Carlos Roberto Olsen: Cada cidade pode empreender

Carlos Roberto Olsen participou da equipe de consultores do Inova@SC, a qual esteve à frente da implementação da nova Política de Inovação e Tecnologia desenvolvida pelo Governo do Estado de Santa Catarina, incluindo a criação de 13 Centros de Inovação, estruturação dos principais clusters, desenvolvimento de programas de atração de empresas e operacionalização de acordos de cooperação internacionais.

É sócio-fundador da Global Business Innovation Intelligence, criada em 2007 para apoiar a internacionalização de empresas brasileiras, assessorar empresas europeias no processo de entrada no mercado brasileiro, além de consultorias no desenvolvimento de ecossistemas de inovação e projetos Smart City. Diretor da Universidade de Chicago Booth School of Business, atuou no campus de Barcelona e, posteriormente, Londres.

Olsen construiu sua experiência internacional tendo trabalhado e vivido em Londres por dois anos e em Barcelona por 10 anos. Possui um Executive MBA pela Universidade de Chicago Booth School of Business, e os títulos de Administração de Empresas (UDESC/ESAG) e Engenharia Civil (UFSC).

O que é uma cidade empreendedora?

Carlos Olsen – As cidades empreendedoras desenvolvem um ecossistema de inovação dinâmico com a participação efetiva da Tríplice Hélice, universidade-empresa-governo, onde a geração, atração e retenção de talentos são priorizados no desenvolvimento de um amplo trabalho de apoio ao espírito empreendedor. Igualmente a geração e gestão do conhecimento são determinantes para um ambiente favorável às novas ideias e a uma cultura empreendedora.

Quais são as cidades mais empreendedoras do Brasil?

Vários fatores devem ser analisados para a definição das cidades mais empreendedoras, fatores que são essenciais, como capital humano (talentos), cultura empreendedora, ambiente de inovação, acesso ao capital, infraestrutura de Centros de Inovação e Coworking, mercado consumidor e facilidade na abertura de empresas. Sem dúvida, cidades com ecossistemas de inovação mais desenvolvidos, como Florianópolis, estão entre as mais empreendedoras do país. O desenvolvimento da cultura empreendedora demanda um ambiente com vários fatores determinantes, sendo que várias cidades são consideradas mais empreendedoras por estarem fortalecidas em alguns destes fatores, como Vitória, Curitiba, Campinas, São José dos Campos, entre outras.

O que mais trava na ampliação do número dessas cidades?

A educação orientada para geração de talentos e o desenvolvimento de uma cultura empreendedora desde a educação primária e secundária são fundamentais para a disseminação de cidades empreendedoras. Outras barreiras que poderíamos considerar seriam a falta de um ambiente cooperativo e colaborativo entre as empresas, seja a nível local e ou a nível global, e a falta de disseminação e promoção de melhores práticas, onde possíveis empreendedores se sintam motivados e incentivados a empreender sua ideia, projeto ou negócio.

A qualidade de vida é maior nessas cidades?

A qualidade de vida envolve diversos outros aspectos como saúde, educação, segurança, mobilidade, entre outros, entretanto cidades empreendedoras com ecossistemas de inovação dinâmicos e atuantes tendem a desenvolver o conceito de Smart City, onde tecnologias e conceitos inovadores são disponibilizados para solução dos desafios das cidades, aumentando substancialmente a qualidade de vida.

Os salários e a renda familiar são mais altos nessas regiões?

Sem dúvida as cidades empreendedoras com alto grau de desenvolvimento tecnológico possuem uma geração de renda acima da média, porém a geração de renda poderá ser originada de diferentes ambientes econômicos, no entanto, a inovação é determinante para a sustentabilidade do processo de geração de renda. Neste sentido, programas de formação técnica não apenas colaboram para ampliação da cultura empreendedora como possibilitam um ambiente de maior geração de renda.

Que tipo de empresas são mais propensas a se desenvolver em cidades empreendedoras?

O espírito empreendedor pode ser revelado em todas as atividades econômicas e sociais, e por se tratar de um ambiente e de uma cultura que podem ser criados, desenvolvidos e ampliados, normalmente se fortalecem em clusters originários da história econômica da região ou de oportunidades claramente identificadas e coordenadas para geração de novos clusters. Cases de sucesso na região são também muito inspiradores e determinantes para a proliferação do espírito empreendedor, e consequentemente para atração de investidores, os quais propiciam a alavancagem do negócio.

Qual a importância da cidade empreendedora na formação de mão de obra e para evitar a saída de moradores locais?

Como comentado anteriormente, a geração, atração e retenção de talentos é determinante para o desenvolvimento de cultura empreendedora. No entanto, esta dinâmica reforça a necessidade de uma compreensão mais ampla do conceito de ecossistemas de inovação, com envolvimento de diversos agentes públicos, privados e instituições plenamente coordenados no desenvolvimento de uma visão conjunta e única de futuro. Conexões e acordos internacionais na transferência de tecnologias, no desenvolvimento de talentos e na ampliação de mercado geram um ambiente propício para atração e retenção de talentos contribuindo para o desenvolvimento de um forte ecossistema de inovação.

Até que ponto a burocracia, a legislação e a falta de crédito impedem um desenvolvimento de cidades empreendedoras?

O desenvolvimento de cidades empreendedoras, inovadoras ou inteligentes demanda uma sinergia entre diversos aspectos, e certamente a burocracia e a falta de acesso ao capital poderão provocar uma enorme barreira no sentido de dificultar e atrasar o processo dinâmico que estas cidades necessitam desenvolver. A burocracia cria um abismo entre a motivação e a inspiração de empreender e a efetivação deste sonho ou projeto, enquanto que a falta de acesso ao capital não só impede o início do negócio, mas também, e principalmente, impede a alavancagem do negócio, quando a rentabilidade e os resultados são mais expressivos.

Para se consolidar uma cidade é preciso a união de governantes municipais, universidade e empresas locais? Sem isso não será possível?

O conceito da Tríplice Hélice, universidade-empresa-governo, hoje já amplamente fortalecido com a inclusão da sociedade, é determinante no processo, porém cabe ressaltar a importância estratégica e fundamental da governança, a qual poderá ter diferentes estruturas de acordo com a característica e dinâmica do ecossistema de inovação local. A governança é fundamental para a construção de uma visão conjunta de futuro, o planejamento estratégico e a execução das atividades, assim como a continuidade no desenvolvimento das atividades plurianuais.

Quais os melhores exemplos internacionais de cidades empreendedoras?

Há muitos exemplos de cidades empreendedoras, porém é inquestionável o exemplo de Barcelona. A transformação de Barcelona nas últimas décadas, através de políticas públicas e projetos privados completamente coordenados, integrados e unificados em uma visão de futuro, sem dúvida é um case de sucesso e de referência mundial. Barcelona conquistou o grande desafio de unificar a cultura empreendedora, a geração de talento, tecnologia, inovação e renda, e a qualidade de vida, criando uma dinâmica sustentável que atrai cada vez mais talentos e investimentos locais e internacionais. Barcelona vem sendo um modelo de transferência de conhecimento para muitos ecossistemas de inovação pelo mundo.

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