexibilidade na legislação impede que muitas ideias inovadoras virem negócios rentáveis e lucrativos tanto para o empreendedor, como para a sociedade como um todo.

Quais as principais tendências para o empreendedorismo neste ano?

Temos como tendências para o cenário empreendedor nacional a criação de fintechs e startups que trabalham com blockchain tanto para o mercado de criptomoedas como para a gestão de contratos inteligentes. Esta tendência está ligada à otimização e customização de serviços ligados à compra e venda, bancos e instituições financeiras.

Temos também como tendências o incremento e uso da Inteligência Artificial, big data e Internet das Coisas, tecnologias que podem ser empregadas em basicamente qualquer nicho de mercado com o intuito de processar e analisar dados que facilitem tanto a tomada de decisão como a automação dos serviços.

Outras tendências que já estão em alta, mas que ainda serão ampliadas são os negócios de impacto socioambiental, negócios de economia compartilhada e sustentabilidade.

E de que forma os empreendedores podem aproveitar o atual cenário econômico de forma positiva?

Toda crise gera oportunidades. Não quero dizer com isso que a crise econômica e política do país pode ser positiva. De forma alguma! É prejudicial a todos. Mas, há brechas para fazer a diferença e melhorar, de certa forma, a situação. Muitas empresas nascem, crescem e prosperam em épocas de crise. O básico é ficar atento aos novos problemas e dificuldades que surgem na vida do brasileiro e, ao analisá-los, tentar pensar em uma possível solução. É assim que se inicia o processo de empreender: identificando um problema e buscando a solução para ele.

Quais as dicas para quem abriu um negócio ao longo de 2018 e agora precisa manter a estabilidade?

A estabilidade é um fator chave e decisivo para o sucesso de qualquer empreendimento, mas também é um dos fatores mais difíceis de conquistar. A estabilidade vem quando a oferta de um produto ou serviço se adapta às demandas do mercado. Para tal, o planejamento do seu negócio deve ser bem definido desde o início, mercado conhecido, o produto testado e experimentado antes de ser lançado, e estar atento às mudanças do cenário. Para que a empresa se perpetue, é necessário o tempo todo estar atento aos fatos acima mencionados.

Quais as vantagens de uma empresa contar com o apoio de uma incubadora?

Uma boa incubadora é um centro onde diversos atores importantes do cenário da inovação e do empreendedorismo circulam. Logo, a incubadora fornece uma série de conhecimentos, contatos e apoios que facilitam o desenvolvimento do empreendedor e do empreendimento, minimizando os riscos inerentes ao processo, e tornando o empreendedor cada vez mais capacitado para empreender. O empreendedorismo não é uma mágica, nem um golpe de sorte, nem algo que só pessoas incrivelmente inteligentes ou com recursos podem realizar. Empreendedorismo é também conhecimento aplicado. A incubadora oferece metodologias e técnicas capazes de fazer o processo de empreender dar certo.

É possível recuperar um empreendimento que esteja com dificuldades de retorno financeiro? De que forma?

Sim, sem dúvida. Após uma análise, é importante identificar o mais precisamente possível as razões destas dificuldades. Caso seja devido à má gestão, deve-se implementar conhecimentos de gerenciamento financeiro que o problema estará resolvido. Caso sejam problemas de mercado, deverão ser analisado através de um plano estratégico quais as medidas podem ser tomadas para pivotar ou aguardar a melhora deste mercado.

 E de que forma o empreendedor pode medir o impacto social do seu negócio?

A referência de impacto social de um empreendimento deve ser analisada pelos pontos de vista qualitativo e quantitativo. A iniciativa empreendedora deve agregar valores de melhoria para os níveis de qualidade de vida e para a geração de trabalho e renda. Nesse sentido, o impacto social poderá ser medido tanto pelo exemplo do modelo de negócio desenvolvido, como também pelo montante dos recursos financeiros gerados pela movimentação de toda uma cadeia produtiva. O empreendedor que desenvolve um negócio com planejamento e sustentabilidade estará exercendo, com integridade, a sua responsabilidade social, pois estará garantindo também a geração de outras oportunidades de trabalho diretos e indiretos.

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