Com a pandemia nasce um novo consumidor

O consultor em Gestão e Planejamento Ambiental, Leandro M. C. Guerise, acredita que pós-pandemia as empresas serão regidas pelo conceito ESG que alia atividade  empresarial com preocupações sociais e ambientais

Leandro  Guerise  avalia que o atual consumidor está mais consciente e acompanha a trajetória de diferentes empresas, de seus produtos e serviços. Avalia os programas sociais e ambientais das empresas e quer saber quem está sendo beneficiado com esses programas.

Nesta entrevista, o consultor aponta os rumos do conceito ESG (Environmental, Social and Corporate Governance). Traduzido do inglês “Governança Ambiental, Social e Corporativa”. Para ele, as empresas que aderirem a esse conceito vão estar mais fortalecidas no mercado nacional e internacional.

  • Qual a sua nota para as empresas em geral do Brasil em relação ao conceito ESG?

É difícil atribuir uma nota às empresas partindo do principio que o conceito ESG  ainda não está amplamente divulgado em todo o processo empresarial. Esta falta de conhecimento vai desde as grandes até as pequenas empresas.

Poucas empresas e, neste contexto, desde as maiores até as pequenas, atentaram-se para as projeções e facilidades que o conceito ESG pode proporcionar ao desempenho delas.

  • Por que esse conceito ESG não é mais propagado e seguido por um número maior de empresas brasileiras. É possível apontar bons exemplos de países?

Acredito que o conceito está sendo propagado entre as empresas de uma forma ainda tímida, retraída, pois se faz necessário avaliar o conceito de administração da maioria delas, que são administradas sem que se analisem as vantagens do conceito ESG. É preciso entender que o mercado mudou. O conceito de sustentabilidade é observado com muita atenção e está atrelado ao conceito social e consequentemente à governança corporativa. É fato que as empresas que adotam o conceito ESG são muito mais resistentes diante das exigências do mercado.

  • No pós-pandemia, quais as mudanças que serão incrementadas pelas empresas em relação ao meio ambiente que também estarão ligadas às questões sociais?

Na minha visão, as empresas do Pós-Pandemia vão buscar a sua readequação a um novo cenário empresarial, com adaptações e ajustes. Em suma uma reinvenção, pois é fato que o mercado consumidor mudou.

O mercado olha com critérios o futuro dessas empresas. É preciso tentar entender como essas empresas estarão daqui há cinco, dez anos, ou até daqui há seis meses. Será um exercício de muita cautela e expectativa. Quanto ao consumidor, a pandemia fez aflorar nestes o conceito social, como essas empresas se comportam com relação ao conceito social. Não falo de atitudes filantrópicas, mas como essas empresas estão promovendo o desenvolvimento de seus stakholders, tanto interna como externamente. Tudo se consolida com a governança corporativa.

  • Na sua percepção, cresce a consciência dos consumidores de comprar produtos só de empresas que seguem em linhas gerais o conceito ESG?

Sim, o consumidor já vinha mudando nas ultimas décadas. A pandemia apenas acelerou, turbinou esse processo. Este mesmo consumidor avalia os programas sociais e ambientais e a quem estes estão beneficiando?

  • Muitas empresas estampam em suas embalagens as palavras “Produto sustentável”. Até que ponto o consumidor pode acreditar nessa descrição?

O termo sustentável é muito perigoso. O consumidor hoje avalia se as empresas não estão promovendo uma maquiagem em seus produtos, o Greenwashing. Portanto as empresas, sejam elas pequenas, médias ou grandes devem respeitar o consumidor, e que hoje já são conhecidos como consumidor verde, que busca observar certificações, qualidade e tantos outros atributos nos produtos ou serviços a serem consumidos.

  • As empresas que seguem o conceito ESG têm mais chances de serem mais rentáveis, obterem mais lucro financeiro?

Com certeza. Quando uma empresa implanta um processo ESG, suas atividades e consequentemente conceitos com o mercado tornam-se mais plausíveis. Com o aumento de sua reputação, ela tem maiores vantagens competitivas e sua própria valoração empresarial.

  • Na busca de financiamentos, uma empresa que está enquadrada nas questões de meio ambiente e sociais tem mais chances de conseguir melhores taxas de juros?

As instituições financeiras estão muito atentas a esse processo. Há carteiras especiais com taxas mais acessíveis de crédito para empresas que têm preocupação ambiental e social e com a sua governança.

  • Cite exemplos de empresas brasileiras que seguem o conceito ESG e obtém bons resultados.

De acordo com o Valor Investe*, de 1 de dezembro de 2020, o indicador de sustentabilidade subiu mais e teve menor volatilidade do que o Ibovespa, principal índice de referência da bolsa, desde que foi criado, em 2005.

E assim temos exemplos de empresas como o Bradesco, Natura, Brasken, Petrobrás Cosan, Grupo Pão de Açúcar, Marfrig, BTG, Neoenergia, entre outras.

  • Um evento, que começou no Brasil e hoje está em diferentes países, o Rock in Rio, é um case mundial que segue o conceito ESG.

Sim, o Rock in Rio, empresa que atua no mundo todo, em cada edição do Rock in Rio, seja no Brasil, Portugal ou Estados Unidos, tem grande preocupação com meio ambiente, aspectos social e demonstração de uma forte governança, pois isso reflete principalmente no mercado europeu que atualmente é sua sede, devido à cobrança que esses países promovem em cima do conceito ESG, e consequentemente vem a favorecer suas ações junto ao seu público que está muito atento as suas ações.

FICHA

LEANDRO M. C. GUERISE

Idade:  61 anos

Cidade natal: Santos (SP)

Cargo atual: Consultor em Gestão e Planejamento Ambiental

Cargo anterior: Coordenador e professor do curso de Gestão e Planejamento Ambiental da Universidade Estácio de Sá

Facebook
Twitter
LinkedIn