Gilson Machado

Não é raro, em uma empresa, quatro gerações diferentes dividir o mesmo ambiente: baby boom, X, Y e Z. É óbvio que se deve buscar o melhor de cada uma, mas para isso é preciso conhecer as características de cada uma e a forma mais adequada para estimular os seus potenciais.

Na entrevista a seguir, conheça um pouco mais sobre o tema e confira as dicas de Gilson Machado, autor do livro Os pais da Geração Y , da all print editora. Nesse trabalho, Machado discorre sobre toda a jornada de vida de sua geração e seus contemporâneos, a chamada baby boom, verdadeiros precursores das modernas tecnologias existentes no mundo atual. Traça, ainda, um paralelo entre os comportamentos das pessoas nascidas nos anos 1950 e as gerações atuais, no campo da tecnologia, cultura e usos e costumes, além, é claro, da atuação no mundo corporativo.

O que o passado nos diz sobre o presente e um possível futuro?

Gilson Machado – Na visão dos profissionais do passado, a experiência adquirida aos longos dos anos é a melhor ferramenta para uma boa gestão dos negócios; se bem que esses profissionais precisam de atualizações constantes de novos métodos e novos procedimentos. Porém, a tendência natural em nosso país é que essa experiência seja ignorada; mas em momentos de crise econômica, como a atual que estamos vivendo, os cargos mais importantes das corporações deveriam ser ocupados por esses profissionais do passado – e pode-se dizer que não é hora e muito menos o momento de deixar as gestões nas mãos de profissionais das novas gerações, que até então somente conhecem a estabilidade proporcionada pelo Plano Real, e nessa crise as corporações podem ser aniquiladas ou sucateadas, a exemplo do que já tem ocorrido com centenas de empresas. Não é um exemplo específico para essa situação, mas seria como vários casos conhecidos de empresas familiares que os patriarcas ao deixarem os negócios nas mãos dos filhos, as empresas foram à bancarrota.

No atual mundo corporativo, a estabilidade no emprego já não é como no passado, pois deixou de existir, o que chamávamos na época de “vestir a camisa da empresa”. Hoje não existe fidelidade do empregado perante o empregador e, de certa forma, o empregador não está mais preocupado em manter o seu quadro de colaboradores estável. No momento, falar do futuro, desconsiderando o atual momento presente, seria uma irresponsabilidade. Se não houver uma normalização na gestão política e a consequente reação econômica aliada a uma boa gestão privada no mundo corporativo, inclusive revendo e limitando a importância creditada à geração Y, as corporações sofrerão serias consequências num futuro não muito distante, inclusive, com consideráveis probabilidades de não conseguirem sua sobrevivência.

Quem são as gerações X, y e z?

Machado – A geração X é aquela que nasceu após os anos 1960. Alguns nascidos já no final desta década e na próxima de 1970 são filhos da Geração Baby Boom, que é a geração nascida no final e no pós Segunda Guerra Mundial e que participaram dos tempos da corrida espacial entre USA e URSS e vivenciaram a guerra fria entre as duas potências. Todo o processo de desenvolvimento tecnológico foi impulsionado pela Geração Baby Boom, quando surgiram os satélites de comunicações, foguetes com tecnologia de precisão e mísseis de logo alcance, bem como a evolução das máquinas de uso militares e também civis, tais como: aviões, veículos, computado res, e uma parafernália de equipamentos tecnológicos que a corrida espacial exigia. O que o homem se desenvolveu tecnologicamente em poucas décadas não havia conseguido em milhares de anos sobre a face do planeta.

A faixa etária da geração X oscila entre 45 a 55 anos, e sua maioria encontra-se na ativa no mundo corporativo e tem que garantir o seu espaço dentre os integrantes da geração Y que atualmente ocupam os cargos mais estratégicos nas empresas. Registre-se que a geração X é o elo entre as gerações Baby Boom e Y. A geração Y é o designativo sociológico dos nascidos entre 1980 e 1990, também conhecida como a geração do milênio e da internet. Possuem uma facilidade incrível de navegarem nas nuvens cibernéticas com seus computadores pessoais, smartphones, tabletes e notebooks. Estão muito cotados no mercado de trabalho. Seus integrantes estão na faixa dos 25 aos 35 anos. São os maiores beneficiários dos avanços tecnológicos desencadeados pela geração Baby Boom e também pela geração X.

A geração Y atua no mundo corporativo com uma velocidade incrível no desenvolvimento de projetos, especialmente os de alta tecnologia; adora desafios e trata de suas tarefas como projetos a serem cumpridos e, um espaço de dois anos já é considerado, por essa geração, como um tempo razoável para se mudar de empresa em busca de novos desafios. O momento é a hora e a vez dessa geração – já superaram de longe os profissionais da antiga geração Baby Boom e até os da geração X. Convém evidenciar que representa um novo conceito em relações humanas nas empresas, e trata seus pares e superiores sem a menor reverência, pois vivem em um mundo virtual, onde a tecnologia e seus benefícios substituem os demorados, lentos e arcaicos sistemas e metodologias tradicionais, incluindo a burocracia inerentes ao respeito hierárquico.

Os elementos da geração Z são os nascidos após os anos 1990. Sua faixa etária está em torno de 25 anos no máximo. São os futuros substitutos da geração Y. Possuem uma facilidade incrível em usar novas tecnologias; já nasceram com esse potencial, como se estivesse em seus genes. É uma geração que está fadada, como outras já estiveram, como a geração do futuro da nação, com um potencial a se desenvolver em tecnologia que não há limites. As nações em duas ou três décadas estarão sob o controle político e socioeconômico dessa geração.

Quais os pontos positivos de cada uma dessas gerações?

Machado – O principal ponto positivo da geração X é o fato de surgir numa época de prosperidade em desenvolvimento tecnológico, quando a geração Baby Boom promovia uma transição de metodologia administrativa nas corporações sem grandes atropelos. Boa parte da geração X esteve envolvida, juntamente com a Baby Boom, no processo em que a tecnologia começou a sair do campo da corrida espacial e da guerra fria e ser usada nas empresas privadas e, com o tempo, começou o processo de evolução em escala geométrica.

A geração Y tem como pontos positivos seu imediatismo em soluções tecnológicas mantendo o mundo corporativo em constante aprimoramento e mudanças de conceitos tradicionais há décadas. A velocidade de suas ações, que não convive sem o mundo virtual, tem sido o seu ponto máximo às empresas, especialmente àquelas de alta tecnologia. Com a mesma velocidade e impetuosidade nos seus games cibernéticos, levam para o mundo corporativo essa destreza e aptidão. Com o advento dessa geração no mundo corporativo, as empresas nunca mais foram as mesmas, especialmente no mundo da burocracia, excesso de papéis e reuniões intermináveis; quase tudo é resolvido na velocidade da internet.

A geração Z, conforme já dito, tem a internet em seus genes, pois já nasceu sabendo lidar com o mundo virtual. Sua grande vantagem é que está na escala sucessória da geração Y. Possui um discernimento de relações humanas nas empresas com resquícios do passado de seus pais e avós, mas com uma dosagem de mudanças de comportamento da geração Y, que naturalmente serão seus antecessores. Certamente não cometerá os mesmos erros que a geração Y vier a cometer.

Quais os pontos negativos de cada uma dessas gerações?

Machado – Quanto à geração X, os pontos negativos foram e têm sito o fato de estar entre duas grandes gerações, ou seja, a geração Baby Boom como antecessores e a geração Y como seus sucessores já consumados ou em consumação. Sem dúvida passou e ainda passa por suas mãos grandes dificuldades e fica um tanto ofuscada pela competência administrativa dos Baby Boom adquirida com a prática e experiência nas empresas e a ameaça das inovações da geração Y.

Quanto à geração Y, existe uma dosagem de excentricidade e criatividade em seus atos e ações, mas nem tudo nas empresas é produzir novas tecnologias como empresa do ramo e nem o uso das mesmas em empresas que são simplesmente usuárias. Como exemplo, cito o atual momento vivido pela economia nacional e a crise política. Os profissionais da geração Y não veem soluções para suas empresas. Na realidade, as empresas estão em fase de desligar computadores, engavetar projetos de novos produtos tecnológicos e tentam desesperadamente sua sobrevivência. Nessa situação, a geração Y é uma mera coadjuvante dos problemas, pois está à mercê de perder seus empregos, pois nessa situação não tem nada a adicionar ou sugerir. O motivo é simples, tecnologia não é experiência administrativa, e somente profissionais com essa experiência, certamente os Baby Boom possuem esse requisito que seria útil a tirar as corporações do caminho da bancarrota e sobreviver à crise.

Sobre a geração Z, certamente seus pontos negativos são exatamente seus modus vivendi, pois sua experiência está intrínseca ao mundo virtual e com pouca base administrativa, a exemplo de que os Baby Boom tinham quando jovens. Se o mundo virtual tem suas respostas tudo bem, se não as tem nada podem fazer em situações de crises.

Como lidar com conflitos entre essas gerações no ambiente de trabalho?

Machado – Sabe-se que a competitividade no ambiente de trabalho é salutar às empresas. Prova disso são os concursos de vendas que definem um objetivo aos homens de vendas e aqueles que obtiverem melhores desempenhos são premiados, e as vendas certamente aumentam. O pessoal de finanças cobra do pessoal de vendas melhores margens de lucros, com concessões de menores descontos; já o pessoal de vendas cobra do pessoal de produção menores custos para lhes darem maiores flexibilidades no mark-up. Em empresas de grande porte existem profissionais das três gerações e ainda alguns da geração Baby Boom. Manter a competitividade entre as partes depende dos altos executivos de cada área, que devem manter debates para soluções de problemas e saber inibir as politicagens das chamadas panelinhas.

Hoje, mais do que nunca, os gestores precisam conhecer o comportamento social dessas novas gerações, com o intuito de saber instigar o profissional no momento certo e freá-lo quando preciso. Tem que promover o ímpeto criativo de cada um de sua equipe e a somar esforços em benefício de todos. Não é um trabalho fácil aos gestores, pois dentre suas equipes existem perfis variados de comportamentos e não seria de se estranhar que pode ter algum gênio em ciências exatas em seu meio que poderia, numa ação de hacker, até entrar no sistema do Pentágono; porém, não entende nada de sociologia, nem de relações humanas no trabalho e, muito menos de administração empresarial.

Quais são os caminhos para tirar o melhor de cada geração no meio corporativo?

Machado – Metodologias antigas como avaliações e treinamentos que se fazia antigamente não funcionariam com essas novas gerações. Planos de carreira muito menos, pois não estão interessadas e não faz parte de seus planos ficarem anos na empresa, pois dois anos, sob sua ótica, já seria um bom tempo. Resta aos diretores ou gestores das corporações esquecerem os velhos tempos e passarem a agir com novas metodologias que possam comunicar quais são as metas  da organização e a necessária integração dos componentes das equipes.  Algumas dicas:

  • Comunique-se com seus subordinados por intermédio de e-mails quando o assunto for de importância e requerer uma ação imediata. Use frases curtas e objetivas. Certamente lerão e entenderão. Se estiver em alguma rede social, fale com o subordinado na caixa de texto, melhor atenção não se conseguiria.
  • Solicite que seus trabalhos e metas a cumprirem sejam retratadas em planilhas, pois o mundo virtual é rico em planilhas. Cobre resultados em planilhas também, pois poder-se-á avaliar mais objetivamente seus desempenhos.
  • Faça reuniões esporádicas, em momentos realmente importantes. Use o critério de fomentar a criatividade e aplique a técnica de brainstorm. Quanto mais besteiras disserem maiores chances de se achar soluções.
  • Os gestores devem se habituar a ouvirem o que as novas gerações têm a dizer sobre a corporação, seus produtos, e sua administração, reconhecendo o seu aprendizado escolar nas faculdades por onde passaram e, por consequência, a opinião de seus professores sobre os respectivos temas. Assim estaria fazendo uma ponte de comunicação entre a empresa, o colaborador, sua escola e seus mestres.

Que dicas de Norberto Chadad , Ceo da thomas Case & associados, são úteis para melhor compreendermos e nos entendermos com pessoas de diferentes gerações no mundo dos negócios?

Machado – Diálogo e comunicação: devemos conversar, trocar ideias e ouvir muito, pois todas as gerações têm algo para nos transmitir/ ensinar. É muito importante conseguir um diálogo franco, transparente, uma vez que é esta atitude que nos leva a transitar livremente pelas pessoas das mais diferentes gerações. Devemos conquistar a confiança de todos com quem convivemos no mundo dos negócios.

Pensando nesses indivíduos como consumidores, qual melhor forma de incentivá-los a efetuar uma compra? É necessária uma comunicação diferenciada para cada geração ou uma mensagem única pode ser efetiva?

Machado – Estamos falando de consumidores da primeira infância até aos 55 anos aproximados. Claro que como toda campanha publicitária, a comunicação tem que ter um direcionamento ao seu público-alvo. O que é desejo de consumo a um jovem de 18 anos é diferente de um adulto com 40 anos ou mais. O que se poderia afirmar é que nessas gerações a tecnologia é presente com tal importância como é, aos mais velhos, o oxigênio que respiram. É um público consumidor em potencial de novas tecnologias que se renovam quase que anualmente, e essas gerações querem sempre o de mais novo e moderno que surge no mercado, seja na área de veículos, computação, de hardware, de softwares, de smartphones, de Ipods, de tabletes, de games e dos em moda, aplicativos.

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